PUBLICADO EM 30 de maio de 2024
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Um novo modelo sindical; por Ricardo Patah

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)/Foto: Arquivo

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)/Foto: Arquivo

As rápidas e profundas transformações no mundo do trabalho, impulsionadas pela inteligência artificial, novas tecnologias e a expansão da terceirização, exigem um movimento sindical adaptado e forte.

Em meio a uma crise ambiental devastadora, é essencial que os sindicatos evoluam para enfrentar esses desafios, garantindo a representatividade e defesa dos interesses dos trabalhadores em uma democracia cada vez mais ameaçada.

Este artigo de Ricardo Patah, publicado no O Globo, discute a necessidade de uma reestruturação sindical baseada em transparência, autorregulamentação e financiamento sustentável, buscando um modelo sindical que responda às demandas contemporâneas e fortaleça a cidadania no Brasil.

Confira o artigo

Por Ricardo Patah

As mudanças no mundo do trabalho mostram um futuro cheio de desafios inéditos. Eles surgem no bojo da inteligência artificial e das tecnologias que emergem a todo instante, além das estratégias de negócios que comportam a terceirização sem limites. Tudo isso ampliado pela crise ambiental devastadora. A velocidade crescente das transformações exige que o movimento sindical promova estudos e estratégias para encará-las.

Vencer esses desafios é essencial para garantir a representatividade da classe trabalhadora. É fundamental que existam sindicatos fortes para a defesa dos interesses dos trabalhadores dentro de um governo democrático. Os sindicatos, historicamente, estão no nascedouro da democracia moderna. Vale lembrar que as democracias têm sido duramente atacadas pela ultradireita, pelo fascismo e pelo neoliberalismo, que difundem o ódio e o individualismo exacerbado.

A palavra “sindicato” está desgastada, obviamente, mas ainda é a que define melhor a representatividade dos trabalhadores. O sindicalismo forma o maior movimento democrático do mundo, presente desde o local de trabalho, nas negociações coletivas, na participação institucional e na vida pública dos países.

No Brasil, a reforma sindical feita em 2017 — no governo Temer, sem ouvir os trabalhadores — levou à desfiguração profunda da CLT, com grande intenção de sufocar o movimento sindical. A CLT tinha de ser mudada, mas não da forma como foi.

Defendemos que a reestruturação aconteça baseada em três pilares. O primeiro pilar é uma repactuação da desfiguração de 2017. Não queremos a revogação dessa lei, mas repactuar alguns tópicos, como as regras para o trabalho intermitente. O segundo é a autorregulamentação dos sindicatos. É preciso ter eleições transparentes, democráticas e prestação de contas para que todos saibam o que o sindicato faz com o dinheiro. E o terceiro pilar é definir a forma de custeio do movimento sindical para que as entidades mantenham suas atividades em defesa do trabalhador. Afinal, as convenções coletivas negociadas pelos sindicatos conquistam benefícios que valem para todos os trabalhadores. Se todo mundo recebe, todo mundo tem de contribuir.

Temos a necessidade de um movimento sindical fortalecido para combater uma série de adversidades, como informalidade, trabalho análogo à escravidão, desigualdade, para transição para uma economia verde e qualificação profissional para atender às necessidades trazidas pela tecnologia.

Esses desafios que se apresentam ao movimento sindical brasileiro exigem participação ativa dos trabalhadores na nova estrutura que se desenha. Os sindicatos precisam se dedicar a essa reorganização, buscando alternativas efetivas para o crescimento da participação de todos. O mundo mudou, e precisamos estar preparados, construindo um novo modelo sindical a várias mãos. Com esse engajamento, nos tornaremos um país grande não só em território, mas também em cidadania.

Ricardo Patah, formado em administração e Direito, é presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT)

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