Dados divulgados nesta quinta-feira (29) pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de doenças, na sigla em inglês) mostram que foram registradas 2,8 milhões de mortes no ano passado, quase 70 mil a mais do que no ano anterior.
É o maior número de mortes em um ano desde o início da contagem pelo governo, há mais de um século.
Segundo o CDC, em 2017, a expectativa de vida ao nascer era de 78,6 anos —no ano anterior, foi 78,7. São três anos e meio a menos do que no Canadá, do outro lado da fronteira.
No caso das mulheres, a expectativa de 81,1 anos se manteve estável de 2016 para 2017, mas no caso dos homens, caiu de 76,2 para 76,1.
Por décadas, a expectativa de vida nos EUA foi crescente. Agora, a tendência é a contrária: caiu em 2015, permaneceu estável em 2016 e caiu novamente no ano passado.
É o período mais longo de expectativa de vida em declínio desde o fim dos anos 1910, quando a Primeira Guerra Mundial e a pior pandemia de gripe da história moderna mataram cerca de 1 milhão de americanos. Em 1918, a expectativa de vida era de 39 anos.
Os números refletem, em parte, o aumento e o envelhecimento da população. Mas foram as mortes entre pessoas mais jovens, particularmente de meia idade, que tiveram mais impacto no cálculo da expectativa de vida, afirmam especialistas.
“Essas estatísticas preocupantes são um alerta de que estamos perdendo americanos demais, muito cedo e com muita frequência, para condições que são preveníveis”, afirmou o diretor do CDC, Robert Redfield, em um comunicado.
Das dez principais causas de morte no país, apenas a taxa de óbitos por câncer caiu em 2017. Houve aumento em sete outras —suicídios, AVC, diabetes, doença de Alzheimer, gripe e pneumonia, doenças respiratórias crônicas e lesões não intencionais.
Paramédicos em parque onde dezenas de pessoas sofreram overdose em New Haven – Arnold Gold – 15.ago.18/New Haven Register/Associated Press
O número de suicídios no ano passado —mais de 47 mil, ou 14 para cada 100 mil habitantes — foi o maior dos últimos 50 anos. Em 2016, foram menos de 45 mil.
Mais de um terço das mortes na categoria “lesões não intencionais” foram por overdose acidental pelo uso de drogas.
Em meio à pior epidemia desse problema na história dos EUA, que piorou nos últimos quatro anos, as mortes por overdose continuaram crescendo, ultrapassando 70 mil —10% mais do que no ano anterior, um aumento menor do que os 21% de 2015 para 2016.
O crescimento foi maior entre as mortes por overdose de opiáceos, especialmente os sintéticos como o fentanil, dezenas de vezes mais potente que a heroína —um erro de dose pode ser fatal. Cerca de 28 mil pessoas morreram por essa causa, 45% a mais do que em 2016.
No entanto, o mesmo parâmetro havia duplicado de 2015 para 2016, o que mostra que o crescimento já ocorre em um ritmo mais lento. Os dados preliminares para 2018 inclusive sugerem que a crise alcançou seu ponto máximo no início do ano, mas o CDC evita cravar essa informação.
Para o especialista em dependência de drogas Harshal Kirane, é alentador ver que a trajetória está mudando. “Mas 70 mil mortos ainda é um número difícil de digerir”, diz.
A epidemia de overdose não afeta todo o país. Estados do centro, do Texas até a Dakota do Sul, estão relativamente a salvo.
A crise é aguda no nordeste americano, onde as mortes pelo abuso de drogas proporcionam mais de um quarto das doações de órgãos, rivalizando com acidentes de trânsito.
Também é forte nos estados do antigo cinturão industrial (Ohio e Pensilvânia) e especialmente na Virgínia Ocidental, onde ocorrem 58 mortes para cada 100 mil pessoas —a média nacional é 22.
As mortes por doenças cardíacas, as que mais matam nos EUA, pararam de cair, mantendo-se estáveis.
Em anos anteriores, o declínio desse causador foi suficiente para compensar o aumento em outros tipos de morte, mas não mais.
Em outra categoria, a de mortes por gripe e pneumonia, o número cresceu 6% de um ano para o outro. A temporada de gripe de 2017 a 2018 foi uma das piores em mais de uma década, e algumas das mortes registradas no início do outono/inverno entraram nessa contagem.
Autoridades do CDC não especularam sobre o que está por trás do declínio da expectativa de vida, mas especialistas como William Dietz, que trabalha com medicina preventiva na Universidade George Washington, acreditam que há uma falta de esperança atualmente por motivos como dificuldades financeiras e uma maior taxa de desigualdade de renda.
“Eu realmente acredito que as pessoas estão cada vez menos esperançosas, e que isso leva a um aumento do uso de drogas e potencialmente ao suicídio”, afirmou.
Fonte: Folha SP