PUBLICADO EM 12 de fev de 2020
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O mundo não quer uma guerra fria digital

A falha de Donald Trump em conseguir apoio internacional para apoiar sua guerra contra a companhia chinesa Huawei mostra o enfraquecimento da hegemonia dos Estados Unidos. Coerção não vai ser suficiente para Washington seguir o seu caminho.

Sede da Huawei em Shenzhen

Por Nicole M. Aschoff

O Reino Unido faz parte de uma longa lista de países que ignoraram as ordens dos Estados Unidos para evitar usar tecnologia da Huawei para construir sua rede de telefones celulares 5G. Semana passada, o Primeiro Ministro Britânico Boris Johnson anunciou que, depois de pesar os custos e benefícios, a Grã Bretanha decidiu prosseguir usando equipamento da Huawei para suprir uma porção das necessidades de suas redes não essenciais.

Os Estados Unidos não estão felizes. Johnson usar a Huawei é visto como um ataque direto na santidade do arranjo de compartilhamento de inteligência “Cinco Olhos” entre os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A Huawei, apesar de sua insistência de que opera independentemente do governo Chinês, é vista como uma frente para o Partido Comunista da China (CCP), por muitos oficiais americanos. Os falcões da China dizem que permitir a Huawei fornecer infraestrutura 5G pode prover a China uma porta traseira para dados confidenciais.

Durante o ano passado, a administração Trump implementou um número de medidas que efetivamente impedem a entrada da Huawei (junto com outras companhias chinesas) no mercado americano. Agências do governo como o Pentágono e a NASA estão proibidos de comprar equipamentos da Huawei, e a companhia foi colocada na “lista de entidades” do Departamento de Comércio, essencialmente barrando firmas americanas de fornecer produtos para ela, ou suas afiliadas. A diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou (filha do fundador da Huawei, Ren Zhengfei), também foi presa no Canadá, sob acusações de fraude bancária. Ela permanece em prisão domiciliar em Vancouver, Columbia Britânica.

Ao mesmo tempo, o Secretário de Estado Mike Pompeo e o Secretário de Comércio, Wilbur Ross, foram numa turnê mundial, tentando pressionar oficiais eleitos a implementar restrições similares – e ameaçando parar de compartilhar informações de inteligência se eles não implementarem. Os oficiais americanos insistiram que sua mensagem é centrada em preocupações políticas, ao invés de econômicas. Em Délhi, Ross declarou que “qualquer um que pense que nós estamos fazendo isso por protecionismo, simplesmente não sabe os fatos. Nós esperamos que nossa parceira geopolítica Índia não se sujeite inadvertidamente a riscos de segurança indesejáveis”.

Apoiando a causa, Steve Bannon produziu um filme de 15 minutos, “Claws of the Red Dragon’ (Nota: garras do dragão vermelho), “inspirado em eventos reais tirados das manchetes sobre a Huawei.” O filme retrata uma companhia de tecnologia chinesa parecida com a Huawei (completa, com filha mimada executiva) que está atuando como um “cavalo de Tróia” para o Partido Comunista Chinês. Depois de exibir o filme, Bannon disse a plateia: “É dez vezes mais importante desligar a Huawei nos Estados Unidos do que fazer um acordo comercial.”

Contudo, a campanha de pressão não funcionou. Até agora, só Austrália e Japão seguiram as ordens dos Estados Unidos. Alguns países, como a Índia, ainda têm que tomar uma decisão final, mas insistem que eles não vão ser balançados por pressões externas. Outros concordaram em conceder acesso parcial. A Alemanha, por exemplo, apesar de feroz debate dentro da União Cristã Democrática dominante e de avisos de dentro de sua própria comunidade de inteligência, concordou em deixar a Huawei investir no País.

Muitos países adotaram a Huawei de braços abertos. México, Chile e Cuba sinalizaram seu apoio. A Rússia é um firme sim. Tailândia, Cingapura, Filipinas, Malásia, Indonésia, e logo Camboja, são todos Time Huawei. Apesar dos esforços da administração de Trump, quarenta países assinaram contratos com a Huawei no último ano, metade deles na Europa.

O flagrante desdém pelos desejos e ameaças da Casa Branca, incluindo os principais aliados e parceiros comerciais americanos, é significante e demonstra a evolução do capitalismo global nas últimas duas décadas. Três pontos se destacam.

Primeiro, enquanto a produção (incluindo produção de tecnologia digital) se tornou profundamente integrada em escala global, muitos setores são dominados por poucas firmas multinacionais chave. Um desses é o de infraestrutura de redes 5G.

Nicole M. Aschoff é autora de The New Prophets of Capital e The Smartphone Society: Technology, Power, and Resistance in the New Gilded Age (não traduzidos para o português).

Fonte: Jacobin

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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