Em 1991 o passado rural do Brasil já tinha ficado para trás. Dos quase 147 milhões de brasileiros recenseados pelo IBGE, mais de 75%, se aglomerava nas cidades. Fernando Collor de Mello presidia o país, sendo o primeiro presidente eleito pelo voto desde o golpe militar de 1964. Mas, embora a ditadura tivesse acabado a poucos anos, a população brasileira convivia com a recessão das décadas de 1980 e 90.
A crise do petróleo, as imposições do FMI para a economia e, por fim, a abertura econômica da Era Collor ofuscaram a festa da redemocratização.
Esse era o Brasil que entrava na década de 1990. E o quadro não era bom para a classe trabalhadora.
No plano internacional, a polarização da Guerra Fria chegava ao fim e outro tema passou para o centro das análises de sociólogos e economistas: o Consenso de Washington, um ideário que sintetizava os novos tempos ao pregar disciplina fiscal, taxas de juros determinadas pelo mercado, competitividade, livre comércio, privatizações, desregulamentação entre outros.
No artigo “Um acordo melhor para os trabalhadores do mundo”, o professor de economia na Universidade de Harvard, Dani Rodrik, afirma que desde 1979 “os ganhos para aqueles com menos educação frequentemente estagnaram, apesar dos ganhos da produtividade geral do trabalho. E que “A insegurança do mercado de trabalho e a desigualdade aumentaram, e muitas comunidades foram deixadas para trás, quando as fábricas fecharam e os empregos migraram para outro lugar”.
A Força Sindical surge, no dia 8 de março de 1991, neste contexto de restituição da democracia por um lado, e acirramento do neoliberalismo por outro. Surge na esteira da liberdade de os trabalhadores se organizarem por direitos, e da necessidade de uma representação sindical mais ampla e menos segmentada.
Em uma situação ainda tensionada pelas sequelas da ditadura e pelo fim da Guerra Fria, nos primeiros anos a central sofreu com a forte disputa política no movimento social. E assumiu uma atitude de resistência diante da crise de desemprego e alta inflação, sobretudo até o advento do Plano Real, em 1994.
Pioneira na luta das mulheres e pelo meio ambiente, a Força Sindical atravessou a década de 1990 buscando negociações que cada vez mais pavimentassem a ascensão social do trabalhador, como:
Pagamento e correção do FGTS, conquista de aumento para os aposentados, acordo de aumento do salário-mínimo, criação do Centro de Solidariedade ao Trabalhador, derrubada no Congresso da nefasta Emenda 3, valorização do servidor público, luta contra a desindustrialização, correção da tabela do imposto de renda, Dia do Trabalhador que reúne milhões de pessoas, vitoriosas campanhas salariais, além de forte protagonismo na sociedade.
Ao chegar no século 21 não apenas a central contava com maior amadurecimento político, como o ambiente de diálogo intersindical mostrou-se mais forte. Ideias sectárias, típicas do mundo bipolar, ficavam para trás. Não que seus grupos tenham deixado de existir a partir do ano 2000, mas a urgência de superar a crise econômica tornaram o diálogo e a amplitude ferramentas fundamentais.
As vitoriosas Marcha à Brasília, iniciadas pela Força e abraçadas pelo conjunto das centrais sindicais brasileiras, deram o tom do sindicalismo na primeira década do século, em um intenso processo de manifestações. A conquista da valorização do salário-mínimo e a legalização das centrais sindicais foram desdobramentos positivos destas ações.
A partir de setembro de 2008, com a crise que se espalhou da Bolsa de NY para o mundo, a Força Sindical, já em um contexto de maior articulação intersindical, organizou uma série de manifestações que visavam manter os empregos e o rendimento dos trabalhadores.
Resultaram dessa movimentação a 2ª Conclat, em junho de 2010, e a Agenda da Classe Trabalhadora, criada pelas centrais Força Sindical, CUT, CTB, Nova Central e CGTB. Um documento que guiou a ação sindical no primeiro governo de Dilma Rousseff, entre 2011 e 2015.
A crise, entretanto, ganhou força e reverberou tal qual um maremoto, produzindo consequências não só econômicas, mas também sociais e políticas.
Inaugurou-se, então, um tempo de maior união e no bojo do movimento social a expressão “unidade de ação”, tornou-se recorrente. Recorrente pela necessidade de unir forças para enfrentar os descalabros da reforma trabalhista de 2017, que puxou o tapete dos sindicatos prejudicando toda a classe trabalhadora. Pela necessidade de combater as sucessivas medidas autoritárias e que visavam o empobrecimento do povo, implementadas pelo governo Bolsonaro. E, enfim, pela necessidade de lidar com a terrível pandemia do coronavírus, negligenciada pelo governo, que escancarou as carências e a desigualdade que assolam o Brasil desde sempre.
A unidade de ação das centrais sindicais, com forte participação da Força Sindical, foi essencial para que o estrago causado pela sequência de crises fosse amenizado. Destaca-se neste período, a luta pelo Auxílio Emergencial. Quando o então ministro da economia, Paulo Guedes anunciou que pagaria R$ 200,00 mensais a “trabalhadores informais” e “desassistidos”, prejudicados pela pandemia do coronavírus, as centrais sindicais reagiram, propondo ao então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, um seguro-renda no valor de R$ 500,00 a ser pago aos informais, mas também aos que já recebem o Bolsa Família. Foi somente a partir desta proposta e de dados fornecidos pelo Dieese, que o governo encaminhou ao Congresso uma MP instituindo um auxílio emergencial de 600 reais a desempregados, microempreendedores individuais (MEI); trabalhadores Informais, ou aqueles que pertencem à famílias cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$ 3.135,00).
Em abril de 2022, a realização da 3ª Conclat coroou a unidade de ação ao produzir um novo documento, agora com nove centrais sindicais, que balizará nossas ações neste período de reconstrução iniciada com a posse presidencial de Luís Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023.
Durante um dos períodos mais críticos da história do Brasil Republicano, desde a queda do governo Dilma através de um impeachment duvidoso, até o fim do governo Bolsonaro, os sindicalistas, e em especial as centrais sindicais, trabalharam muito no combate ao golpismo, para garantir a democracia e, sobretudo, pelo desenvolvimento do país com base nos interesses do povo. No último ano, eleger um governo comprometido com a democracia e com os trabalhadores era mais que uma prioridade, uma urgência. E a Força Sindical participou ativamente desta luta.
Nos 32 anos da central, 85% dos mais quase 215 milhões de brasileiros vive em áreas urbanas. Lula é o presidente, após se eleger com base em uma frente ampla pluripartidária e colocando um fim em um período de perdas e obscurantismo. Apesar de tudo a Força Sindical se mantém firme e abrindo novos horizontes no Brasil de 2023. O quadro parece promissor para a classe trabalhadora. Cabe a nós tornar essa promessa uma realidade melhor.
Confira imagens da Força Sindical ao longo dos anos
Miguel Torres, presidente da Força Sindical