PUBLICADO EM 15 de out de 2024
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Um ano de cumplicidade dos EUA no genocídio em Gaza

Em 07/10/2024 Israel lançou sua grande guerra contra Gaza após o ataque do Hamas. O governo americano estava ciente de que seu aliado estava embarcando em uma campanha que resultaria em acusações de crimes de guerra. No entanto, isso não impediu a administração Biden de armar e apoiar o genocídio que vem sendo perpetrado desde então.

Um ano de cumplicidade dos EUA no genocídio em Gaza Foto MOHAMMED SALEM EBC

Um ano de cumplicidade dos EUA no genocídio em Gaza Foto MOHAMMED SALEM EBC

Há um ano (completo em 07/10/2024), quando Israel lançou sua grande guerra contra Gaza após o ataque do Hamas, o governo dos EUA estava plenamente ciente de que seu aliado estava embarcando em uma campanha que resultaria em acusações de crimes de guerra contra Benjamin Netanyahu e outros líderes israelenses. No entanto, como o mundo pôde ver, esse conhecimento prévio não impediu a administração Biden de armar e apoiar o genocídio que vem sendo perpetrado desde então.

Uma série de e-mails entre funcionários do Departamento de Estado, do Pentágono e da Casa Branca, de 11 a 14 de outubro de 2023, foi vazada, revelando conversas sobre o que estava por vir. Eles foram publicados pela Reuters no último dia 4 de outubro.

Depois de ler uma avaliação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha sobre o custo humano do que Israel planejava para Gaza — evacuações em massa, bombardeios, negação de ajuda — Dana Stroul, então vice-secretária adjunta de Defesa dos EUA para o Oriente Médio, disse aos principais assessores do presidente Joe Biden, em 13 de outubro de 2023, que estava “arrepiada”.

Escrevendo diretamente ao principal conselheiro de Biden, Brett McGurk, Stroul disse que a Cruz Vermelha “não está pronta para dizer isso publicamente, mas está alarmada em particular que Israel está prestes a cometer crimes de guerra.” Ela destacou a impossibilidade de evacuar um milhão de civis de Gaza, como Israel estava ordenando naquele momento.

“Nossa avaliação é que simplesmente não há como realizar um deslocamento dessa escala sem criar uma catástrofe humanitária”, escreveu Paula Tufro, uma importante assessora da Casa Branca encarregada de formular uma resposta humanitária à guerra, em outro e-mail. Levaria “meses” para implementar a infraestrutura necessária para fornecer “serviços básicos”, como comida, água e abrigo, para mais de um milhão de pessoas, afirmou.

Tufro implorou à Casa Branca que pressionasse Israel para desacelerar sua ofensiva. “Precisamos que o GOI [Governo de Israel] pise no freio ao empurrar as pessoas para o sul”, escreveu Tufro.

Claro, Netanyahu acelerou ainda mais, e o imperialismo dos EUA continuou a fornecer combustível para seu tanque.

Mortes de Palestinos pode chegar a 335.500

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 41.909 palestinos em Gaza foram mortos por Israel nos últimos 365 dias. Outros 97.303 ficaram feridos. A maioria em ambas as categorias são mulheres e crianças. Essas são as vítimas que foram contabilizadas; milhares mais estão desaparecidas ou soterradas sob os escombros.

Cálculos baseados em um estudo da revista médica The Lancet estimam que o verdadeiro número de mortes por guerra e doenças causadas pelo conflito pode chegar a 335.500 até agora – ou 14% da população de Gaza. Outros dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas — cerca de 90% da população de Gaza.

Além das vítimas fatais e dos deslocados, como mais podemos quantificar o genocídio, e especialmente o papel do imperialismo dos EUA nele?

