Por Carolina Maria Ruy
No Brasil o rock é homenageado em 13 de julho, considerado o dia mundial do rock. A ideia foi lançada em homenagem ao Live Aid, o grande show ocorrido nesse dia, em 1985, organizado por Bob Geldof, contra a fome na Etiópia. A ideia havia sido proposta por Phil Collins. O show foi apresentado em Londres (Inglaterra) e Filadélfia (EUA), e transmitido ao mesmo tempo para todo o mundo. Lá estavam The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, Scorpions, U2, Paul McCartney, Phil Collins, Eric Clapton e Black Sabbath.
Aquele show estava dentro da tradição de participação social que o rock exibia desde sua origem. E que levava muitos artistas a usar o prestígio ganho na indústria cultural, em benefício de causas coletivas. Uma tradição de inconformismo que o rock traz desde sua origem.
Apesar de se chamar “Dia Mundial do Rock”, a data só é comemorada no Brasil, desde 2005.
Fenômeno da cultura de massas do século 20, o rock and roll começou com a primeira gravação de Rock around the clock, por Bill Haley and the Comets, em 12de abril de 1954.
Naqueles anos, um disc-jóquei de Cleveland, Ohio (EUA) havia descoberto o potencial mercadológico do rhythm-and-blues e percebeu que ele poderia atingir o público branco se eliminasse a carga demasiado negra que aquele nome evocava.
Além disso era necessário encontrar um branco capaz de cantar como um negro,que ademais pudesse se tornar símbolo sexual e que fosse capaz de “transformar aquele modismo numa verdadeira revolução”, como diz o historiador Paulo Chacon.
Bill Halley não cabia nessa definição: “era muito velho e gordo, além de pouco criativo,para resistir às novas exigências”. Quando, naquele mesmo ano, Elvis Presley se apresentou numa emissora de rádio cantando That’s all right, estava descoberto aquele que seria a primeira grande estrelade massas do rock. Ele surpreendeu o público ao mostrar sua cara pelo fato de não ser negro, embora cantasse músicas que lembravam o gospel,o jazz e o blues. A juventude se identificou com aquele incipiente movimento, e o capitalista Tom Parker, empresário de Elvis, sabia o que estava fazendo: em 1956 foram vendidas, em poucos dias, 1,5milhão de cópias do LP Heartbreak Hotel.
O rock nascia assim – juntando raízes negras e brancas sob o comando da chamada indústria cultural. No início do século 20, com sua música animada, piano, percussão, instrumentos de sopro e coral, a igreja evangélica dos negros norte-americanos era uma expressão musical forte e espontânea, diferente dos padrões culturais brancos. Ao lado das jazz bands negras do sul dos EUA, do blues, que permitia maior flexibilidade no uso de acordes maiores e menores, e da folk-song dos brancos, o estilo gospel daquelas igrejas foi a base sobre a qual o rock’n’roll surgiu, sob o signo da mistura, da irreverência, da informalidade – e do mercado. De 1955 a1965 Elvis vendeu 100 milhões de discos. A produção massificada da indústria permitiu que o rock logo se popularizasse, ultrapassando as fronteiras de seu país de origem e consagrando-se como um estilo pretensamente universal.
O final da II Guerra Mundial (1945) havia marcado o início de um período de crescimento da economia norte-americana, e de incorporação de amplos setores de trabalhadores ao mercado de consumo. O fortalecimento da indústria nos EUA, que supria a demanda dos países devastados pela guerra, o desenvolvimento tecnológico e o pleno emprego criaram as condições para o consumo de massa.
O rock nascia assim – juntando raízes negras e brancas sob o comando da chamada indústria cultural.
A década de 1950 foi marcada também por uma onda de rebeldia juvenil, representada no cinema por O Selvagem (The Wild One, 1953), estrelado por Marlon Brando e Juventude Transviada (Rebel withouta cause, 1955) com James Dean. Eles influenciaram o comportamento, a postura e o modo de vida adotado pela juventude e que o estilo rock’n´roll consolidava.
A explosão seguinte do rock, que o disseminou pelo globo, foi o aparecimento dos Beatles, na Inglaterra, em 1962. Eles chegaram à consagração em 1963, com Please, Please Me, que os tornou ídolos internacionais. Mas logo começam a mudar a postura de bons moços, assumindo uma crítica sarcástica, ilustrada pelo álbum Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, de 1967,que sinalizava a passagem de uma rebeldia sem causa, das baladinhas rimadas de entretenimento juvenil, para um som mais criativo, politizado e experimental. Depois da dissolução do conjunto, em 1970, John Lennon, que foi o poeta do grupo, iniciou uma carreira solo ligada à luta política de seu tempo, tendo composto um verdadeiro hino à paz, a canção Imagine, e outras de teor radical como Women is the Níger oft he world, ou Working Class Hero.
