PUBLICADO EM 08 de abr de 2018
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2001 Uma Odisséia no Espaço; 50 anos de um clássico do cinema

O lançamento de um clássico do cinema, que está no ponto de partida da ficção científica moderna, acaba de completar 50 anos, nesta segunda feira (2 de abril): 2001: Uma Odisséia no Espaço.

Por Carolina Maria Ruy

2001 Uma odisséia no espaço é um filme que faz jus à máxima de que os clássicos não envelhecem. O passar dos 50 anos, completos em 02 de abril de 2018, desde seu lançamento, o engrandeceu ainda mais.

Na ficção cientifica de Stanley Kubrick a imagem do futuro não virou uma fantasia. 2001 é conduzido por uma austeridade e por uma percepção do caminho que o homem já começava a perseguir nos anos de 1960.

À frente de seu tempo, o filme conta a história de uma missão espacial em Júpiter, antes mesmo de o homem chegar à Lua (em 1969). Não por acaso, pois foi rodado em plena guerra fria, numa época em que os Estados Unidos e a União Soviética disputavam os avanços armamentistas empenhando-se nas missões espaciais.

O ritmo arrastado de seu enredo se nos introduz em um clima lento e impreciso, simulando a falta da pressão da força da gravidade. A sobriedade e clareza dos personagens, os olhares atentos, o som da respiração dos astronautas no vazio, enfim, tudo é pensado de modo a recriar um ambiente dominado pela física e pela matemática. Sua extrema racionalidade, entretanto, está longe de ser desencantada. Ao contrário, a dança das formas, das cores, dos sons e do silêncio se traduz numa vertigem hipnotizante. Exaltando a beleza das formas geométricas e da música clássica o filme explora os limites da técnica, da perfeição e da harmonia. O filme é uma reflexão sobre o homem, sobre sua relação com a natureza e sobre o conceito essencial do trabalho.

Se seu objetivo fosse apenas mostrar máquinas engenhosas e uma previsão do futuro, qual seria o significado de abordar a pré-história do homem, quando nossos ancestrais começaram a manusear objetos e usá-los para suas necessidades diárias? E ainda, se a intenção fosse somente expor os avanços tecnológicos, por que a história enveredaria por uma tensão entre o computador e o homem, quando o super computador HAL 9000 decide se vingar da tripulação ao notar que seria desligado?

Ao representar o momento em que os primatas passam a usar pedaços de madeira e ossos como ferramentas, que revelam as primeiras demonstrações concretas de consciência e de planejamento, e, ao saltar destes primeiros passos evolutivos para uma avançada sofisticação tecnológica, que permite ao ser humano explorar além dos limites de seu próprio planeta, o filme trata, fundamentalmente, da capacidade humana de raciocinar, elaborar e criar.

Ao descobrir a possibilidade de usar objetos rudimentares como ferramentas o homem deu um passo no sentido de desenvolver habilidades físicas e cognitivas e criar equipamentos mais complexos. A criação da roda, por exemplo, possibilitou muito mais tarde a criação do automóvel, que se sofisticou em inúmeras outras criações que podemos ver hoje.

Esta capacidade de elaborar que o homem desenvolveu está na base do conceito do trabalho. Isso pode parecer estranho pois a ideia de trabalho hoje em dia remonta a um sistema consolidado, que muitas vezes distancia o trabalhador do que se pode chamar de elaboração e processo criativo. O trabalho, dentro do modo de produção capitalista, evoluiu para uma forma alienante, em que o trabalhador é colocado como uma peça em um processo que não domina. Mas a ideia de trabalho também está sempre ligada ao esforço humano de inventar e produzir. Mesmo neste trabalho alienado e injusto há um processo produtivo em curso. O trabalho não é apenas o esforço repetitivo e cansativo de uma linha de produção. Em suas múltiplas facetas ele pode ser um ato criativo e de emancipação humana. 2001, Uma odisseia no espaço coloca no centro de sua argumentação o conceito mais elementar de trabalho e o quociente da responsabilidade do homem pela sua própria evolução.

Hoje muito do que está no filme se verificou na prática. A tecnologia foi ainda muito mais longe do que Kubrick imaginou. O homem, entretanto, continua a ficar perplexo ante ao desconhecido. O futuro não significou um completo conhecimento da realidade e domínio da natureza. Ao contrário, muitas outras questões surgiram e a natureza cobra pela ganância humana.

2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey)

EUA, 1968
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Douglas Rain, Donald Richter, Leonard Rossiter, Margaret Tyzack, Robert Beatty, Frank Miller, Edward Bishop, Edwina Carroll, Vivian Kubrick

 

 

 

 

 

Carolina Maria Ruy, jornalista,  coordenadora do Centro de Memória Sindical – CMS

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