PUBLICADO EM 06 de mar de 2019
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Não se administra um país pelas redes sociais

No mundo virtual é possível criar uma realidade imaginária, distorcer fatos, forjar conceitos, promover ajustes, dentre outras projeções, que são reais enquanto promessas, enquanto abstração, enquanto abstração difusa por dias melhores.

As redes sociais, importante avanço tecnológico na era da comunicação humana, também se transformaram em grandes mecanismos para a formação, manipulação e deformação de ideologias. Esses canais, que alteraram completamente as mídias tradicionais, ainda mais inseridas em um país com graves problemas de educação, com a inserção do jogo político nas redes, potencializaram o que se compreendia por “realidade virtual”.

As redes foram decisivas nas eleições brasileiras. Um presidente, democraticamente, foi eleito com influência direta do mundo virtual. Faz parte do jogo político. No entanto, a criação de uma nova realidade de mudanças e perspectivas através das redes possui uma limitação real, que se configura na transposição do representante em campanha para o representante eleito. Eis o ponto em que se inicia o embate entre a quimera e a realidade.

No mundo virtual é possível criar uma realidade imaginária, distorcer fatos, forjar conceitos, promover ajustes, dentre outras projeções, que são reais enquanto promessas, enquanto abstração, enquanto abstração difusa por dias melhores.

No sentido oposto, o mundo real exige soluções palpáveis, porque os preços do arroz e do feijão, o desemprego, as relações comerciais e geopolíticas, o médico para atender quem não tem plano de saúde, as pessoas morando nas ruas, dentre tantos outros graves problemas do Brasil, necessitam de ações com lastros na realidade. Há uma distância muito grande, e real, entre o palanque e a cadeira presidencial.

Postagens no Twitter não resolverão os problemas do país. Ainda que intencionalmente demonizada, é por meio da política que se constrói uma nova realidade social. Tão óbvio e, concomitante, tão obscuro nesses tempos.

A desconstrução/manipulação do pensamento, envolvendo todo e qualquer discurso que ouse questionar realiza-se também por meio de postagens para desviar o foco das questões nacionais, que realmente deveriam estar em pauta, distorcendo e esvaziando assim, os princípios democrático-dialéticos do debate, que objetivam encontrar soluções e transformar em ações para a formação de um país.

Redes sociais, como citadas no início, são avanços na comunicação humana, mas quando utilizadas para criar uma realidade imaginária, podem criar efeitos reversos, funcionando como pílulas de felicidade, como a “Soma”, nome da droga em que os personagens do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley utilizavam para que não ficassem tristes.

O problema é que toda “soma” tem prazo de duração. No Brasil real, com seres humanos por trás das redes sociais, ainda é tempo em que muitos sentem fome, buscam escola de qualidade para seus filhos, sonham com empregos minimamente decentes, anseiam lado pela casa própria, esperam se aposentar com dignidade…

Ricardo Flaitt, jornalista 

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