Com reverência às conquistas do passado, mas a certeza de que a classe trabalhadora enfrenta um presente de ataques quase tão brutais quanto em 1983, quando foi fundada em plena ditadura militar, a CUT completa 38 anos no próximo sábado, 28 de agosto. A comemoração exige lutar no presente e apontar para o futuro, “porque direitos e democracia não se separam e são construídos pela luta dos trabalhadores e das trabalhadoras”, afirma Sérgio Nobre, presidente nacional da CUT.
Para marcar a data sem causar aglomeração, a CUT realizará evento virtual no dia 28, a partir das 14h, com transmissão pelas redes sociais. Por causa da pandemia de Covid-19, esse será o segundo ano consecutivo em que a Central comemorará seu aniversário em formato virtual.
Pela live, passarão quase 30 convidados, entre ex-presidentes da CUT, lideranças dos movimentos sociais, negro, LGBTQIA+, de estudantes, partidos políticos, do campo e das centrais sindicais. Um espaço que pretende ir além da celebração, para fazer uma reflexão sobre a luta da Central e do movimento sindical em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia, neste que é dos momentos mais tenebrosos da história do país, hoje sob o jugo de um governo autoritário, incompetente e genocida.
“São quase quatro décadas de lutas que contribuíram para transformar a classe trabalhadora em um dos atores fundamentais da sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, para transformar a própria sociedade”, afirma Sérgio Nobre
O presidente nacional da CUT destaca que, ao longo desse período, a Central mudou a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, fazendo deles sujeitos de direitos, dando alento e esperança para superar os desafios colocados no local de trabalho.
“Em todos esses anos, a gente promoveu a solidariedade de classe, marcou presença nas lutas por melhores salários e condições de trabalho, contra as injustiças sociais, pela afirmação da igualdade, contra a discriminação racial, em defesa dos direitos humanos, contra o regime autoritário e na construção de uma sociedade democrática, mais justa, mais humana, plena de direitos”, complementa Sérgio Nobre.
Não à toa, destaca o dirigente, a CUT, após sua fundação, passou a ser um dos principais protagonistas da luta pela redemocratização do país, ao organizar campanhas salariais cada vez mais fortes contra as perdas salariais decorrentes da hiperinflação, processo que levou às históricas greves gerais que fragilizaram ainda mais o poder dos militares à época.
O presidente nacional da CUT dá um salto no tempo para lembrar que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário na Presidência da República, em 2002, foi também uma vitória da CUT, da classe trabalhadora, que inaugurou uma era de conquistas e avanços sem precedentes na história do Brasil, “dando protagonismo e lugar aos trabalhadores e trabalhadoras e a uma população, até então, invisível ao Estado”.
Os direitos e a democracia não se separam e são construídos pela luta da classe trabalhadora.
– Sérgio Nobre
“Mas esse período de grandes avanços, infelizmente, terminou com o golpe de 2016, apesar da nossa intensa luta e mobilização”, lembra Sérgio Nobre. “Veio o desastre com a eleição de Bolsonaro, em 2018, um presidente que arrastou o Brasil para a crise, o obscurantismo, a fome, a carestia, o desemprego, a morte de mais de meio milhão de brasileiros e brasileiras por seu negacionismo da pandemia”, analisa o presidente da CUT
O governo Bolsonaro, diz Sérgio Nobre, é marcado por promover retrocessos, com ataques à classe trabalhadora e à organização sindical, que precarizam ainda mais as relações de trabalho, fazendo o desemprego bater recordes, colocando em risco os serviços públicos, as estatais, a soberania e isolando o Brasil do mundo.
“Esse cenário adverso nos coloca diante do desafio de olhar o passado e buscar nas experiências que vivemos, inclusive nos reveses, e em tudo que aprendemos ao longo desses 38 anos, o conhecimento necessário para enfrentar os desafios do presente e do futuro. Esse é o sentido da celebração dos 38 anos de existência da CUT, e é o que estamos fazendo”, afirma Sérgio Nobre.
E ainda sobre o futuro diz: “A CUT tem uma enorme responsabilidade e um papel a cumprir nessa caminhada até conseguirmos a vitória e ela está logo ali, em 2022”.
Nasce a CUT
A criação da CUT desafiou a legislação sindical da época, que proibia a organização dos trabalhadores de diferentes categorias em uma só entidade e, mesmo assim, fomos a primeira central sindical criada após o golpe de 1964 e também a primeira no país a ser lançada pela base.
Essa história começou em um 28 de agosto de 1983, pela voz e voto de mais de cinco mil trabalhadores e trabalhadoras vindos de todas as regiões do País, nascia a CUT. Em números exatos foram responsáveis pela criação da Central 5.059 delegados, representando 912 entidades – 335 urbanos, 310 rurais, 134 associações pré-sindicais e 99 associações de funcionários públicos, cinco federações, oito entidades nacionais e confederações. Trabalhadores/as que ocuparam o galpão que um dia sediou o maior estúdio cinematográfico brasileiro, o extinto Vera Cruz. Em 2013, foi de novo, nesse endereço que a CUT celebrou seus 30 anos.
No ABC paulista, berço do novo sindicalismo, o 1º CONCLAT (Congresso Nacional da Classe Trabalhadora), que será homenageado na live deste sábado (28), deu origem à primeira entidade intersindical e Inter categorias em nível nacional construída após o golpe militar de 1964.
O Brasil enfrentava crise econômica com inflação de 150% e índices manipulados desde anos anteriores; devia mais de US$ 100 bilhões. O mesmo FMI (Fundo Monetário Internacional) que pediu dinheiro emprestado ao Brasil no governo Lula era o bicho papão dos países pobres naquela época. O Brasil se rendeu e estendeu o chapéu ao Fundo rifando, assim, a sua soberania.
Um mês antes de a CUT ser fundada, houve greve geral em todo o País. Como efeito da recessão, apenas nos dois primeiros meses de 1983, a indústria paulista demitiu 47 mil trabalhadores, quase o total das demissões do ano anterior. O brasileiro vivia sob repressão, recessão, desemprego e com salários achatados e corroídos pelos índices inflacionários. Ou seja, 38 anos depois, o país retrocedeu, e enfrentamos uma realidade similar.
Naquela época, o cenário que levou o congresso de fundação da CUT a aprovar as lutas pelo fim da Lei de Segurança Nacional e do regime militar, o combate à política econômica do governo (o general João Batista Figueiredo era o presidente da República), contra o desemprego, pela reforma agrária sob controle dos trabalhadores, reajustes trimestrais dos salários e liberdade e autonomia sindical. Lutava também pelo direito à cidadania e contra o autoritarismo dentro e fora dos locais de trabalho, recheados por “olheiros” da ditadura disfarçados de trabalhadores.
Para o primeiro ano de vida da CUT, foi eleita uma coordenação cujo coordenador-geral era Jair Meneguelli, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (hoje Metalúrgicos do ABC), que estava sob intervenção. Somente em 1984, a CUT elegeu uma direção com chapa completa e seu primeiro presidente também foi Meneguelli.
Começaria então a história de uma central que hoje está presente em todos os ramos de atividade econômica do país, com 3. 960 entidades filiadas, 7,9 milhões de associados e 25,8 milhões de trabalhadores/as na base.
A CUT, o que e porque
A Central Única dos Trabalhadores é uma organização sindical brasileira de massas, em nível máximo, de caráter classista, autônomo e democrático, cujo compromisso é a defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.
Baseada em princípios de igualdade e solidariedade, seus objetivos são organizar, representar sindicalmente e dirigir a luta dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, do setor público e privado, ativos e inativos, por melhores condições de vida e de trabalho e por uma sociedade justa e democrática. Presente em todos os ramos de atividade econômica do país.
Desde sua fundação, a CUT tem atuação fundamental na disputa da hegemonia e nas transformações ocorridas no cenário político, econômico e social ao longo da história brasileira, latino-americana e mundial.
A CUT defende a liberdade e autonomia sindical com o compromisso e o entendimento de que os trabalhadores/as têm o direito de decidir livremente sobre suas formas de organização, filiação e sustentação financeira, com total independência frente ao Estado, governos, patronato, partidos e agrupamentos políticos, credos e instituições religiosas e a quaisquer organismos de caráter programático ou institucional.
Fonte: CUT