Em sua coluna no jornal Valor, 31/07/19, a jornalista Rosângela Bittar dá um diagnóstico sombrio sobre o governo Bolsonaro. Segundo ela o presidente, está preparando sua própria ruína, uma vez que “suas intervenções sobre qualquer assunto de qualquer área vão esvaziando sua autoridade. São propostas equivocadas, conceitos estapafúrdios, opiniões draconianas ditas de forma agressiva”. Conclui afirmando que o presidente não tem “condições políticas, psicológicas, sociais e morais de governar e liderar sequer seu público votante, quanto mais exercer o governo de todos, como a praxe exige” e se pergunta qual a solução. Afinal temos apenas sete meses de governo. Imaginem mais três anos e meio!
Mas a jornalista não apresenta respostas para sua pergunta. Diz que a conversa sobre impeachment não prospera na Câmara, no Senado e no Supremo, e que se a economia apresentar sinais de vida é até possível que tenhamos que suportar esta situação até 2026. Segundo ela “O impeachment está descartado, nas condições do momento atual, como solução para o fim do pesadelo vivido pela sociedade brasileira”.
O jornal O Estado de São Paulo, em seu editorial chamado “A política da raiva” (31/07/19), vai na mesma linha, de repúdio ao comportamento e às declarações do presidente que só nas últimas semanas: indicou o próprio filho para ser embaixador nos EUA, defendeu o trabalho infantil, desdenhou da tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão na ditadura militar, referiu-se ao Nordeste de forma debochada e arrogante, disse que não existe fome no Brasil, que jornalista Glenn Greenwald “talvez pegue uma cana “, ironizou levianamente sobre o desaparecimento de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, disse que a Comissão Nacional da Verdade foi uma balela, e debochou sobre o maior massacre ocorrido em um presídio no Pará, que resultou em 57 mortos, afirmando que “Pergunta para as vítimas que morreram lá o que eles acham, depois que eles responderem eu respondo a vocês”.
Para o jornal a impostura de Bolsonaro contribui para seu isolamento “mesmo entre os políticos que se elegeram na onda do bolsonarismo já há os que procuram manter uma distância prudente do presidente, pois temem ser identificados com a irresponsabilidade que tem caracterizado o comportamento de Bolsonaro”. Isso porque “O homem encarregado pelas urnas de dirigir os destinos nacionais choca diariamente a maioria dos brasileiros com declarações absurdas, baseadas em nada além de devaneios e despejadas sem qualquer respeito pelas normas da democracia e mesmo da civilidade”.
Os grupos de militantes bolsonaristas mais engajados são chamados de “seitas” pelo jornal. Eles defendem “que Bolsonaro foi eleito justamente para questionar os pilares do sistema democrático”. E nesta lógica vale se sobrepor à Constituição e aos marcos civilizatórios.
O editorial, assim como o artigo de Rosângela Bittar, fala do grande papel que o Congresso desempenha neste jogo. Para o Estadão “as forças políticas no Congresso há algum tempo parecem se organizar para fazer avançar as reformas das quais o Brasil depende para evitar o colapso fiscal e ter alguma chance de retomar o crescimento econômico”. Para Bittar “Diante da atuação e do comportamento presidencial, o Congresso, com Centrão à frente e mais direita ou esquerda, recolheu-se à sua própria agenda”.
Por fim, e só para ficar no que saiu hoje, 31/7, em três dos principais jornais do país, o jornal Folha de São Paulo publicou três artigos em sua principal página, comentando e alertando a sociedade para os disparates do nosso presidente eleito em outubro de 2018.
Em seu editorial o jornal fala em “insultos às normas de convívio democrático, aos fatos históricos, às evidências científicas e aos direitos humanos” e afirma que “Com índices de aprovação aquém dos obtidos por seus antecessores em igual período do mandato, o presidente desperta crescente apreensão quanto a seu desempenho nos anos vindouros”.
No mesmo jornal Hélio Schwartsman diz, em sua coluna, que “falta ao chefe do Executivo aquela decência mínima, que nos faz reconhecer o próximo como um semelhante” e que ele, Bolsonaro, “já fracassou como líder e como ser humano”.
Já o jornalista Bruno Boghossian, na mesma Folha, lembra que “Jair Bolsonaro faz política há décadas usando a divisão e o ódio como combustíveis”. Ele afirma que “Bolsonaro trabalha o tempo todo para demonizar críticos, adversários, instituições que possam restringir seus movimentos ou qualquer um que sirva de contraponto ao governo. Tenta tratá-los como inimigos para despertar aversão a esses personagens entre seus apoiadores”. E alerta para o fato de que as palavras do presidente “alimentam visões desumanas do mundo, reforçam seus instintos autoritários e revelam uma incapacidade evidente de lidar com os problemas nacionais”.
Estas são amostras do que saiu em apenas um dia em jornais de grande circulação, que não são e nunca foram de esquerda, ao contrário do que pensa a seita bolsonarista. Há tempos não só a esquerda e os movimentos sociais, mas também parte da grande imprensa e das instituições democráticas veem alertando para o perigo que esse presidente representa para a nação.
Hoje no Brasil 12 milhões de pessoas sofrem com o desemprego, sem contar as que estão mal empregadas, trabalhando em más condições por um salário de fome. A violência cresce na mesma medida em que cresce a intolerância e a discriminação. Os ataques à educação sugerem que o projeto é fomentar uma massa de pessoas com baixa instrução, carente de senso crítico e de capacidade de fazer avaliações políticas que fogem da impulsividade. Sobre nossa natureza, famosa pela exuberância, recaem políticas de devastação semelhantes às das “colônias de exploração”. O Brasil está perplexo. Onde vamos parar?
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.
Rita Gava
Verdade só que por enquanto ele se sustenta. Talvez pelos 30% dos seguidores bancos empresários ruralistas. Ele ainda é forte
Vamos ver se outras introduções se fortalecem