PUBLICADO EM 13 de dez de 2019

Conselho Nacional da CTB destaca papel da unidade na resistência já ao retrocesso

Teve início nesta sexta (13), nas dependências da Contag em Brasília, o 3° Conselho Nacional da CTB. A reunião vai debater a conjuntura e deliberar sobre o plano de ação e lutas para 2020.

O povo brasileiro se defronta com desafios inéditos, declarou o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo, na abertura do 3° Conselho Nacional da Central, em Brasília.

Adilson Araujo, presidente da CTB/Foto: Cesar Ramos/Contag

Na opinião de Araújo “o momento requer a mais ampla e sólida unidade da classe trabalhadora, das centrais sindicais, dos movimentos sociais e das forças democráticas e progressistas para a luta contra o retrocesso e em defesa da democracia, da soberania nacional, dos direitos e da valorização do trabalho”.

Anfitrião do encontro, que ocorre nas dependências da Contag, o presidente da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Aristides Veras dos Santos, também enalteceu a unidade, lembrando que a Contag tem uma forte tradição de convivência unitária das diferentes tendências ideológicas e políticas. “Acima de tudo está a unidade, é ela que reforça nossa luta”, salientou.

Dirigentes da UGT, CSB e CGTB prestigiaram a reunião, que prossegue com o debate sobre a conjuntura, reforma sindical, programa verde e amarelo e os atuais desafios do movimento. Será encerrada amanhã com a aprovação do Plano de Ação e de Lutas.

Confira aqui o documento que estará em pauta:

Realizamos em agosto de 2017 o 4º Congresso da CTB numa conjuntura adversa para a classe trabalhadora brasileira. A reforma trabalhista do governo Temer, oriundo do golpe de Estado de 2016, além de reduzir direitos e flexibilizar a legislação trabalhista, extinguiu a Contribuição Sindical compulsória, também conhecida como Imposto Sindical, com o propósito de estrangular financeiramente o movimento sindical brasileiro.

Em consequência da redução substancial da receita, a CTB e outras centrais sindicais tiveram de promover mudanças radicais e dolorosas em suas estruturas, reduzindo substancialmente o quadro de pessoal e os investimentos na luta sindical. A eleição de Jair Bolsonaro, em outubro de 2018, foi o coroamento do golpe, cuja essência é uma guerra sem fronteiras do Capital contra o Trabalho.

O governo da extrema direita revelou-se um inimigo mortal da classe trabalhadora. Autoritário e intolerante, radicalizou a agenda de restauração neoliberal inaugurada por Michel Temer. Sob a máxima reacionária de que “o trabalhador terá de escolher entre direitos ou empregos”, editou várias Medidas Provisórias com o objetivo de destruir direitos e fragilizar ainda mais os sindicatos (MPs 871, 873, 881 e 905).

O Palácio do Planalto criou um Grupo de Altos Estudos do Trabalho – GAET, coordenado pelo relator da reforma trabalhista de Temer, Rogério Marinho, e integrado por notórios reacionários, como o jurista Ives Gandra da Silva Martins. O objetivo é prosseguir na obra iniciada por Temer, subtrair outros direitos previstos na CLT e desfigurar o Artigo 8º da Constituição de modo a extinguir a Unicidade Sindical e permitir a criação de sindicatos por empresas, impondo a divisão e pulverização da organização sindical.

Bolsonaro investe diariamente contra os direitos das mulheres, dos negros, dos índios, despreza o meio ambiente, estimula a violência policial, no campo e nas periferias das metrópoles, e os crimes ambientais. Manteve e provavelmente ainda mantém relações obscuras e perigosas com a milícia carioca, inclusive com os assassinos da vereadora Marielle Franco.

O presidente defende a tortura, abomina as liberdades democráticas e procura abrir caminho para o retorno de uma ditadura militar no país, ao mesmo tempo em que não adota nenhuma iniciativa efetiva para amenizar o desemprego em massa e a grave crise econômica e social que atinge o país. É uma ameaça neofascista que não pode ser negligenciada pelas forças democráticas e progressistas.

