
Foto: Bernadett Szabo
Em um poderoso ato de resistência e visibilidade, dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas da capital húngara neste sábado (28) para celebrar a 30ª edição da Marcha do Orgulho LGBT de Budapeste. O evento, considerado ilegal pelo governo de Viktor Orbán, reuniu um público recorde e se consolidou como a maior manifestação pró-direitos LGBTQIA+ já realizada no país.
A marcha ocorreu mesmo sob a vigência de uma nova lei aprovada em março deste ano, que proíbe eventos LGBT em espaços públicos, com base no argumento de “proteção da infância”. A legislação impõe multas de até 500 euros aos participantes e penas de prisão de até um ano aos organizadores. Apesar da repressão legal, os organizadores contaram com o apoio da Prefeitura de Budapeste, que classificou o ato como um evento municipal, driblando a proibição nacional.
Segundo estimativas da imprensa europeia, o número de participantes ultrapassou os 100 mil manifestantes, com algumas fontes indicando presença de até 200 mil pessoas, tornando-se um marco histórico em meio à crescente repressão aos direitos civis na Hungria.
“Estou muito orgulhoso de ser gay, e muito assustado que o governo quer nos apagar. Mas ver essa multidão hoje me dá vontade de chorar. Estamos vivos e unidos”, disse um manifestante de 66 anos, que preferiu não se identificar.
Apoio internacional
O ato contou com a presença de mais de 70 deputados do Parlamento Europeu, de diferentes bancadas, que marcharam em solidariedade à comunidade LGBTQIA+ húngara. Cartazes com mensagens como “O amor não pode ser censurado” e “Orgulho é resistência” foram vistos ao longo do trajeto, acompanhado por fortes medidas de segurança e sob observação de organizações internacionais de direitos humanos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se manifestou em apoio ao evento e criticou a legislação repressiva aprovada pelo governo Orbán. “A diversidade é parte fundamental dos valores da União Europeia. Ninguém deve ser criminalizado por ser quem é”, afirmou em publicação nas redes sociais.
Tensão e resistência
Apesar da ameaça de multas e repressão, a marcha ocorreu sem incidentes graves. Pequenos grupos de contramanifestantes de extrema-direita se posicionaram em pontos isolados, mas foram contidos pela polícia local. O trajeto original precisou ser alterado por medidas de segurança, mas a manifestação seguiu até a região central da cidade com clima de festa e protesto.
Símbolo de resistência
A realização da marcha em 2025, mesmo diante da repressão legal, foi considerada um divisor de águas por ativistas e observadores internacionais. “Este foi o maior ato de desobediência civil desde o fim do regime soviético na Hungria”, avaliou uma representante da Human Rights Watch.
Para muitos analistas, a marcha simboliza não apenas a luta por direitos LGBTQIA+, mas também a resistência à escalada autoritária no país. “Se Orbán queria silenciar essas vozes, o que conseguiu foi amplificá-las para o mundo todo”, escreveu o colunista político István Kovács em jornal local.
Contexto: a nova lei húngara contra a “propaganda LGBT”
A legislação aprovada pelo Parlamento húngaro em março de 2025 ampliou restrições a conteúdos e eventos que “promovam a homossexualidade ou mudança de gênero” para menores de 18 anos — inspirada em medidas semelhantes adotadas anteriormente na Rússia. Organizações de direitos humanos e entidades da ONU consideram a norma uma grave violação da liberdade de expressão e dos direitos civis.
A Marcha do Orgulho LGBT de Budapeste em 2025 entrou para a história como um símbolo global de resistência. Apesar do autoritarismo crescente, da criminalização e do medo, a capital húngara se pintou de arco-íris e ecoou uma mensagem clara: o amor é mais forte do que a repressão.