PUBLICADO EM 24 de fev de 2021
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Queremos voltar ao ensino presencial

Mas, do ponto de vista de quem conhece sala de aula como nós, precisamos de condições para isso.

São Paulo SP28 08 2020 Ato organizado pela Apeoesp. Na ocasião será apresentada uma pesquisa inédita feita pelo sindicato com um instituto referente à situação real das escolas da rede pública do estado de SP. Foto Filipe Araujo

Por Celso Napolitano, Fabio Souza, Dedé Ribeiro, Jopa Fiuza

Vivemos um dos maiores desafios de nossa geração: lidar com a pandemia e seus efeitos terríveis, inclusive na Educação.

Nós, professoras e professores, trabalhamos exaustivamente noite e dia para nos adaptar a condições dificílimas de trabalho – imprescindíveis no combate à disseminação do vírus. Com a determinação da volta às aulas presenciais, precisamos ser escutados.

O país tem 10 milhões de casos confirmados de Covid-19, que atingem de forma mais violenta crianças e jovens.

Devemos esperar o fim da pandemia para o retorno ao ensino presencial?

Entendemos que a volta só deve ocorrer quando os riscos estiverem minorados ao máximo. O ideal seria que ocorresse quando a população estivesse vacinada. Se os rumos não forem radicalmente alterados, demorará ainda muito para que a população esteja protegida – o que aumenta o risco de novas mutações do vírus. Temos a obrigação de lutar pela vacinação com urgência de toda a população brasileira.

Mesmo que profissionais da Educação venham a ser vacinados logo, escolas continuarão a ser locais de grande contaminação, já que crianças e adolescentes não serão imunizados.

Tornou-se corrente a afirmação de que as escolas no Brasil estão há mais tempo fechadas do que em outros países. Mas a maior parte deles só voltou às aulas presenciais quando a contaminação tinha baixado significativamente e, desde então, muitos já voltaram a fechar suas escolas.

Somos solidários a quem não tem com quem deixar seus filhos ou suas filhas, a quem não pode trabalhar remotamente e àqueles que não têm trabalho e precisam de um auxílio emergencial que demora a ser renovado. O sofrimento de crianças e adolescentes com a falta da convivência no espaço escolar nos toca profundamente. Temos dedicado nossas vidas à Educação e sabemos a importância da escola como espaço de desenvolvimento social, intelectual e emocional. Por nos preocuparmos infinitamente com a saúde mental dos estudantes, nos perguntamos como ficarão ao saber que infectaram seus entes queridos, que podem ter sequelas graves ou mesmo morrer.

Para retomar as aulas presenciais que tanto almejamos, precisamos encarar a realidade: é necessário haver segurança. Além de colocar em risco toda a comunidade escolar, a reabertura das escolas aumenta a circulação na cidade, agravando a pandemia.

Estão nos obrigando a voltar sem que haja condições para isso. Mesmo escolas com mais recursos não têm as condições básicas para uma volta segura, com salas bem arejadas, testagem massiva e máscaras adequadas, no padrão N95 PFF2 para todos. A realidade da maioria das escolas particulares é ainda mais precária. Alguns professores relatam que as escolas nas quais trabalham escondem casos de contaminação. Isso é assustador.

Na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental não existe possibilidade de distanciamento – dificílimo também nos outros ciclos. Como deixaremos as crianças que se machucarem sem colo? Como trocar fraldas ou mesmo ajudá-las a se trocarem quando o xixi “escapa”? Como ensinar a segurar o lápis sem segurar suas mãozinhas e sorrir? Como enxugar suas lágrimas quando contarem que perderam uma pessoa querida?

O risco é colossal. A responsabilidade de todos nós também.

Celso Napolitano é professor e presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, Fábio Souza é professor de História na rede particular de São Paulo e do ABC e ator teatral, Dedé Ribeiro, professora de História do Ensino Médio em uma escola particular em São Paulo e psicanalista, Jopa Fiuza é professor de Educação Física em três escolas particulares em São Paulo.

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