PUBLICADO EM 21 de out de 2024
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Ativismo político nos EUA em 1968 e em 2024 

Saiba mais sobre o ativismo político nos EUA durante a Guerra do Vietnã, em 1968, e hoje, no processo eleitoral entre Kamala e Trump.

Ativismo político nos EUA: Marcha Contra a Guerra do Vietnã, enquanto Chicago se preparava para sediar a Convenção Nacional Democrata, em 10 de agosto de 1968. Foto: David Wilson.

Ativismo político nos EUA: Marcha Contra a Guerra do Vietnã, enquanto Chicago se preparava para sediar a Convenção Nacional Democrata, em 10 de agosto de 1968. Foto: David Wilson.

Por Len Yannielli

A transição para a pós-graduação em 1967 não foi fácil. Eu tinha estudado em uma grande universidade pública em um ambiente pastoral. Morar com outras pessoas em um dormitório, que às vezes era tumultuado, não era muito diferente da vida familiar caótica que eu conhecia. De qualquer forma, meu colega de quarto era um amigo de escola. Mas agora eu estava em uma cidade grande e estranha, morando em um pequeno apartamento de um cômodo. Porém, não era apenas a mudança geográfica que me afetava.

Um amigo foi morto na guerra do Vietnã

1968 chegou rapidamente. Fui convocado para o serviço militar. Minha irmã me ajudou a escapar disso ao encontrar um trabalho de professor primário que me dava isenção. Mesmo assim, isso me incomodava. Eu queria fazer algo em relação à violência no Sudeste Asiático. Mas o quê?

Na pequena faculdade pública que frequentei, surgiu a oportunidade de participar de uma manifestação contra a guerra em Washington, D.C. Eu agarrei a chance. (Curiosidade: Descobri décadas depois que a Liga dos Jovens Comunistas organizava as aulas noturnas nesta universidade na década de 1930.)

A marcha em Washington me ajudou, já que até aquele momento eu só pensava nos soldados americanos e em mim mesmo. Aprendemos que vietnamitas, incluindo jovens, idosos e, às vezes, famílias inteiras, estavam sendo mortos aos milhares.

Paralelamente, acontecia a eleição presidencial de 1968. Política não era um tema nas conversas durante o jantar em minha família. O presidente Lyndon Johnson, com um movimento crescente de oposição à guerra liderado por jovens, desistiu da corrida na primavera. O vice-presidente Hubert Humphrey assumiu seu lugar e concorreu contra o republicano Richard Nixon. O Dixiecrata George Wallace, do Partido Independente, inflamava o racismo onde quer que fizesse campanha. Também havia outros candidatos progressistas pouco conhecidos.

Após a marcha em D.C., houve muita discussão no ônibus de volta para casa. Alguns achavam que as eleições não eram importantes. Outros diziam que Humphrey seria tão ruim quanto Johnson, pois ambos estavam presos ao anticomunismo. Outros ainda argumentavam que Nixon pioraria a situação, tanto no país quanto no Vietnã. E alguns acreditavam que quanto pior, melhor, pois isso levaria a uma revolução que acabaria com a guerra. Eu achei tudo muito confuso.

Nixon acabou vencendo por uma pequena margem no voto popular, 31,8 milhões contra 31,3 milhões. No colégio eleitoral, ele ganhou com folga, por 110 votos. E as coisas pioraram, muito pioraram.

Soldados americanos e vietnamitas, milhões deles, continuaram morrendo. Mas não houve revolução aqui nos EUA, e a guerra continuou. Alguns amigos me incentivaram a ler o Manifesto Comunista. Tentei, mas não consegui entender os termos. O que era a “burguesia”?

Por outro lado, o panfleto Marines em Santo Domingo! (1965), de Victor Perlo, era compreensível para mim. Juntei-me ao grupo Ciência para o Povo. Meus amigos de minha cidade natal me levaram mais tarde à Liga da Libertação dos Jovens Trabalhadores (YWLL) e ao Partido Comunista. Foi então que uma sensação de calma e uma visão de longo prazo acalmaram minha angústia.

Fim da história? Nem de longe

Agora é 2024. Temos a guerra por procuração entre Ucrânia, Rússia e a OTAN. O genocídio está sendo perpetrado em Gaza. Parece que nada mudou. Ainda assim, a realidade é que tudo mudou.

Onze países socialistas desapareceram. O berço do socialismo — a União Soviética — não existe mais. O equilíbrio de forças mudou a favor do capitalismo e do imperialismo. Isso trouxe consequências terríveis para o Iraque, o Afeganistão e, de maneiras diferentes, mas igualmente letais, para as nações do Sul Global.

Quão semelhante é a eleição entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump em comparação com Nixon e Humphrey? O presidente Biden desistiu da corrida em meio a um movimento crescente pela paz, liderado pelos jovens, e passou a nomeação para Harris. Há também candidatos independentes pouco conhecidos. Mas essa semelhança é uma ilusão.

Hoje, existe um movimento fascista de massa nos EUA, amplamente unido em torno de Trump. Charlottesville em 2017 e a tentativa de golpe no Capitólio em 2021 expuseram isso. Em Trump, a extrema direita encontrou seu porta-estandarte, e ele utiliza o racismo em todas as ocasiões. Em 1968, a campanha segregacionista de George Wallace obteve quase 10 milhões de votos no Sul — não foi pouca coisa. Mas, em 2020, Trump conseguiu mais de 74 milhões de votos, e seu apoio está espalhado por todo o país.

1968 até 2024

De 1968 até 2024, a batida constante do anticomunismo continua. No exterior, mata diretamente, como aconteceu na Indonésia (1965) e no Chile (1973). Os uigures, que são muçulmanos, estão sendo usados para projetar o antissocialismo e demonizar a China. A democracia, especialmente o papel da classe trabalhadora e dos sindicatos nela, quase sempre é o alvo interno do anticomunismo nos EUA.

Mas nem o planeta nem a política permanecem estáticos. Embora a direção política dominante pareça ser à direita, as tendências sempre têm suas contradições — essa é a natureza da dialética. A China socialista emergiu como uma grande potência. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) formam um bloco formidável, com outros países se juntando a eles. Lutas sindicais, mudanças climáticas, Black Lives Matter, mulheres e LGBTQ trouxeram milhões para a atividade progressista.

É preciso dar atenção especial à comunidade muçulmana em todas as questões, especialmente Gaza e Irã. A declaração de Harris apoiando a soberania palestina pode ser um ponto de partida para construir a unidade. No entanto, fazer mais progressos exigirá trabalho tanto dentro quanto fora das estruturas políticas existentes.

Vamos trabalhar com a mais ampla unidade, conter a maré fascista e ganhar o espaço para um amanhã revolucionário e socialista.

Len Yannielli é ativista ambiental de longa data, autor de “Lyme Disease”, “An Owl for the Killing” e da peça infantil “The Stolen Boy”.

Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy

Leia também:

1968: a revolução do eu

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