No artigo Lula lá e cá, publicado no dia 10/04, na Folha de São Paulo, parece que o jornalista Mario Sergio Conti faz um elogio à Lula. Mas as entrelinhas mostram que não é bem assim. O Lula aparece mais como a salvação para o problema Bolsonaro do que como um representante de um projeto político interessante para o país.
A grande contradição do seu argumento está na ideia de que nos governos Lula e Dilma surgiu a crise econômica que vivemos e que o movimento sindical hoje não faz nada para superá-la. Quando, na verdade, a crise nasceu no governo Temer e foi aprofundada no atual.
Desde o início da pandemia, nós sindicalistas temos evitado organizar manifestações presenciais e temos usado a criatividade para manter nossas ações em dia. Para ficar em poucos exemplos, as centrais sindicais desempenharam papel fundamental na determinação do valor de 600 reais para o auxílio emergencial. E realizamos um grande esforço de convergência, mediação e aglutinação entre aqueles que buscam um projeto nacional de desenvolvimento na política partidária, algo tão difícil, mas tão necessário.
Além disso, é preciso levar em consideração que nos últimos anos o sindicalismo foi duramente atacado. E isso, como a história mostra, é o que acontece quando um projeto progressista avança na política. Foi assim em 1964, com Jango deposto e os sindicatos como os primeiros alvos da ditadura.
Fomos atacados de forma muito concreta e direta através da reforma trabalhista de Rogério Marinho e Michel Temer. Tal qual a ditadura, que em seus primeiros dias interviu nos sindicatos, o ex-vice decorativo de Dilma, logo que usurpou o poder, tratou de aniquilar o sindicalismo e calar os trabalhadores. Foi o que ele tentou fazer, mas resistimos bravamente.
Conti também afirma que “Lula vem pregando a volta a um passado mítico, no qual todos se deram bem. É uma ilusão, ainda que com um grão de verdade. O Brasil era melhor; mas é inviável a repetição daqueles tempos —que aliás geraram o lamaçal de hoje”.
O que ele quer dizer com “É uma ilusão” e “aqueles tempos geraram o lamaçal de hoje”? Que a crise foi gerada nos governos Lula e Dilma? A ideia de que o crescimento daquele tempo foi uma ilusão pela qual pagamos um preço alto é muito difundida entre a elite para desmoralizar a composição de centro esquerda em torno do PT entre 2002 e 2016. Está embutida nesta ideia a defesa da inevitabilidade do impeachment, do governo Temer e da execução das suas reformas antissociais como remédios amargos para os investimentos (chamados pela elite de gastança) dos governos Lula e Dilma em projetos sociais.
Em nossa visão, o impeachment e tudo que veio em sua esteira foi uma reação da direita ao avanço de políticas sociais, de inclusão e combate à desigualdade, e não uma resposta aos erros no orçamento público. Isso ficou muito claro com o imediato crescimento do desemprego e aumento da miséria após a reforma trabalhista e Pec do teto de gastos. Ficou ainda mais escancarado após março de 2020, com a inusitada pandemia do coronavírus, que iluminou todas as mazelas e abismos que rasgam nossa sociedade. Essa é a origem do lamaçal.
O artigo de Mario Sergio Conti parece, na verdade, um desespero para resolver o problema Bolsonaro. Desespero justificado pelo desastre evidente. É justo e louvável defender a volta de um passado em que o Brasil almejava ser um país de todos. Mas é um contrassenso reafirmar, no argumento desta defesa, teses falsas que levaram o país ao abismo em que se encontra hoje.
João Carlos Juruna Goncalves, 68, secretário geral da Força Sindical e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, foi membro da Juventude Operária Católica (JOC) no período de 1970 a 1979.
Rita de Cassia Vianna Gava
Perece que Dilma errou, mas isso poderia ter sido superado o Congresdo6de Cunha não deixou.
Mas já faz tempo se o governo Bolsonaro fosse competente teria superado