PUBLICADO EM 17 de jan de 2018
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Toyota avalia adotar terceiro turno no Brasil e Argentina

Os japoneses não têm o costume de adotar o trabalho em três turnos nas fábricas. Segundo eles, as máquinas também precisam “descansar” e passar pelo mínimo de manutenção.

Mas, aos poucos, eles percebem que em regiões como a América Latina, oscilações econômicas exigem alternativas rápidas. Por isso, o presidente da Toyota na América Latina, Steve St Angelo, que é americano, está prestes a quebrar o paradigma oriental. Pressionado pelo aumento de demanda, ele disse ontem ao Valor que estuda a criação do terceiro turno na fábrica de Sorocaba (SP) e em Zárate, na Argentina. Será a primeira vez, em 60 anos de história no Brasil, que as linhas da Toyota trabalharão 24 horas por dia.

O trabalho em três turnos não é a única novidade do momento para os japoneses da Toyota. É também no Brasil que eles estão aprendendo que um carro híbrido pode funcionar com etanol. Algumas unidades do modelo Prius com motor movido com o combustível derivado da cana começaram a ser testadas no Brasil, segundo Steve.

Enquanto aguarda os resultados dos testes, o executivo mantém a expectativa de que o governo anuncie, em breve, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos elétricos e híbridos. Com isso, pretende dar continuidade ao projeto de produzir um carro híbrido no país cujo modelo não está definido.

Montadora japonesa testa modelo Prius híbrido com motor movido por etanol para ser produzido no Brasil

Antes disso, no entanto, Steve, como é conhecido no setor, diz que o consumidor brasileiro precisa tomar gosto pelos veículos movidos com essas novas tecnologias, representadas pelos elétricos e híbridos. O elétrico puro precisa ser carregado em tomada. Já o híbrido tem dois motores. Um deles, a combustão, que usa combustível, é que faz o elétrico funcionar. Até hoje, os carros híbridos vendidos em todo o mundo só usam gasolina. Mas a Toyota garante que testes no Japão comprovaram que o híbrido a etanol é um dos modelos menos poluentes do mundo.

Há poucos dias, estiveram no Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) para tratar do envolvimento dos fornecedores na produção de um híbrido movido a etanol. A ideia ganhou o apoio da indústria de componentes. “Há uma oportunidade extraordinária no país para esse tipo de veículo, já que temos o conhecimento do motor flex e, ainda, uma extensa rede de postos de abastecimento de etanol”, afirma o diretor do Sindipeças, Flávio Del Soldato.

A questão das novas tecnologias quase passou despercebida nas discussões do Rota 2030, o novo programa automotivo que ainda não foi divulgado pelo governo por resistências, na equipe da Fazenda, à concessão de incentivos. Quando percebeu-se que o tema dos elétricos e híbridos merecia entrar nas discussões formou-se um grupo de trabalho, com representantes da indústria e governo e que, a partir de hoje, se reunirá todas as quartas-feiras, em Brasília.

Steve viajou a Detroit esta semana para participar do salão do automóvel e disse estar incomodado com a obsessão dos debates em torno do carro autônomo. “Muita gente fala como se amanhã for acordar e um carro sem motorista o estará aguardando à porta”. Para ele, essa realidade é ainda muito distante em países como o Brasil e outros da América Latina, com carência de infraestrutura. “Concordo que esse será o formato dos carros no futuro, mas, como todas as tecnologias que, ao longo da história foram incorporadas aos veículos, acontecerá aos poucos.”

Steve prepara-se para um ano de trabalho intenso, provocado, sobretudo, pela recuperação das vendas de veículos no Brasil e em toda a América Latina. O crescimento de vendas da marca na região, de 7% em 2017, coincide com o percentual de expansão no mercado brasileiro, onde a Toyota ocupou, no ano passado, o sexto lugar, com fatia de 8,75%. Na Argentina, o resultado de vendas foi ainda melhor, com avanço de 13%.

Para tentar ganhar mais participação no mercado, a montadora prepara a fábrica de Sorocaba para a o início de produção do Yaris, um modelo médio com lançamento no Brasil previsto para o segundo semestre e que absorverá investimento de R$ 1 bilhão. É para essa mesma fábrica que Steve planeja o terceiro turno. Segundo ele, a decisão precisa ser tomada neste semestre.

Não é, porém, por conta do novo carro que Sorocaba precisa operar em três turmas. O aumento da demanda levou as três fábricas da Toyota no país e uma na Argentina a iniciar o ano a plena capacidade. “Alguns acham que a América Latina está quietinha e não tem importância [para montadoras]. Mas na Toyota, a região teve participação importante para elevar as vendas da companhia em 2017”, diz o executivo, que projeta para o mercado brasileiro deste ano pelo menos 2,5 milhões de veículos leves, o que representará avanço de mais de 15% em relação a 2017. Para ele, o período eleitoral não ameaça o cenário promissor: “As pessoas estão cansadas de falar sobre recessão e querem voltar à normalidade”.

FONTE: Valor Econômico

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