É frente a esta conjuntura política hostil aos interesses do povo e da nação brasileira que o Conselho Nacional da CTB conclama a classe trabalhadora à resistência e à luta.

Defesa da democracia: frear o impulso autoritário do governo da extrema direita merece prioridade. A CTB deve tomar iniciativas próprias e participar das atividades unitárias com as demais centrais, os movimentos sociais e as forças democráticas e progressistas em defesa das liberdades democráticas, contra a criminalização das lutas sociais, a repressão e a violência policial no campo e nas cidades; contra a misoginia, a homofobia, o racismo e quaisquer formas de discriminação;

Defesa da soberania nacional: por uma política externa soberana, contra as privatizações e a desnacionalização da economia, pelo fortalecimento dos bancos e empresas públicas (BB, CEF, Eletrobras, Petrobras, Correios, Casa da Moeda, as estatais encarregadas da água e saneamento e outras) e a taxação das remessas de lucros e dividendos ao exterior;

Defesa do Artigo 8º e da Unicidade Sindical: ampliar a mobilização contra as propostas de reforma sindical que visam a reforma do Artigo 8º da Constituição para acabar com a Unicidade Sindical e a imposição do pluralismo, que não tem correspondência com a tradição do sindicalismo brasileiro e vai provocar divisão nas bases e a pulverização das organizações sindicais;

Pela valorização do trabalho: políticas emergenciais para geração de novos postos de trabalho e redução da taxa de desemprego; para os desempregados: passe livre nos transportes, isenção do IPTU, gratuidade na conta de água, luz e gás de cozinha, aluguel social e cesta básica; defesa dos direitos; revogação da reforma trabalhista e da lei que permite a terceirização das atividades-fim; política de valorização do Salário Mínimo; correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física; redução constitucional da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem prejuízo para os salários;

Contra a precarização: regulamentar e garantir direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais aos trabalhadores emm plataformas digitais (aplicativos);

Juventude: estimular a incorporação da juventude no movimento sindical classista com a criação da CTB Jovem;

Pelo desenvolvimento nacional: mudança da política econômica, revogação da política fiscal com o fim do congelamento dos gastos públicos e ampliação dos investimentos em saúde, educação, ciência, Pesquisa e Desenvolvimento, habitação popular e infraestrutura; realização de uma reforma tributária progressiva, com redução dos impostos indiretos, taxação dos lucros e dividendos e das grandes fortunas e aumento do imposto sobre heranças e o capital financeiro;

Defesa do projeto de desenvolvimento rural sustentável e solidário: pautado pelo fortalecimento da agricultura familiar e a efetivação da reforma agrária; fortalecer o Pronaf com a ampliação das linhas de crédito; garantir investimentos para o Programa Minha Casa Minha Viva Rural; contribuir na organização dos festivais estaduais e nacional da juventude, Grito da Terra e Marcha das Margaridas;

Sindicalização: realizar uma ampla campanha nacional de sindicalização. Ampliar o número de associados. Fortalecer a organização nos locais de trabalho. Trabalhar para garantir maior efetividade e maior presença no chão das fábricas e locais de trabalho;

Conscientização e politização: promover uma política de esclarecimento e conscientização nas bases. Potencializar ações que elevem a confiança e credibilidade das entidades sindicais. Fortalecer a trabalho de base, politizando a classe e demonstrando a importância da participação política para tomada de decisões que possibilite a melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Conscientizar as bases da importância da sustentação material das entidades de classe;

Defesa dos serviços públicos: lutar contra o desmantelamento dos serviços públicos e a ofensiva do governo contra os trabalhadores e trabalhadoras do setor; contra o fim dos concursos públicos e a redução dos direitos trabalhistas e previdenciários do funcionalismo; pela valorização dos serviços e dos servidores públicos;

