PUBLICADO EM 02 de jun de 2020
COMPARTILHAR COM:

Quando o apito da fábrica te leva à luta na cidade que se fecha aos sonhos

Por Marcos Aurélio Ruy

As cinco canções destacadas nos remetem ao trabalho como a essência da vida. Tudo gira em torno dele e nada pode mudar para valer sem a presença da classe trabalhadora. Necessário destacar que a arte tem o poder de ajudar na transformação do mundo.

O que seria de nós pobres mortais sem a criatividade mordaz de Agenor de Miranda Araújo Neto, o nosso Cazuza (1958-1990). Começou carreira com o grupo Barão Vermelho nos anos 1980 e não parou de brilhar e ainda brilha, mesmo 30 anos após a sua morte.

Vai à luta mostra a sua acidez lúcida contra um mundo hipócrita e caótico.

“O pessoal gosta de escrachar

De ver a gente por baixo

Pra depois aconselhar

Dizer o que é certo e errado

Eu te avisei: Vai à luta

Marca teu ponto na justa

Eu te avisei: Vai à luta

Marca teu ponto na justa

O resto deixa pra lá

Deixa pra lá”

 

Cazuza dispensa maiores comentários.

Vai à luta (1987), de Cazuza e Rogério Meanda

Chico Science

Outro grande nome da música popular brasileira é o pernambucano Francisco de Assis França, conhecido como Chico Science (1966-1997), talvez o principal criador do manguebeat, em 1991, movimento de contracultura surgido no Brasil a partir de 1991 em Recife (Pernambuco), que mistura ritmos regionais, com rock, hip hop, funk, soul e música eletrônica. Som sem igual que permanece com o grupo Nação Zumbi, do qual ele fazia parte e outros.

Em A Cidade ele canta:

“E a cidade se apresenta

Centro das ambições

Para mendigos ou ricos

E outras armações

Coletivos, automóveis,

Motos e metrôs

Trabalhadores, patrões,

Policiais, camelôs

A cidade não para

A cidade só cresce

O de cima sobe

E o de baixo desce”.

 

Chico Science, um gigante da cultura brasileira.

A Cidade (1993), de Chico Science

Liniker

Liniker de Barros Ferreira Campos, conhecida como Liniker, é de Araraquara, no interior de São Paulo. Mulher transgênero, ela canta o cotidiano e o afeto, Mescla soul, jazz e samba e com sua voz potente apresenta um trabalho singular na MPB.

“Ouvi dizer que colocaram meu amor numa estante de brechó

Passe de lá e pegue ele pra mim

Borde, pinte, reinvente como tudo que você já faz”

 

Brechoque (2019), de Liniker

Almir Sater

O sul-matogrossense Almir Sater, está na estrada da música sertaneja profissionalmente desde 1981, com inúmeros grandes sucessos, tem uma carreira consolidada e um estilo ímpar. Em Tocando em Frente divide a autoria com o paulista Renato Teixeira, outro grande nome da música sertaneja.

“Ando devagar

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei

Ou nada sei”

 

Se todas as pessoas seguissem os versos de Tocando em Frente, o mundo seria outro com certeza.

Tocando em Frente (1992), de Almir Sater e Renato Teixeira

Noel Rosa

Um dos maiores nomes da música popular brasileira morreu antes de completar 27 anos, mas suas canções jamais esquecidas tamanho o seu valor rítmico e poético. Noel Rosa (1910-1937), da Vila Isabel para o mundo. Subiu o morro e bebeu na fonte o samba que se fortaleceu ainda mais com sua poesia urbana. Em tão pouco tempo deixou centenas de músicas para a eternidade.

A palavra cantada de Três Apitos toca fundo.

“Mas, você anda

Sem dúvida, bem zangada

E está interessada

Em fingir que não me vê

Você que atende ao apito

De uma chaminé de barro

Por que não atende ao grito, tão aflito

Da buzina do meu carro?”

 

Feliz da musa do grande poeta da Vila Isabel, no Rio de Janeiro.

Três Apitos (1933), de Noel Rosa; canta Maria Bethânia

 

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS