PUBLICADO EM 09 de abr de 2021
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Tirando o seu da reta

Inicio este artigo afirmando que não gosto do governador de São Paulo João Dória, nem quero fazer uma defesa de governadores e prefeitos, mas quero refletir sobre o poder que o presidente da República tem em expor a sua incompetência publicamente, refutar essa incompetência e jogar a culpa do fracasso na conta do próximo.

Sinceramente tenho que tirar o chapéu para o Dória, pois se não fossem suas ações que bateram de frente com os interesses eleitoreiros do Sr. Jair Messias, os brasileiros estariam iniciando a vacinação contra o covid-19 só agora. Isso não significa que o Brasil esteja nadando de braçada no quesito vacinação, mas foi uma ação muitíssimo importante.

Não sai da minha cabeça que se o presidente da República tivesse comprado as 116 milhões de doses de vacina até outubro de 2020 (juntando 70 milhões da Pfizer e 46 milhões da coronavac), talvez não tivéssemos hoje necessitando tanto de medidas restritivas tão severas. Digo talvez, porque tudo o que envolve essa pandemia representa o novo, o inédito, o nunca antes tentado ou testado.

Na minha opinião quando se é um chefe de Estado, em que você está tratando da saúde e da vida de pessoas, o mais prudente seria pecar pelo excesso de zelo do que pela falta, como fez o governo brasileiro. Então, lá atrás deveríamos ter investido nas vacinas, para hoje termos uma situação mais confortável e para dar continuidade ao processo de reabertura gradual da nossa economia, como vínhamos fazendo.

Ao invés disso, a pessoa que ainda ocupa o cargo de presidente da nossa nação preferiu encher os brasileiros com remédios comprovadamente ineficazes contra o covid-19 e, como não poderia deixar de ser, agora que deu ruim, para não dizer que deu merda, os dedos indicadores do Planalto estão apontados para governadores e prefeitos, que diante do caos se viram obrigados a seguir as recomendações científicas e impuseram regras rígidas de restrição de circulação como forma de conter esse vírus.

Como na política não existe espaço vazio, com essa história de restrição e fechamento de comércio, Bolsonaro tirou o dele da reta e passou a apontar o dedo, principalmente para seus desafetos políticos, elegendo João Dória como o suprassumo no seu discurso de ódio.

Mas, verdade seja dita, ao se opor a vacinação Bolsonaro atrasou o início do processo de imunização nacional em, pelo menos dois meses, sendo confrontado justamente pelo governador de São Paulo. Foi um desastre no trato da nossa diplomacia internacional ao hostilizar parceiros, dificultando a compra de insumos para a produção nacional, ou seja, nosso presidente inaugurou a modalidade de político incompetente contumaz, que é o cara que é incompetente, insiste na incompetência, ratifica a inabilidade, faz um refis com a sociedade passando um paninho aqui e outro ali, coloca a culpa da sua incompetência nos outros e quando menos se espera, volta a ser o mesmo incompetente de sempre.

Fábio Ramalho é jornalista, assessor da União Geral dos Trabalhadores (UGT)

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