Reforçar a FSM: no plano das relações externas é necessário reforçar o papel da FSM, apoiar a integração política e econômica dos países latino-americanos e caribenhos; lutar contra os golpes e o retrocesso geopolítico na região; defender uma nova ordem mundial sem hegemonismos e fundada no respeito à soberania das nações e na solução pacífica dos conflitos internacionais

Administração Financeira e Gestão Sindical: planejar formas alternativas de aumento de receitas, com parcerias, convênios e outros serviços que se relacionam com as necessidades e interesses dos trabalhadores;

Receitas: estudar a possibilidade de desenvolver a gestão de novos empreendimentos geradores de receitas para os sindicatos, em atividades compatíveis com a missão sindical, recorrendo a práticas profissionais para evitar perda de energia e tempo nessa tarefa;

Readequar as despesas: buscar um equilíbrio financeiro que não prejudique a atividade fim do sindicato que é a defesa do salário, do emprego e dos direitos dos trabalhadores;

Assegurar a contribuição regular dos sindicatos com a CTB: acabar com a inadimplência, principalmente com a autorização do débito autorizado mensal para a Central;

Ampliar a filiação de novas entidades sindicais à CTB: contribuir para a regularização das contribuições para a Central, garantir o empenho das CTBs estaduais para aumentar as contribuições com débito autorizado, com a garantia de retorno de 50% desses valores ao Estado;

Aperfeiçoar a gestão: da Central, suas instâncias e sindicatos filiados, primando pela transparência e democracia;

Fazer previsão orçamentária: prestar contas regularmente. Otimizar cada vez mais os recursos para potencializar a luta e aumentar o investimento político na ação sindical;

Formação: aprofundar o trabalho de base, debater a representação sindical, a organização no local de trabalho, o papel da CIPAS, a formação, qualificação e requalificação profissional, bem como sobre os impactos sociais das mudanças tecnológicas, que impõem novas dinâmicas e demandas (Indústria 4.0, Inteligência Artificial, Nanotecnologia, 5G, entre outras), promovendo profundas alterações no perfil da classe trabalhadora, aumentando o desemprego e a precarização;

Plataforma EAD Sindical da CTB: Lançamento em março de 2020 da Plataforma de Cursos a Distância.

Unidade e solidariedade: zelar pela unidade do movimento sindical e da classe trabalhadora, estimular a participação coletiva e solidária nas lutas, a politização e a elevação do nível de consciência da classe trabalhadora;

Interagir com as tecnologias: o avanço tecnológico vem exigindo dos sindicatos um olhar mais apurado do uso das novas tecnologias. Neste sentido, a criação de um aplicativo interativo e integrado da CTB com as entidades sindicais, o App Sindical, pode dar uma boa contribuição à perspectiva de melhorar e ampliar a nossa interação com a classe trabalhadora. Precisamos, através do uso dos dispositivos tecnológicos, aprimorar as formas de organização sindical apostando num projeto de comunicação integrada e interativa, inclusive para fazer frente à carência de recursos financeiros;

Rede de Comunicação: Avançar na construção da Rede Nacional da Comunicação, envolvendo todos os estados na produção e divulgação dos conteúdos integrados da CTB através do Portal da CTB (multisite – produção de site integrado da Sessões Estaduais da CTB), de modo a potencializar a comunicação com as bases e a sociedade, contornando a carência de recursos financeiros e humanos;

Censo Sindical: realização do Censo Sindical Nacional da CTB entre os meses de abril e junho de 2020 objetivando a centralização dos dados, atualização cadastral e coleta de informações sobre o atual perfil da classe trabalhadora;

A CTB nas eleições municipais: é fundamental participar ativamente do processo eleitoral que será consumado em 2020 visando a renovação dos mandatos de prefeitos e vereadores, apoiando os candidatos e candidatas alinhados com as causas progressistas do nosso povo e com a CTB. O pleito fornece uma oportunidade preciosa para o debate e a conscientização social, a acumulação de forças e a potencialização das lutas em defesa de um novo projeto nacional de desenvolvimento fundado na democracia, na soberania e na valorização da classe trabalhadora.

COLUNISTAS

QUENTINHAS