Nas últimas décadas, boa parte do mundo foi dominado pelo neoliberalismo. Para o neoliberalismo, o mercado pode tudo, porque o lucro passa a ser medida de todas as coisas.
O avanço neoliberal teve como fruto mais concentração de renda. Os muito ricos ficaram ainda mais ricos, e os muito pobres ficam a cada dia mais pobres, sendo empurrados para a exclusão social.
Quanto aos trabalhadores, o neoliberalismo alega que existem direitos demais e que isso atrapalha os negócios. Portanto, os governos neoliberais cortam direitos e impõem leis em que o negociado supera o legislado. É o caso da Lei 13.467, a reforma trabalhista de Temer.
Os gestores neoliberais calcularam que o sindicalismo iria reagir. Portanto, na lógica deles, era preciso também enfraquecer as entidades de classe. E isso foi feito, principalmente com o corte do imposto sindical e de qualquer contribuição, mesmo aprovada em assembleia.
O mesmo modelo de desregulamentação chegou à Previdência Social. A reforma proposta por Bolsonaro e aprovada, com alguns ajustes, pelo Congresso, agrava a situação dos trabalhadores, exclui muita gente dos benefícios, achata a renda de viúvas e arrocha o valor médio da futura aposentadoria.
Esse conjunto de maldades explica, por exemplo, o que está acontecendo no Chile, onde a revolta popular contesta o governo neoliberal. Também é o que ocorreu na Argentina, onde o presidente Macri aderiu ao FMI e perdeu a reeleição.
A imposição do modelo neoliberal afeta o ciclo econômico. O saldo, nas últimas décadas, tem sido o crescimento gigantesco do segmento financeiro e o estrangulamento do setor produtivo, sobretudo a indústria. O enfraquecimento da indústria gera desemprego, desmonta a engenharia e desestimula a pesquisa – ou seja, nos empurra pro atraso.
Os povos do Chile, da Argentina, do Equador e de outros países estão reagindo em massa contra as desumanidades do modelo neoliberal, que é defendido no Brasil por Guedes e Bolsonaro. Essa insistência num modelo fracassado tem gerado grave recessão na economia, desmonte de setores estratégicos do Estado, quebradeira na indústria, desemprego em massa, precarização do trabalho e mais miséria.
Vai chegar a hora do basta no Brasil também. O sindicalismo tem alertado sobre isso e tomado iniciativas. Por exemplo: semana passada, as Centrais participaram de Seminário da Confederação Nacional da Indústria, no Rio de Janeiro. Lá, debatemos as novas tecnologias, a qualidade do emprego e um padrão civilizado nas relações capital-trabalho. E buscamos firmar um pacto produtivista. Produzir, gerar emprego e distribuir renda é a forma mais eficaz de combater o modelo neoliberal.
José Pereira dos Santos é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região e Secretário nacional de Formação da Força Sindical