PUBLICADO EM 05 de nov de 2017
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Relatório secreto do FBI tentou manchar nome de Martin Luther King

Segundo o jornal El País, a surpresa veio de outro lugar. A publicação dos últimos papéis secretos sobre o assassinato de John F. Kennedy trouxe à luz um sórdido relatório destinado a manchar o nome de Martin Luther King. O escrito é datado de 12 de março de 1968, três semanas antes da morte a tiros do grande líder dos direitos civis e prêmio Nobel da Paz.

Embora atualmente seja considerado um dos grandes heróis da história dos Estados Unidos, em seu tempo foi objeto de uma obsessiva perseguição do FBI. Sob os efeitos da Guerra Fria, a agência via no reverendo King e sua aposta na desobediência civil, nos direitos dos negros e na sua oposição à Guerra do Vietnã, um elemento desestabilizador de primeira ordem. Foi sob essa perspectiva que se escreveu o relatório. Com 20 páginas e elaborado a partir de fontes anônimas, acusa a organização cristã de King de ser uma fachada repleta de comunismos com o objetivo de desviar impostos.

Como era habitual na época em que o FBI esteve sob o comando do tenebroso John Edgar Hoover, também dedica um importante espaço ao relato de supostas aventuras sexuais de King. Orgias, contratação de prostitutas, vislumbres de homossexualidade, “aberrações e atos não naturais” desfilam sem provas pelas páginas em uma clara tentativa de manchar o nome do líder negro, a quem se atribui uma florida árvore de amantes, entre elas a cantora folk Joan Báez.

Todo esse quadro conduziu importantes especialistas a considerarem o documento como uma arma de Hoover contra alguém que ele considerava um perigo. “Tratava-se apenas de danificar a sua reputação”, afirmou, na noite de sexta-feira, o professor de Stanford e diretor do Instituto de Investigação Martin Luther King, Clayborne Carson.

O que não foi esclarecido pelos Arquivos Nacionais é o motivo de um relatório sobre Martin Luther King estar entre os documentos do assassinato de Kennedy, em 1963. Uma possibilidade é o próprio desejo das autoridades de ocultá-lo à luz da opinião pública, devido a sua capacidade de detonar protestos, especialmente depois do crime contra King.

Quem foi Martin Luther King?
É uma das figuras maiores da história mundial. Ainda hoje, quase 50 anos depois da sua morte, o nome de Martin Luther King Junior continua a ser sinónimo da luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos. As suas ideias continuam a servir de inspiração para milhões de pessoas.

Rev. Dr. Martin Luther King Jr. speaking. (Photo by Julian Wasser//Time Life Pictures/Getty Images)

Foi exatamente por ser o símbolo maior do movimento da luta não-violenta (Martin Luther King seguiu o exemplo de Mahatma Ghandi) pelo fim da discriminação racial nos Estados Unidos na década de 60 que Martin Luther King foi premiado com o Nobel da Paz em 1964, faz hoje precisamente 53 anos. O Comité do Nobel não teve dúvidas em atribuir o prestigiado prémio ao pastor protestante, uma forma de reconhecimento pela longa e dura luta de King pela igualdade racial em todos os estados norte-americanos.

Nascido em 1929, no seio de uma família de pastores da igreja Batista, Martin Luther King tornou-se também ele pastor e em 1955 iniciou a sua luta para convencer o Governo norte-americano de que as políticas de segregação racial nos estados sulistas do país eram ilegais. O caminho escolhido, da não-violência, não agradou a todos os grupos de defesa dos direitos dos afro-americanos. Perante a violência de grupos racistas como o Ku Klux Klan, Martin Luther King respondeu sempre com uma campanha pacífica.

