Mais de 15 mil trabalhadores terceirizados que prestam serviço para a Petrobras na Bahia podem ficar sem emprego. Isso acontece porque a empresa pretende vender um conjunto de 28 campos de produção terrestre no estado. Na prática, esta venda resulta no fim das operações da Petrobras na Bahia.
A estatal justifica que essa operação está alinhada à estratégia de otimização de portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia. A medida foi criticada pelo Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro), principalmente por conta de dois fatores: demissão em massa e monopólio privatizado do setor.
“Abrindo o mercado para as empresas privadas, vamos ter um modelo predatório. Vendendo em blocos, como estão fazendo, vai gerar um monopólio privado. Com isso, vai ter uma redução de direitos e salários sem igual”, explica Leonardo Urpia, diretor de comunicação do Sindipetro Bahia.
O Polo que está à venda possui 1.700 poços em operação, 19 estações coletoras, 12 pontos de coleta, 2 estações de tratamento de óleo, 6 estações coletoras e compressoras, 4 estações de injeção de água, aproximadamente 980 km de gasodutos e oleodutos, além das bases administrativas de Taquipe, Santiago, Buracica, Araçás e Fazenda Bálsamo.
Somente na Bahia, são 3 mil concursados e mais de 15 mil terceirizados. Fora toda a cadeia produtiva que é impactada, já que a Petrobras responde por cerca de 15% da produção industrial, 16% das exportações e 20% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na Bahia.
Para Urpia, a atual gestão da Petrobras está entregando a exploração de petróleo para a iniciativa privada. “Abrindo mão de reservas energéticas, que garantem a industrialização e a segurança do país para entregar esse grande patrimônio à iniciativa privada, que só visa o lucro, facilitando a exploração predatória. Com isso, perde o país, os estados, municípios e, principalmente, o povo baiano e brasileiro”.
Em entrevista ao colunista de A TARDE, Armando Avena, o Diretor de Relacionamento Institucional da Petrobras, Roberto Furian Ardenghi, justificou a medida e disse que a Bahia vai se beneficiar do processo.
Ele disse ainda que a venda dos campos maduros vai permitir que médias empresas entrem no negócio petrolífero, e elas precisarão investir, aumentando a produção e gerando emprego e renda em várias etapas do processo.
Reação
Apesar da justificativa da empresa, o sindicato não descarta a possibilidade de entrar em greve contra a venda das operações da estatal, que foi classificada como ‘decisão desastrosa’. “Agora, com a retomada do processo de privatização, os trabalhadores estão se reunindo para garantir a manutenção das unidades. Estamos pensando em greve? Estamos, e pensando também em outras paralisações”, explicou Urpia.
“Nos reunimos com diversos representantes, realizamos reuniões com trabalhadores das refinarias que estão à venda. Os trabalhadores estão se reorganizando. Muito provavelmente, vamos ter um novo movimento”, disse.
Campanhas para dialogar com a sociedade civil também estão sendo planejadas pelo sindicato. “Onde há privatização, há um custo maior do produto derivado do petróleo, o gás de cozinha. A ideia é fazer uma campanha para trazer a sociedade e vai fazer mal ao bolso dos cidadãos também”, completou.
Supremo
O anúncio da Petrobras foi feito após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar, no começo de outubro deste ano, a venda das refinarias da estatal sem aval. O planejamento, entretanto, é mais antigo: a venda de refinarias é parte do plano de desinvestimentos da Petrobras, anunciado em 2016.
À época, a empresa informou que iria focar sua atuação nas atividades de exploração de petróleo e gás em águas profundas. O debate em torno das unidades de refino envolve a negociação de valores entre R$ 63,6 bilhões a R$ 83,6 bilhões, pelas contas da XP Investimentos.
O plano de venda da estatal é uma das promessas de campanha do então candidato Jair Bolsonaro (sem partido). O presidente comemorou a determinação do Supremo. “Parabenizo o STF, que, por 6 x 4, autorizou a Petrobras liberar venda de refinarias, sem o aval do Congresso”, escreveu o mandatário em suas redes sociais.
Entre janeiro de 2019 e julho de 2020, no governo Bolsonaro, a Petrobras abriu cerca de 48 processos de vendas de ativos, uma média de 2,5 por mês. No governo de Michel Temer, a média foi de 1,4 por mês, número oito vezes maior que a média de 0,4 por mês verificada na segunda gestão Dilma Rousseff.
Em todo o país, a Petrobras tem cerca de 46 mil funcionários no seu quadro de pessoal e estima-se que tenha mais de 320 mil trabalhadores que prestam serviços à petrolífera por meio da terceirização de mão-de-obra.
Além de peração na Bahia, a empresa vendeu nos últimos meses o campo de Baúna, na Bacia de Santos (SP) e 11 concessões de campos de produção terrestres, com instalações integradas, localizadas na Bacia Sergipe-Alagoas.
Fonte: A Tarde