Por Federico Rivas Molina, para o El País
A busca chegou ao fim. Quando o destino dos 44 tripulantes do ARA San Juan parecia perdido para sempre em algum ponto remoto do Atlântico Sul, uma empresa privada encontrou os restos da embarcação a 800 metros de profundidade e 600 quilômetros da costa de Comodoro Rivadavia, na Patagônia argentina. A descoberta se deu um ano e um dia depois da última comunicação do submarino argentino com sua base e horas antes de a Ocean Infinity declarar a missão abortada. O Governo de Mauricio Macri deve agora decidir se efetua o resgate do casco, uma operação complexa que ainda não foi sequer analisada, ou deixar que os corpos dos marinheiros descansem para sempre no fundo do mar. Os parentes da tripulação confrontaram o presidente na quinta-feira em um ato realizado em Mar del Plata, o destino final do submarino, já descrentes de que fosse possível a localização.
De acordo com informações preliminares fornecidas pela Marinha, o ARA San Juan está na Zona 1, que corresponde ao lugar onde há um ano as organizações internacionais responsáveis pelo controle de testes militares submarina não autorizados detectaram uma “anomalia hidroacústica”, ou seja, uma explosão. A Zona 1 já havia sido rastreada na época, sem sucesso. O submarino está apoiado em um setor de fortes correntes submarinas, conhecido como cañanadones.
A Marinha da Argentina confirmou o êxito da missão de busca em uma breve mensagem que postou em sua conta no Twitter e depois de se comunicar com as famílias dos marinheiros mortos. “O Ministério da Defesa e a Marinha da Argentina informam que nesta data, tendo sido investigado o POI 24 (Ponto Dado) reportado pela empresa Ocean Infinity Company, mediante observação feita com um ROV (veículo de observação remota) a 800 metros de profundidade, foi efetuada identificação positiva do submarino ARA San Juan”, informou. Em seguida, o porta-voz da Marinha, Rodolfo Ramallo, disse que “agora se inicia outro capítulo” na história do submarino. “Temos de continuar com a análise e ver o que realmente aconteceu, é preciso ter cautela, em respeito às famílias”, disse Ramallo ao canal de notícias TN.
A possibilidade de encontrar o submarino aumentou na manhã desta sexta-feira, quando a empresa decidiu enviar um veículo para analisar um ponto em que os sonares haviam detectado um objeto de 60 metros de comprimento apoiado sobre o fundo do mar. A imagem foi classificada como categoria C, de “forte probabilidade”. Por isso retornou à área da descoberta quando o tempo permitiu e, depois de algumas horas de busca, as câmeras de um veículo não tripulado confirmaram que, de fato, a imagem registrada no dia anterior correspondia ao ARA San Juan. “Um 15 nos tirou de nós, e um 15 os trouxe de volta. Temos tantos sentimentos neste momento, pedimos respeito e honra a eles, um passo mais perto de voltar para casa # 44heroespresentes #arasanjuan”, escreveram os parentes da tripulação em sua conta oficial no Twitter.
A empresa havia estabelecido esta sexta-feira como o prazo máximo para a busca. Agora, receberá 7,5 milhões de dólares (28 milhões de reais), quantia que dependia do sucesso da operação, que começou no início de setembro. Quarenta tripulantes trabalharam por dois meses a bordo do navio Seabed Constructor, de bandeira norueguesa, e rastrearam 7.000 quilômetros quadrados de leito marinho.
Oito horas antes da descoberta, a Marinha relatou que o navio havia avançado “para o Local 1, área 15A-4, para investigar com ROV o ponto de interesse nº 24. Com a melhora da meteorologia a chegada será aproximadamente às 22 horas”. Era quase meia-noite quando confirmou a descoberta. Foi uma grande façanha, cumprida no limite e quando o Governo argentino e os parentes já davam o ARA San Juan por perdido.
Na homenagem realizada na quinta-feira em Mar del Plata, Macri escutou a reclamação das famílias dos marinheiros desaparecidos, que se consideravam maltratadas e esquecidas pelo Governo. O presidente teve que prometer que a busca continuaria, mas um fracasso da empresa Ocean Infinity deixaria a Casa Rosada sem muitas opções. “Quanto eu lamento que nada que diga possa acalmar a dor!”, disse Macri a eles, sem saber ainda que horas depois uma imagem de sonar daria pistas precisas sobre o casco.
Uma busca mundial
Durante o primeiro mês após o desaparecimento do ARA San Juan, dez países emprestaram navios e aviões para as operações de busca. Em determinado momento, 27 navios rastrearam as possíveis zonas ao mesmo tempo, localizadas na rota que liga Ushuaia, o porto de partida do submarino, com seu destino em Mar del Plata. Mas nem mesmo as equipes mais modernas dos Estados Unidos e da Rússia conseguiram encontrar o casco.
O ARA San Juan se comunicou pela última vez com sua base de operações em Mar del Plata durante a manhã de 15 de novembro do ano passado. Seu capitão relatou então que uma entrada de água havia provocado curto-circuito em um dos bancos de baterias, o que provocou um incêndio. Mas isso foi tudo. O submarino estava em boas condições e indo para Mar del Plata, conforme estabelecido no roteiro.
Horas depois daquela comunicação oficial, um sistema de alerta de testes militares detectou uma explosão no Atlântico Sul e tanto o Governo argentino quanto as famílias souberam que se tratava do ARA San Juan. As causas do colapso do navio ainda são motivo de especulação. Um grupo de especialistas determinou que o mais provável seria uma falha no snorkel, que permitiu a entrada de água durante uma manobra de recuperação de oxigênio realizada com mar agitado. Depois de uma noite de trabalho para controlar o fogo, em meio a uma atmosfera irrespirável pelo ar contaminado pela combustão, o navio submergiu novamente e continuou sua rota.
Mas um segundo incêndio teria acabado em desastre. A tripulação, exausta, pouco podia fazer. Segundo os peritos, a explosão detectada foi uma implosão, produzida pela pressão de fora para dentro do casco, que ficou reduzido a uma massa compacta de ferro. A localização do ARA San Juan pode agora ajudar a reconstruir o que realmente aconteceu há um ano no fundo do mar.
Fonte: El País