PUBLICADO EM 10 de jun de 2024
COMPARTILHAR COM:

Eleições na África do Sul: comunistas alertam sobre ameaça da direita

Mulheres com filhos passam por cartazes eleitorais em Tembisa, leste de Joanesburgo, África do Sul, 28 de maio de 2024, antes das eleições de quarta-feira, 29 de maio. Foto: Reprodução People´s World.

Mulheres com filhos passam por cartazes eleitorais em Tembisa, leste de Joanesburgo, África do Sul, 28 de maio de 2024, antes das eleições de quarta-feira, 29 de maio. Foto: Reprodução People´s World.

O partido Congresso Nacional Africano (ANC) da África do Sul não considerará quaisquer exigências de possíveis parceiros de coalizão para que o presidente Cyril Ramaphosa renuncie, disse um alto funcionário no dia 02 de junho, após a eleição. Isso ocorreu após o ANC perder sua maioria de 30 anos, após um resultado contundente nas eleições de 29/05.

A África do Sul agora está mergulhada em uma série de negociações para formar um governo de coalizão nacional e manter a estabilidade. O secretário-geral do ANC, Fikile Mbalula, afirmou que o presidente Ramaphosa permanecerá como líder do partido e qualquer demanda de outros para que ele renuncie para que as conversas avancem é uma “área proibida”.

“O presidente Ramaphosa é o presidente do ANC”, disse Mbalula nos primeiros comentários públicos da liderança desde os resultados históricos das eleições. Ele afirmou: “E se você vier até nós com a exigência de que Ramaphosa vai renunciar como presidente, isso não vai acontecer.”

Mbalula insistiu que o ANC estava aberto a conversas com todos os outros partidos políticos, em um esforço para formar um governo, mas “nenhum partido político ditará termos para nós, o ANC. Eles não ditarão. Se você vier até nós com essa exigência, esqueça.”

ANC ainda é o maior partido no parlamento

O ANC recebeu pouco mais de 40% dos votos, ficando bem aquém da maioria que manteve durante toda a jovem democracia da África do Sul. No entanto, o ANC ainda será de longe o maior partido no parlamento. Está em uma aliança tripartite com o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU) e o Partido Comunista Sul-Africano (SACP).

Mbalula reconheceu que “os resultados enviam uma mensagem clara ao ANC.” Ele disse: “Queremos enviar uma mensagem ao povo da África do Sul: ‘Nós os ouvimos’.” Ele afirmou que o ANC estava comprometido em formar um governo estável, mas reconheceu os problemas econômicos que a população enfrenta.

O desemprego está em níveis recordes, pairando perto de 32%, com a juventude enfrentando taxas de desemprego superiores a 50%. A taxa de pobreza é de 62%, de acordo com o Banco Mundial, enquanto a inflação para a faixa inferior da população está em 9,3%. Falta de energia e água são características regulares da vida de muitos.

Esses são os problemas que os partidos de oposição procuraram explorar. A Aliança Democrática ficou em segundo lugar na votação, com 21% dos votos. Ela atrai seu apoio predominantemente de pessoas que falam Afrikaans, de língua inglesa e de proprietários de empresas brancos.

Jacob Zuma

O novo Partido MK, do ex-presidente Jacob Zuma, ficou em terceiro lugar com 14%. Zuma foi forçado a renunciar em 2018, devido a uma série de escândalos de corrupção. Zuma disse que Ramaphosa deve deixar a liderança do ANC e do país antes que o partido esteja disposto a entrar em negociações de coalizão com o ANC.

Os Lutadores pela Liberdade Econômica (EEF), um partido de extrema-esquerda, ficaram em quarto lugar, com pouco menos de 10%.

Antes da eleição, o secretário-geral do SACP, Solly Mapaila, alertou sobre o perigo se DA e EEF conseguissem chegar ao poder. Ele disse que o DA “representa o neocolonialismo de um tipo especial e está a serviço de regimes imperialistas,” particularmente os EUA, e alinharia as políticas internas e externas da África do Sul com os desejos de Washington.

Estado Mínimo

O SACP trabalhou arduamente para lembrar aos eleitores que o DA também deixou claro que reverteria os programas de emprego público em nome da redução do tamanho do estado, cortaria os gastos com seguridade social e aboliria iniciativas populares do ANC, como um programa de financiamento estudantil e o Black Economic Empowerment.

Mapaila destacou “certas seções do capital” como os principais motores por trás do esforço para “desbancar o ANC e, por extensão, obliterar quaisquer perspectivas de uma Revolução Nacional Democrática bem-sucedida.”

Ele argumentou que o governo do ANC deve continuar, mas que deve haver uma reafirmação da “transformação nacional-revolucionária” e um fim às políticas econômicas neoliberais, a fim de construir sobre os progressos feitos desde a queda do apartheid em 1994.

O comunista reconheceu o que chamou de “as flagrantes fraquezas” de algumas das gestões econômicas do ANC, mas o membro do Comitê Central do SACP, Buti Manamela, disse que ainda era “a única força política valiosa que promove as necessidades, interesses e aspirações da classe trabalhadora e dos pobres.”

Com informações de People´s World.

Tradução: Luciana Cristina Ruy

Leia também:

Greve na África do Sul tem grande mobilização dos trabalhadores

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS