À medida que a crise brasileira se aprofunda e o processo eleitoral avança vai tornando evidente existir um esforço do clã Bolsonaro, de militares aliados, e de seus seguidores, incluindo empresários oportunistas, objetivando desmoralizar o Supremo Tribunal Federal (STF), o sistema eleitoral sob o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, via golpe de Estado, acabar de vez com a democracia.
São forças extremistas de direita oriundas dos extratos sociais médios e também de baixa renda, a chamada ralé que atingidas pelo atual modelo econômico em sua condição de renda (empobrecimento), ou se sentindo ameaçadas na sua posição, muitas vezes privilegiada, engrossam essas mobilizações, dão vida a esses movimentos fascistas no sentido de interferir no resultado de ações que consideram desinteressantes para elas.
Sabe-se que em muitos aspectos o STF não tem agido efetivamente como guardião da Constituição, tal como esta o define. Assim como o parlamento brasileiro é hoje composto por maioria conservadora e fisiológica representante dos interesses do capital, ainda que tenha sido eleita pelo voto das brasileiras e brasileiros, incluindo-se neste rol parte da classe trabalhadora.
Todavia, fechar as instituições, como defendido pelo clã Bolsonaro e seus seguidores, é pôr fim ao que ainda resta de democracia no país e a instauração de um regime de força. Não é à toa que, como tudo de ruim que Bolsonaro está fazendo (desmontando o país, pregando o ódio e ferindo a nossa dignidade) essa massa não se levanta em oposição ele, mas contra os outros poderes, particularmente quando estes adotam medidas que impedem o Executivo de agir ao seu bel prazer desrespeitando as leis.
Em a “Origem do Totalitarismo”, a filósofa alemã Hanna Arendt analisa essa questão da ralé como sendo grupos residuais presentes em todas as classes sociais que tem em comum a negação da política, das instituições do Estado e das contradições inerentes à vida em sociedade. O que implica para essa gente em expressar sua rejeição à democracia que exige políticas que promovam o equilíbrio e a equalização da vida social.
Como é antidemocrática ela se vê representada em um homem forte (ou anseia por isso), capaz de decidir sempre ao seu modo – de forma autoritária – pelo conjunto da sociedade. Foi assim na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler e, agora, no Brasil de Jair Bolsonaro.
Ainda segundo Arendt, essa gente tem o ódio como missão e a violência como seus motores. No caso em questão visa de fato intimidar o Judiciário quando se trata de julgar e decidir pela possibilidade de absorver e/ou libertar alguém que ela não gosta e quer ver presa, ainda que injustamente, bem como para impedir que gente mau-caráter, pertencente as suas hostes, venha a ser punida.
Tem sido assim nos últimos tempos quando, via carreatas realizadas pelas ruas de cidades brasileiras e através de manifestações em frente ao Palácio do Planalto e STF expõem publicamente seu ódio ao outro, ao diferente, e deixa claro odiar a democracia e os que a defendem.
Não há dúvida que por trás dessas mobilizações contra a Suprema Corte e o TSE, existem os dedos, mãos e braços do clã Bolsonaro, bem como de empresários trogloditas representando interesses econômicos e políticos retrógrados que as financiam dispostos a destruir o processo democrático e nos empurrar para uma situação de completa barbárie com todas as implicações que isso possa ter.
Antônio Rogerio Magri, presidente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação Física do Estado de São Paulo e ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social.
José Raimundo de Oliveira, historiador, educador e ativista social.