O Estadão da segunda, 25, traz de manchete a carência de mão de obra especializada. Diz o jornal: “Apagão de mão de obra pode limitar expansão econômica”. Segundo o jornal, “a ocupação abaixo da expectativa de qualificação profissional deve crescer no País a uma taxa de 12,4% ao ano até 2030”. A matéria acrescenta que “empresas deixarão de faturar cerca de R$ 180 bi por não encontrar profissionais para áreas estratégicas”.
Não tenho bola de cristal. Mas muitas vezes nesta coluna alertei pra esse problema. E por que sempre defendi a qualificação? Por razões objetivas: Primeiro, o qualificado ganha mais; segundo, tem mais estabilidade no emprego; terceiro, ele eleva a produtividade. Ou seja, gera ganho pra toda a sociedade.
Sou conselheiro do Senai, pela Força Sindical. O Sistema S, do qual o Senai faz parte, é uma das maiores iniciativas nacionais. Ele foi criado por Roberto Simonsen, autorizado por Getúlio Vargas e oficializado pelo presidente Dutra. O Sistema atua, permanentemente, na qualificação e formação cidadã do trabalhador.
E o que faz o ministro Guedes ao assumir? Tenta cortar em 40% a receita do Sistema, que, ao final, cairá pra 20%. É um erro. A hora seria de fortalecer iniciativas como essas exatamente pra dotar o Brasil de mão de obra capaz de operar novas tecnologias e aumentar a produtividade.
Muito se fala em indústria 4.0 e que as novas tecnologias tomam conta das nossas vidas. Essas tecnologias estão diretamente ligadas a pesquisas e à engenharia. O governo faz o quê? Corta verbas e empurra a pesquisa pro final da fila. Ou seja, estimula o atraso.
Sindicalismo – Façamos justiça ao movimento, que sempre buscou formar profissionais, seja em escolas próprias, seja por parcerias. Em todas as nossas pautas unitárias existe sempre um item pleiteando formação e qualificação, como política de Estado.
Na época da Colônia, Portugal explorava a mão de obra indígena. Mas essa se tornou insuficiente e a Coroa foi buscar escravos na África. Pós-libertação, abriu-se a temporada para a vinda de europeus, pois aquele Continente tinha grandes populações desocupadas.
Mas, ainda que falte gente especializada, cabe perguntar: será esse o problema do Brasil? Não. O problema real é que não existe emprego, pois a recessão se prolonga, os investimentos não chegam e o Estado lava as mãos. Bastaria retomar parte das obras do PAC ou outras afetadas pela Lava-Jato que os postos de trabalho renasceriam, para as funções mais simples e também aos técnicos e qualificados.
Portanto, a questão que persiste é a do crescimento econômico. Se o Brasil crescer, o emprego ressurge e as próprias empresas terão interesse em qualificar seus profissionais. Na década de 80, ficou famosa a história do “engenheiro que virou suco”. Sem emprego, abriu uma casa de sucos. Hoje, a versão mudou para “o engenheiro que virou uber”.
O Brasil precisa decidir se quer profissionais qualificados ou trabalhadores explorados nesses aplicativos.
José Pereira dos Santos – Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical