Por Aaron Brown/History News Network
Há razões legítimas para ser cético sobre o motivo de Trump para implantar as tropas na fronteira Sul. Sua afirmação que a caravana migrante foi infiltrada por terroristas e membros de gangs ergueu sobrancelhas, enquanto nenhuma evidência foi apresentada para sugerir que tais coisas ocorreram. Ainda, é importante lembrar que a “militarização” da fronteira não é uma ideia nova. Na verdade, Richard Nixon começou um processo de militarização, em 1969, que continua até hoje.
Em 21 de setembro de 1969, a administração Nixon fechou a fronteira Estados Unidos – México, em um esforço para parar o fluxo de drogas chegando aos estados. Travessias de fronteira ao longo da divisa de 2.500 milhas estavam entupidas, enquanto agentes aduaneiros americanos procuravam veículos terrestres e pedestres viajando a pé. Aviões do governo equipados de radares circulavam sobre as cabeças, em busca de aeronaves ilegais e barcos patrulha da Marinha dos tipos usados para caçar vietcongs no Vietnã perseguiam embarcações marítimas suspeitas. A operação continuou por várias semanas, afetando gravemente negócios que contavam com fregueses dos dois lados da fronteira, e impedindo trabalhadores mexicanos de chegar em seus empregos nos Estados Unidos. “Eu ouvi sobre o Muro de Berlim, mas nunca pensei que o veria”, disse um exasperado jovem, cuja mãe foi detida por tentar transportar prescrição médica através da fronteira.
A Operação Interceptação foi finalmente levantada em meados de outubro – um grande alívio para os muitos americanos e mexicanos que atravessavam a divisa a cada dia. Um relatório do consulado americano em Tijuana disse que os residentes “aplaudiram alto” quando o tráfego na fronteira foi liberado para andar de novo, embora sua “alegria logo se tornou em descontentamento, quando a inspeção da fronteira, enquanto amenizada, não reverteu aos padrões superficiais pré-Interceptação.” Na verdade, esses padrões nunca voltariam. Daquele ponto em diante, o governo dos Estados Unidos priorizou o papel dos Latino-Americanos no comércio de drogas. A fronteira Estados Unidos – México se tornara um ponto de faísca na emergente guerra das drogas, e seria sujeita a crescente intenso escrutínio a partir de então.
Em 1972, a guerra das drogas chegara ao topo na agenda de Washington. Um artigo da TIME escrito em setembro daquele ano notou que “o Bureau das Alfandegas, carregado com policiamento milhares de milhas de fronteira aberta”, era “devido a adicionar 330 novos homens a seus duramente pressionados 532 homens da força de patrulha da fronteira”. Ele continua descrevendo uma cena que que se assemelhava com o Muro de Berlim, o 38º Paralelo Coreano, ou alguma outra barreira pesadamente monitorada, reportando que “Nixon ordenou as Forças Aéreas para ajudar instalando novos radares de nível extra baixo no Texas e Novo México, onde irão ser usados para rastrear contrabandistas aéreos que atravessavam a fronteira do México em aviões leves, evitando detecção voando no nível dos cactos.” Em adição as instalações de radares, esquadrões da Força Aérea e da Guarda Aérea “receberam ordens de manter seus interceptores F-102 e supersônico F-106 em status de alerta, prontos para voar em 5 minutos.” De fato, TIME notou que oficiais do Bureau de Narcóticos e Drogas Perigosas falavam “como se seus empregos fossem dilacerar a Trilha de Ho Chi Minh, não o comércio internacional de drogas”.
Esforços para incrementar a segurança na fronteira se intensificaram em 1973, e por 1974, especialmente enquanto as conversas nacionais sobre tráfico de drogas e, crescentemente, imigração ilegal cresciam. Uma cerca eletrônica, que alguns oficiais da patrulha da fronteira comparavam ao sistema (conhecido como “linha McNamara”) usado no Vietnã para detectar tropas norte-vietnamitas e vietcongs e movimentos de abastecimento, foi instalada pela fronteira, para detectar tanto imigrantes ilegais, quanto contrabandistas de drogas. Esse tipo de barreira incluía dispositivos sensíveis a pressão, fios enterrados e detecção de infravermelho, e era desenhado para fornecer “prevenção de intrusão”. A construção de uma cerca física progredira muito pouco (27 milhas no total) nesse tempo, mas a fundação para futuros projetos de barreira de fronteira tinha sido colocada.
Tropas na fronteira Estados Unidos – México podem bem ser uma ocorrência rara. Mas os Estados Unidos mantiveram uma grande presença da Patrulha da Fronteira lá por décadas. E, de 1969 em diante, a fronteira foi transformada de uma área aberta, onde a movimentação era relativamente fácil, para uma fronteira crescentemente fortificada, que chamou atenção para mais de uma comparação com algumas outras infames zonas de crises de segurança internacional. Em um artigo de 2011, da Política Estrangeira, “As Fronteiras mais Perigosas do Mundo”, a divisa entre Estados Unidos e México foi listada ao lado de lugares agourentos, como a fronteira do Afeganistão – Paquistão e a Zona Desmilitarizada da Coréia.
A caravana migrante para os Estados Unidos está nas principais manchetes, primeiramente devido a apreensão sobre imigração ilegal – uma questão que dominou a agenda da administração Trump. Mas antes que esse tópico se tornasse uma causa de preocupação nacional, a militarização da fronteira Estados Unidos – México já tinha começado. A guerra das drogas foi o catalizador para esse esforço, antes da questão da imigração, e mais tarde não pode ser compreendida sem primeiramente conhecer o quão perto as duas estão interligadas.
Fonte: Time e History News Network.
Tradução: Luciana Cristina Ruy.
rita de cassia vianna gava
A incapacidade de chegar a um consenso racional sobre fronteiras
O que proteger o comércio de drogas, o estrangeiro quando não interessa
Os países desenvolvidos que fecham suas fronteiras esquecem que foram grandes e sanguinarios invasores