Essa sua postura valeu cada vez mais apoiantes. O movimento cresceu e em 1963 250 mil pessoas marcharam até ao Lincoln Memorial, em Washington, onde Martin Luther King proferiu o discurso que ficou celebrizado pela frase ‘I Have a Dream’ (‘Eu tenho um sonho’). King ganhou um lugar na história com esse discurso e um ano depois o presidente Lyndon B. Johnson assinou o Civil Rights Act, a lei que acabou com a segregação racial em locais públicos e com a discriminação no emprego com base na cor, raça, religião, género ou país de origem.

Martin Luther King recebeu nesse mesmo ano o Prémio Nobel da Paz mas manteve a humildade no seu discurso e questionou o motivo pelo qual recebia o prémio. “Devo perguntar porque é que este prémio é atribuído a um movimento que está sitiado e que se compromete com uma luta incessante; a um movimento que não conquistou a paz e a irmandade que é a essência do Prémio Nobel”, afirmou King no seu discurso de atribuição do prémio.

Tal com acontece com o discurso ‘I Have a Dream’, muitas das frases e palavras que Martin Luther King proferiu no discurso do Nobel ainda ressoam e fazem sentido na atualidade. “Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas do mundo vão ter de descobrir uma forma de viverem em conjunto em paz, e dessa maneira transformar esta elegia cósmica pendente num salmo criativo de irmandade. Se isto for atingido, o homem deve evoluir de todo o conflito humano para um método que rejeita a vingança, a agressão e a retaliação. A fundação de tal método é o amor”.

Mas a luta de Martin Luther King ainda estava longe do fim. Apesar da Civil Rights Act ter proibido a discriminação no ato de votar, as organizações dos direitos civis continuavam a enfrentar dificuldades para registar os eleitores negros em estados sulistas, como o do Alabama. A localidade de Selma tornou-se o centro da campanha de registo de eleitores e Martin Luther King planeou uma marcha que partia de Selma até Montgomery, também no estado do Alabama. Um grupo de 600 pessoas iniciou no domingo 7 de março a marcha que não foi muito longe. As autoridades do Alabama iniciaram uma carga violenta sobre a multidão na ponte Edmund Pettis.

As imagens das autoridades a espancarem a multidão com cassetetes e a chicotearem os manifestantes num dia que ficou conhecido como ‘Domingo Sangrento’ chocaram os americanos. Mais pessoas e líderes religiosos juntaram-se ao movimento. Dois dias depois o próprio Martin Luther King liderou uma segunda marcha, mas viu-se obrigado a voltar para trás, pois a polícia estatal bloqueou a estrada.

A terceira marcha, que partiu de Selma no dia 21 de março foi bem sucedida. O presidente Lyndon Johnson tomou uma posição e apoiou a marcha, ordenando que a Guarda Nacional do Alabama e o exército protegessem os manifestantes durante o percurso até Montgomery, onde chegaram no dia 25 de março.

Em agosto desse ano, Martin Luther King e as organizações dos direitos civis conquistaram mais um objetivo, com o congresso norte-americano a aprovar a Voting Rights Act que concedeu o direito de voto a todos os afro-americanos.

Martin Luther King continuou a lutar pelos direitos civis e a defender as minorias. O homem que já tinha atingido um estatuto ímpar só foi parado no dia 4 de abril de 1968, quando foi morto na varanda de um motel em Memphis, onde iria liderar uma marcha de protesto com o objetivo de apoiar os trabalhadores do lixo da cidade que estavam em greve. Atualmente ainda se discute se James Earl Ray, que confessou ter assassinado Martin Luther King, agiu sozinho ou a mando de alguma agência dos serviços secretos norte-americanos.

 

Numa altura em que os direitos civis e a discriminação racial voltam a estar em foco nos Estados Unidos e não só, as ideias de Martin Luther King continuam a servir de inspiração e a sua imagem é o símbolo da luta pacífica porque, tal como disse no seu discurso do Nobel, “a paz é mais preciosa que diamantes ou prata ou ouro.

Por Fábio Nunes, do site português  Mundo ao Minuto

 

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