Custos da guerra de Israel

Pesquisadores do Instituto de Compreensão do Oriente Médio e da Universidade Brown estão contabilizando os custos da guerra de Israel — tanto humanos quanto financeiros. Os ativistas pela paz nos EUA devem se armar com alguns desses cálculos ao falar com seus colegas de trabalho, vizinhos e funcionários eleitos sobre a necessidade de lutar por e conquistar um cessar-fogo:

  • US$ 107 em impostos — é o custo médio que cada contribuinte americano gastou no último ano para financiar as armas que o exército israelense usou para matar civis palestinos.
  • US$ 18 bilhões — o valor apropriado pelo Congresso dos EUA para armas para Israel desde 7 de outubro. (Compare com os US$ 9,2 bilhões gastos na Agência de Proteção Ambiental em meio à crise climática).
  • US$ 4,86 bilhões — o valor que os EUA gastaram bombardeando o Iêmen em apoio à guerra de Israel.
  • US$ 20 bilhões — o valor adicional para Israel anunciado pela administração Biden em agosto, além dos US$ 18 bilhões já enviados pelo Congresso. Uma votação no Senado dos EUA é esperada em novembro.
  • 600 entregas de armas dos EUA para Israel de outubro de 2023 a agosto de 2024. Em média, isso significa um novo carregamento a cada 12 horas.
  • 50.000 toneladas de armas — o volume enviado para Israel desde outubro de 2023.
  • Basicamente 100% — a porcentagem de munições usadas por Israel contra os palestinos em Gaza que foram fornecidas pelos EUA.
  • 75.000 toneladas de bombas — lançadas por Israel em Gaza, equivalente a cinco bombas atômicas de Hiroshima e mais do que os EUA lançaram na Alemanha nazista durante toda a Segunda Guerra Mundial.

E isso em apenas um ano de genocídio e guerra, mas as armas vêm fluindo dos EUA para Israel há mais de seis décadas.

Durante os 66 anos de 1959 a 2024, os EUA forneceram a Israel pelo menos um quarto de trilhão de dólares ajustados pela inflação (US$ 251,2 bilhões) em ajuda. Bilhões mais foram gastos em armas e implantações militares dos EUA em nome ou em apoio a Israel.

Israel é dependente dos EUA e os EUA precisam de Israel

Agora, Netanyahu e seu gabinete de extrema-direita estenderam sua guerra contra a Palestina para o Líbano e estão mirando no Irã com o objetivo de mudança de regime.

Como mostram os números acima, Israel é completamente dependente dos EUA. Seria incapaz de realizar suas campanhas de agressão sem a ajuda dos EUA. A administração Biden poderia acabar com o genocídio amanhã, se quisesse — simplesmente parando os envios de armas. O comportamento de Netanyahu mudaria imediatamente se não houvesse bombas, munições ou projéteis sendo enviados.

Mas os envios e os gastos intermináveis não vão parar, a menos que o povo americano os obrigue a parar, porque o imperialismo dos EUA precisa de Israel como seu aliado mais confiável e base militar no Oriente Médio, uma encruzilhada geográfica estratégica e ainda uma das maiores fontes mundiais de petróleo e gás.

Mesmo que a classe dominante dos EUA não queira a guerra mais ampla que Netanyahu está promovendo, ela também é movida pelo interesse imperialista de sustentar e manter um Israel fortemente armado para servir como procurador contra o Irã e um posto avançado do poder dos EUA na região.

Pagando com a vida e futuro

Esse é o fator mais influente para o motivo pelo qual a administração Biden, e todas as outras administrações, continuam financiando e armando Israel — um fator muito mais importante do que as ações do lobby pró-Israel nos EUA, por mais poderoso que este possa ser.

O povo palestino — e agora o povo libanês — pagaram e continuam pagando o preço dessa guerra com suas vidas, lares e futuros. O povo americano pagou por isso com nossos impostos.

Ao não alterar o curso em relação à sua política de cheque em branco de apoio a Israel, a administração Biden (e a campanha presidencial de Kamala Harris) estão deixando uma abertura para o candidato favorito de Netanyahu, Donald Trump, vencer a eleição em 5 de novembro. Se isso acontecer, nossa já limitada democracia também pagará o preço pela cumplicidade imperialista dos EUA no genocídio em Gaza.

C.J. Atkins é editor-gerente do People’s World. Ele possui um Ph.D. em ciência política pela York University em Toronto e tem experiência em pesquisa e ensino em economia política e nas políticas e ideias da esquerda americana.

Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy

Leia também:

Oriente Médio: Israel, Hamas, Palestina: entenda a guerra

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