PUBLICADO EM 03 de abr de 2018
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Social democracia, João Dória e a crise do PSDB

Foto: Nilton Fukuda

PSDB _Enquanto a ala de esquerda  aposta em uma guinada progressista na prefeitura de São Paulo, tucanos tradicionais lamentam a força que Dória acumulou. Muitos já saíram do partido.

Bruno Covas: identidade com a esquerda

O portal BBC Brasil trouxe ontem, 2/4, um perfil do futuro prefeito de São Paulo, Bruno Covas, definindo-o como alguém que “começou na militância política em grupo mais identificado com a esquerda do partido”.

Bruno participou, por anos, do grupo “Esquerda Pra Valer”, coordenado pelo ativista Fernando Guimarães que afirmou que “sua posição do grupo contrária à redução da maioridade penal, em discussão no Congresso em 2015, acabou afastando-o – ele era favorável à redução”. Mais recentemente, o grupo se posicionou também contra uma pauta ferrenhamente defendida pelo ex-deputado: o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em entrevista à BBC Brasil Guimarães disse que, apesar disso, “não vê em Bruno uma mudança ideológica brusca”, que “hoje ele é de centro-esquerda” e ainda que “O Bruno vai trazer para a gestão um DNA tucano que o Doria não tem. Ele vem da militância, não do empresariado”.

João Dória: perfil empresarial

Por outro lado, o jornal Folha de São Paulo de hoje, 3/4 , mostra que a ascensão de João Dória no partido tem causado um grande descontentamento justamente por ele apresentar um perfil ultraliberal que se distancia da social-democracia.

Segundo apurou o jornal, a candidatura do prefeito paulistano ao governo do estado, contrariou até seu padrinho político, Geraldo Alckmin.

O fator Dória já desencadeou a desfiliação de quadros como Andrea Matarazzo, Léo Coutinho, Barros Munhoz, que afirmou que “O PSDB tinha de ter a humildade de apoiar o candidato do PSB, Márcio França, que foi um companheiro leal do governador e fez toda a articulação da eleição de Doria em 2016” e Mario Covas Neto, filho de Mário Covas, que saiu neste ano dizendo que “O PSDB não representa mais os ideais do meu pai. O partido virou um trampolim para chegar à máquina partidária”.

Dória também já foi criticado publicamente por caciques do partido como Alberto Goldman, José Serra e Arnaldo Madeira. Este último chegou a afirmar, segundo a reportagem da Folha, que no PSDB “nem Alckmin, presidente do diretório nacional, manda mais (…) O partido está na mão do Doria, quem manda é o Doria”.

E a reportagem aponta justamente o jovem Bruno Covas como um dos principais líderes desta nova safra de tucanos.

“Banho de inovação e competitividade”

Em novembro do ano passado Fernando Guimarães, líder do PSDB Esquerda Pra Valer,  afirmou, em entrevista ao Radio Peão Brasil, que “O PSDB tem como bases quatro doutrinas, expressas no nosso programa: o socialismo democrático, a social democracia, a democracia cristã e o social liberalismo. Nenhuma destas correntes dialoga com o neoliberalismo”. Já o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris, 34, que é da, digamos assim, nova safra, afirmou que o foco é “trabalhar para atrair capital externo, criar novos mercados, dar um banho de inovação e competitividade” e que “Dória simboliza para a nova geração tudo o que é modernidade, o que a gente espera de uma gestão pública”.

Enfim, parece que o João Trabalhador tem trabalhado muito para si próprio. Quanto ao Partido da Social Democracia Brasileira, o que o atormenta é mais do que uma crise de identidade no partido, é uma crise existencial.

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