Foi também em 1962 que apareceram, na Inglaterra, os Rolling Stones, que dão novo impulso ao rock, com predominância vocal, ritmo quatro por quatro, fortemente apoiado no segundo e quarto tempos, como Rock around the clock.
Nessa época Bob Dylan também gravou seu primeiro disco, em 1961, cujo som rústico e inteligente influenciou músicos mais rebeldes e contestadores.
Outro ícone, Jimi Hendrix, surge no Festival de Monterey, em São Francisco, EUA, 1967. Com fortes raízes no blues, levou o rock ao ápice como forma de expressão artística, política e revolucionária. Um exemplo foi sua execução, clássica, do Star SpangledBanner, o hino nacional dos EUA, no Festival de Woodstock,em 1969. Ele o decompôs na guitarra, transformando-onos ruídos da guerra – o troar dos aviões, o assobio das bombas caindo, as metralhadoras –, balbúrdia contrastada pela melodia harmoniosa e suave do blues Purple Haze, que tocou em seguida, uma fina ironia que marcou os protestos dos jovens contra a agressão norte-americana ao Vietnã.
Se nos anos 1960 e em parte dos 1970 o rock foi veículo para o protesto contra a guerra e contra o modo de vida americano, dos anos 70 em diante o protesto foi mais social; o movimento punk escancarou a degeneração da juventude marginalizada típica de metrópoles industrializadas, como Londres – uma juventude proletarizada, sem emprego nem perspectivas. As gravações de God Save the Queen (o hino nacional inglês) e Anarchy in the UK pelos Sex Pistols, têm o teor do anarquismo que marcou o movimento.
O Sex Pistols refletiu a contradição aguda do rock, oscilando entre o protesto e o mercado, e sintetizou as tendências contraditórias que o gênero ia seguir. Liderado pelo baixista Sid Vicious, o grupo surgiu em 1976, formado pelo empresário Malcolm Mc Laren, um vendedor de roupas londrino que imaginou ganhar dinheiro produzindo música punk e para isso contratou músicos no submundo adolescente de Londres. O Sex Pistols, de qualquer forma, trouxe para o rock o desespero e a raiva de uma juventude que já não via o futuro de maneira rósea, como a geração anterior. “Não sabemos onde está o nosso alvo. Mas atiramos para todos os lados para ter certeza de acertar”, disse certa vez Sid Vicious. Ali estava representada uma das tendências futuras do rock, do qual o Nirvana (na década de 1980) e os grupos grunges, de garagem, de Seatle, EUA, foram uma espécie de continuação sofisticada, mas também edulcorada pelo canal especializado em música jovem, a MTV.
De todo modo, a liberdade de criação e a abrangência que o fenômeno abarcava permitiu o surgimento de uma enorme diversidade de segmentos dentro do título unificador do rock.
Em 1981, um novo passo: é criada, nos Estados Unidos,a MTV, um canal de televisão voltado para o rock e a música jovem. A essa altura o estilo era dominante entre os jovens norte-americanos, fenômeno que a emissora reforçou e formalizou, capitalizando essa hegemonia. O rock de hoje sobrevive através do resgate, recriação e mistura de elementos já existentes, mais do que com estilos novos. Estilos como hip-hop, hard core e “guitar”, por exemplo, são versões modernas do rap, do heavy metal, do punk e da psicodelia dos anos 1960.
Protesto, mercado, raízes populares, guitarra e bateria – esses foram os ingredientes do maior fenômeno de cultura jovem que faz parte da história cultural desde a segunda metade do século 20.
Origens e trajetória do rock brasileiro
Foi devido à promessa de lucros comerciais que o Brasil importou o rock já nos anos 1950. Cantores brasileiros gravavam versões de músicas americanas de sucesso, como Diana, de Paul Anka, cantada por Carlos Gonzaga, que logo estourou nas rádios. Em 1959, a cantora Celly Campello, foi o primeiro fenômeno de massa do rock no Brasil. Ela gravou Estúpido Cupido, versão de Fred Jorge, e que foi um sucesso imediato.
A indústria cultural expandia seus tentáculos, mas logo defrontou-se com aqueles que usavam a arte para resistir à invasão cultural, a exemplo de Carlos Lyra – que participou no início dos anos 1960 do CPC da UNE. Nesse período havia um preconceito contra o uso da guitarra elétrica, típica do rock, condenando-a de contaminar a pureza da música brasileira, e a falsa ideia de que música nacional autêntica era aquela que se referia aos problemas sociais, como vemos nas canções Pau de Arara e Subdesenvolvido. Esse era um tema importante da luta cultural e da resistência contra a ditadura de 1964 e a internacionalização que ela e as elites conservadoras patrocinavam, mas muito estreito e sectário do ponto de vista cultural e comportamental.
