PUBLICADO EM 21 de abr de 2023

Trabalhadores de frigoríficos celebram os 10 anos da NR 36

NR 36 em debate pelos trabalhadores da área de frigoríficos

NR 36 em debate pelos trabalhadores da área de frigoríficos

Foram dois dias intensos, com palestras, debates, exposições e interação com os mais de 400 participantes. O seminário “Trabalho Digno em frigoríficos – Comemoração aos 10 anos da NR 36” aconteceu em Brasília nos dias 19 e 20 de abril, com realização do MPT – Ministério Público do Trabalho, ESMPU – Escola Superior do Ministério Público da União, ENAMAT – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, CNTA – Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, Contac – Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores da Alimentação e UITA – União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação.

Ao final do evento, a advogada dra. Rita Vivas, ladeada por Nelson Morelli (Contac), Gerardo Iglesias (UITA) e Artur Bueno de Camargo (CNTA), leu o documento assinado pelas três entidades e nomeado Carta de Brasília – um extrato do que foi apresentado durante os dois dias de seminário e os desafios de luta que se apresentam para o futuro do trabalho em frigoríficos.

Confira abaixo, a íntegra do documento:

Carta de Brasília

Evento “Trabalho Digno em Frigoríficos” – CNTA, CONTAC e UITA

A CNTA – Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, a CONTAC – Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT e a UITA – União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação – e suas entidades filiadas e parceiras – reuniram-se nos dias 19 e 20 de abril de 2023, durante o evento “Trabalho Digno em Frigoríficos – Comemoração de 10 anos da NR 36”, realizado em conjunto com o MPT – Ministério Público do Trabalho, com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, e a Escola Superior do Ministério Público da União, contando com a presença de mais de 400 lideranças sindicais e trabalhadores, além de convidados e autoridades, onde se debateu as condições de trabalho nos frigoríficos brasileiros. Como resultado, as três entidades acima nomeadas, representando os trabalhadores em frigoríficos, prepararam e divulgam esta Carta de Brasília, documento histórico pelo seu significado nacional e internacional na luta dos trabalhadores por um ambiente de trabalho digno, salubre, humano e justo.

As razões que nos levam à elaboração desta carta são as seguintes:

1 – É o momento de celebrar os 10 anos da NR 36, publicada em 19 de abril de 2013, que reduziu a precarização das condições de trabalho, oferecendo parâmetros mínimos para garantia da segurança e da saúde dos trabalhadores em frigoríficos;

2 – A NR 36 é resultado de uma luta intensa da classe trabalhadora e do movimento sindical, uma conquista que deve ser lembrada, celebrada e, mais que tudo: defendida! Trata-se de um marco para um setor que infelizmente ainda abriga um trabalho precário, que adoece, mutila e torna inválidos muitos trabalhadores e trabalhadoras, constituindo, em si, um desafio para a defesa dos básicos Direitos Humanos, onde muito ainda há que ser feito. O sofrimento dos trabalhadores em frigoríficos não pode, em hipótese alguma, ser banalizado.

3 – Nos últimos anos, a NR 36, instrumento decisivo para a diminuição do número de acidentes e doenças, tem sido objeto de questionamentos e tentativas de “adequações” ou “harmonizações”, consideradas inapropriadas, inoportunas e desnecessárias – tentativas que, na verdade, representavam a sua precarização;

4 – A NR 36 continua salva e salvando vidas. E para que assim continue, com o suporte dos aparelhos de Estado, do movimento sindical brasileiro e internacional e, em especial, dos trabalhadores, é preciso que:

1 – Seja cancelado o processo de revisão da NR 36, e impedida toda e qualquer tentativa de flexibilização ou “harmonização” da mesma;

2 – Se assegure a efetiva aplicação e cumprimento da NR 36;

3 – Se priorize toda e qualquer adequação dos ambientes de trabalho no setor de frigoríficos e sejam potencializadas as ações de fiscalizações da auditoria fiscal do trabalho;

4 – Se reduzam as jornadas na atividade, reconhecidamente penosas e insalubres, para, no máximo oito horas diária, de segunda a sexta-feira, sem redução salarial e sem aumento do ritmo de trabalho;

5 – Seja realizada a adequação do ritmo de trabalho em frigoríficos conforme parâmetros definidos na ABNT NBR ISO 11228-3;

6 – Sejam adotadas medidas especiais de proteção ao trabalho das mulheres, com atenção especial às gestantes, assim como aos trabalhadores em situação de vulnerabilidade, como deficientes, Povos Indígenas e migrantes;

7 – Seja imediatamente recomposto o quadro de Auditores Fiscais do Trabalho com o endurecimento das punições às empresas infratoras;

8 – Seja ampliado o Projeto Nacional de Adequação das Condições de Trabalho nos Frigoríficos do MPT, instrumento de extrema importância no apoio à luta dos trabalhadores em frigoríficos;

9– Seja promovida e divulgada em todos os meios a consciência de que a NR 36 está alinhada com os parâmetros definidos nos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Agenda 2030) e que a adoção da norma representa avanços na concretização dos compromissos com os Direitos Humanos, embora haja ainda muito a ser conquistado;

10 – Que a NR 36 seja símbolo de organização, mobilização e luta das entidades sindicais e dos trabalhadores por um ambiente de trabalho digno, salubre, humano e justo.

Tais demandas são urgentes e imprescindíveis na medida em que os protocolos e normas de medicina e segurança no trabalho existentes não são plenamente aplicados por todas as empresas do setor. Assim, continuam em risco a saúde e a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras em frigoríficos, infelizmente. E essa situação tem que mudar! Existe vida atrás do pacote. Quanto vale a vida do trabalhador e da trabalhadora em frigoríficos? O trabalhador e a trabalhadora não são invisíveis.

Brasília, 20 de abril de 2023.

Artur Bueno de Camargo/CNTA

Nelson Morelli/CONTAC

Gerardo Iglesias/UITA

 

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