Em épocas de crise gravíssima, a saída é a unidade nacional. Acima de partidos, acima mesmo de frentes amplas, a união do povo é a força capaz de mover a alavanca do processo histórico e gerar avanços.
Dois exemplos nós acabamos de assistir, na Bolívia e no Chile. Com a Bolívia, só pra se ter uma ideia, temos fronteira de 3,4 mil quilômetros. O país é rico em minérios e tem grande potencial de crescimento, inclusive para o agronegócio brasileiro.
O que houve por lá? Primeiro, rejeição à tentativa de Evo Morales em obter seu quarto mandato. A elite desautorizou a manobra de Evo, o que facilitou um golpe de Estado e a fraude eleitoral. Porém, a população não reprovou o projeto político, econômico e social comandado pelo MAS. Tanto assim que o candidato do partido ganhou agora em primeiro turno, com 55% dos votos.
E no Chile? Lá o que ocorre é uma dura, agressiva e continuada luta popular contra o modelo neoliberal imposto pelo general Pinochet. Modelo, aliás, que teve participação do Paulo Guedes, atual ministro da Economia no Brasil. Entre as perversidades do modelo está excluir da Previdência Social um grande número de idosos, provocando uma onda de suicídios e empobrecimento.
Graças a essa persistência, os chilenos votaram domingo, 25. Resultado: 80% decidiram pela extinção da Constituição forjada pelo ditador Pinochet e ainda disseram sim a uma nova Carta, que será redigida com participação igualitária de homens e mulheres.
Por que naqueles países foi possível vencer o golpe e derrotar a direita? Por muitas razões. Mas principalmente porque os comandantes da resistência foram claros na orientação, não se submeteram a interesses políticos e eleitorais, enfim, souberam colocar o interesse nacional acima de qualquer disputa de curto prazo.
Essa postura inteligente e responsável criou condições para a unidade popular e nacional. Sem deixar de considerar eventuais erros do passado, as lideranças organizaram suas ações e mobilizações olhando para o futuro. Bem diferente do Brasil onde se olha muito para o retrovisor, uma paisagem que já ficou lá atrás.
Dia desses, ao falar das qualidades de seu companheiro Pelé, que completava 80 anos, o centroavante da Seleção de 70, disse: – Pelé não driblava pros lados. Sempre driblava pra frente.
Temos, no Brasil, que construir a união nacional a fim sair da crise. Ou seja, driblar pra frente!