O rock brasileiro tomou a forma de um movimento em 1965, quando surgiu o musical de televisão Jovem Guarda,criado para manter a audiência da TV Record, ameaçada como fim da transmissão dos jogos de futebol aos domingos.
O dono da emissora, Paulo Machado de Carvalho, trouxe Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa para comandar a turma que também tinha Sérgio Reis, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Trio Ternura, Martinha e tantos outros.
Foi um sucesso enorme. Considerada alienada pelos setores avançados, a Jovem Guarda, curiosamente batizada com uma expressão originária de Lênin, ajudou a fixar o gênero por aqui, definindo uma forma brasileira de tocar rock, com cantores e músicos que vieram da periferia da bossa nova.
Logo depois da Jovem Guarda, e na esteira do sucesso dos festivais de música popular brasileira promovidos pela Record, surgiu o tropicalismo, com seu cosmopolitismo e fortemente influenciado pelo rock. Esse movimento misturava o rock com a música brasileira, o baião e o samba, e incorporava a guitarra elétrica.
Provocou forte polêmica, marcada pelas vaias que Caetano Veloso recebeu em São Paulo, quando cantava É proibido proibir durante o Festival da Música Brasileira de 1968. E também quando Sérgio Ricardo, impedido pelas vaias dos partidários da guitarra elétrica, não conseguiu terminar de cantar Beto bom de bola, no mesmo festival, e, enraivecido, quebrou o violão e atirou os pedaços sobre a plateia.
O manifesto desse movimento foi o disco Tropicália, de 1968, com Torquato Neto e Capinam (os verdadeiros autores do movimento), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé,Nara Leão e Os Mutantes, tudo arranjado pelo maestro Rogério Duprat, que resgatou a antropofagia dos modernistas de 1922. Seu ecletismo, fora dos padrões musicais de então, marcou uma profunda transformação na música brasileira.
Com o tropicalismo, a banda Os Mutantes, um de nossas mais importantes grupos de rock, passa para o primeiro plano, com seu som criativo e um toque de experimentalismo, os quais não a distanciavam contudo da cultura brasileira e da MPB.
Entre a Jovem Guarda – com seu romantismo açucarado e inconformismo de aparência – e os tropicalistas, que produziam um som mais cosmopolita sem, no entanto, negar as raízes brasileiras, havia ainda rebeldia no rock brasileiro?
Sim, e o surgimento, naquele conturbado 1968, do primeiro LP de Raul Seixas– mesmo ignorado pela crítica e pelo público – atesta isso. Desde 1962 o cantor e compositor baiano tocava “músicas de cowboy” ao estilode Elvis Presley, Little Richards e Chuck Berry. Ele porém só conheceria o sucesso com a explosão de Ouro de Tolo, em 1973. Essa música debochava do consumismo dos tempos do “milagre brasileiro” e viria a se tornar um dos mitos mais persistentes e influentes do rock brasileiro.
Nos anos 1980 o rock brasileiro viveu uma espécie de renascimento, quando surgiram inúmeras bandas “de garagem” influenciadas por grupos estrangeiros como The Cure, The Smiths, Joy Division, Siouxie & The Banshees, Echo & theBunnymen e Sugar Cubes.
Havia também aquelas com forte marca punk, a exemplo de Ira!, Legião Urbana (e Renato Russo), Capital Inicial, Barão Vermelho (e Cazuza), bem como o pernambucano Chico Science. Tinham um estilo underground, identificado com o ambiente urbano, e uma maneira de fazer rock com uma brasilidade claramente presente.
Foi a época, também, em que surgiram programas de rádio e televisão voltados para vídeo clipes ou documentários, como o Clip Trip, da TV Gazeta, e o Som Pop, da TV Cultura, comandado por Kid Vinil.
Em 1990 foi lançada a MTV/ Brasil, que, com o dinamismo de sua linguagem verbal e visual, ganhou principalmente o público jovem de classe média. Muitas bandas novas surgiram, com uma estrutura profissional, tecnológica e comercial mais forte e definida.
Instrumento de um processo que se consolidava, a MTV foi um marco na incorporação capitalista de certas formas de expressão cultural. Uma parte do rock tornou-se cada vez mais um negócio, mas ele ainda vive, de forma autentica, em sua intrínseca rebeldia.
Rita De c v gava
Rock é as diferentes épocas com elemento de protesto é variável romântica
Precisa do mercado pra sobreviver
Com diferenças dos verdadeiros mudivos8e do que cedo entretenimento