Segundo o analista de Contas Nacionais, Luiz Antônio de Sá “A ampliação do número de municípios, entre 2002 e 2018, permite identificar a tendência à desconcentração, com municípios de menor PIB ganhando participação em relação aos de maior. Em 2002, 48 municípios concentravam quase a metade do PIB (49,9%). Já em 2018, foram necessários 71 municípios para alcançar esse mesmo percentual”.
Essa desconcentração pode ser vista em outros recortes. No ano pesquisado, apenas oito municípios somaram quase 25% do PIB nacional: São Paulo (SP) com 10,2%; Rio de Janeiro (RJ) com 5,2%; Brasília (DF) com 3,6%; Belo Horizonte (MG) com 1,3%; Curitiba (PR) com 1,2% e, com 1,1% cada, Manaus (AM), Porto Alegre (RS) e Osasco (SP). Em 2002, apenas quatro municípios detinham um quarto da economia nacional.
Entre os 25 municípios de maior PIB, 13 eram não capitais e 12 capitais em 2018. Na comparação com 2017, Belém (PA) perdeu o posto nesse ranking para a Niterói (RJ). Dentre os que não eram capitais, todos estavam na região Sudeste: dez eram paulistas, dois fluminenses e um mineiro.
“Em 2018, os municípios das capitais representavam 31,8% do PIB nacional, menor participação da série, iniciada em 2002. A cidade de São Paulo tinha maior participação (10,2%) e Rio Branco, no Acre, era a última da posição entre as capitais, com contribuição de 0,1% entre as capitais”, detalha o analista do IBGE.
A participação dos 100 municípios com os maiores PIBs também reduziu, entre 2002 e 2018, de 60% para 55,0%. Na comparação anual, a queda de concentração foi de 0,3 ponto percentual em relação a 2017, quando a participação era de 55,3%. Três capitais estavam fora da lista dos 100 maiores PIBs: Boa Vista (RR), na 105ª posição; Palmas (TO), na 116ª; e Rio Branco (AC), na 127ª posição.
Extração de petróleo alavanca ganho de participação de municípios no PIB
Maricá, Niterói e Campos dos Goytacazes, todas cidades do estado Rio de Janeiro, tiveram o maior o ganho de participação no PIB do país (0,2 p.p), em 2018, atrelado à extração de petróleo, atividade que foi beneficiada pelo aumento dos preços internacionais da commodity naquele ano. Ilhabela, no litoral de São Paulo, avançou 0,1 p.p. pelo mesmo motivo.
As capitais Vitória e Rio de Janeiro também ganharam 0,1 p.p de participação no PIB por conta da extração de minério e da arrecadação dos impostos, líquidos de subsídios, sobre os produtos, respectivamente.
Por outro lado, as maiores quedas de participação ocorreram na capital São Paulo e na vizinha, Osasco, principalmente, em função das atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, já que, em 2018, houve redução da taxa de juros e em ambos os municípios essa atividade tem peso destacado.
Maricá também foi o município que mais cresceu em participação no período de 2002 a 2018, um aumento de 0,4 p.p. por conta da extração de petróleo.
Já São Paulo (-2,5 p.p) e Rio de Janeiro (-1,1 p.p) tiveram as maiores quedas de participação em 16 anos, o que reforça a tendência de desconcentração do PIB no nível municipal. A redução na capital paulista foi influenciada pela diminuição relativa das atividades financeiras. No Rio, a perda veio da diminuição do seu peso na indústria do país.
O geógrafo do IBGE Marcelo Delizio observa que, embora as grandes economias estejam continuamente perdendo participação no PIB nacional para municípios menores, ainda há uma elevada concentração da geração de renda no país.
“Isso fica claro quando se observa a distribuição do PIB por concentrações urbanas, que são municípios ou arranjos populacionais com mais de 100 mil habitantes e que apresentam um alto grau de integração devido a deslocamentos para trabalho e estudo. As concentrações urbanas de São Paulo (16,8%) e Rio de Janeiro (8,1%) respondem juntos por 25% do PIB”, explica Delizio.
Cidade-região de São Paulo concentra 24,0% do PIB nacional
O geógrafo observa que essa desigualdade fica ainda mais evidente quando se compara a cidade-região de São Paulo, um contínuo geográfico em que 92 municípios têm forte integração econômica com a metrópole, que concentrava 24,0% do PIB em 2018, com o Semiárido (5,2%) e a Amazônia Legal (8,8%).
Essa diferença permanece mesmo após uma queda de participação de 2,9 pontos percentuais no PIB do país da cidade-região de São Paulo entre 2002 e 2018. Ao mesmo tempo, a Amazônia Legal e o Semiárido ganharam participação de 1,8 e 0,7 p.p., respectivamente, no período.
“O Semiárido tem mais de 1.200 municípios e a Amazônia Legal mais de 700. São regiões com características socioeconômicas bastante complexas. Já a cidade-região de São Paulo, que tem bem menos municípios, é bastante integrada e se destaca em quase todas atividades econômicas, até na agropecuária”, conta Marcelo Delizio.
Na agropecuária, destaca o geógrafo, a Região Rural da Grande Metrópole Nacional de São Paulo teve o sexto maior valor adicionado do país em 2018, chegando a R$ 8,9 bilhões, com a produção de “outros produtos da lavoura temporária”, ou seja, hortifrúti para consumo interno das áreas urbanas. Não são, portanto, produtos para exportação.
“Essa região chega a ter o mesmo valor de produção com legumes e verduras que outras grandes áreas do país produtoras de soja e cana-de-açúcar, destinadas à exportação”, acrescenta o geógrafo.
Presidente Kennedy (ES) tem o maior PIB per capita do país
Os dados do IBGE também mostram que, em 2018, os dez municípios com os maiores PIB per capita somavam 1,5% do PIB nacional e 0,2% da população. Presidente Kennedy, no Espírito Santo, tinha o maior PIB per capita do país (R$ 583.171,85), seguido de Ilhabela (SP), sendo ambos devido à extração de petróleo.
Já entre os municípios das capitais, a liderança foi de Brasília, com R$ 85.661,39, ou seja, o PIB per capita da capital federal era 2,5 vezes maior do que o PIB per capita nacional (R$ 33.593,82). Dez capitais tinham PIB per capita maior que o brasileiro. Em 2002, esse número era maior (11 capitais). A menor posição foi ocupada por Belém (R$ 21.191,47).
Fonte: IBGE
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