PUBLICADO EM 19 de out de 2020
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Pesquisas apontam vitória em primeiro turno do candidato de Evo Morales na Bolívia

De acordo com reportagem do jornal El País Brasil, apurações extraoficiais mostram Luis Arce, do MAS, com 52,4% dos votos, contra 32,5% do ex-presidente Carlos Mesa. A presidenta interina, Jeanine Áñez, reconheceu o resultado

David Choquehuanca (à esquerda), candidato a vice-presidente pelo MAS, junto ao líder das pesquisas Luis Arce, durante a madrugada desta segunda Foto: CORTESÍA

Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido do ex-mandatário Evo Morales, deverá ser o novo presidente da Bolívia. Segundo duas apurações extraoficiais, Arce obteve cerca de 53% dos votos, o mesmo que Morales conseguiu em 2005, quando foi eleito pela primeira vez. O resultado causa um terremoto na política boliviana e supera as expectativas do próprio MAS, que saiu do poder de maneira violenta um ano atrás, num episódio que obrigou Morales a se exilar, iniciou uma crise política e deu lugar a um governo interino que fez da luta contra o MAS sua principal ocupação e objetivo.

Imediatamente depois do anúncio desses resultados não-oficiais, a presidenta interina Jeanine Áñez reconheceu os números reconheceu em um tuíte. “Ainda não temos o cômputo oficial, mas, pelos dados com que contamos, o sr. Arce e o sr. (David) Choquehuanca venceram a eleição. Felicito os ganhadores e lhes peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”, escreveu.

A divulgação dos levantamentos boca de urna demorou bem mais do que se esperava. “As empresas de pesquisas se negam a publicar o resultado da boca de urna há mais de três horas. Suspeita-se que estejam ocultando algo”, disse mais cedo Evo Morales na Argentina, onde está asilado há quase um ano. As empresas divulgaram os resultados logo depois da manifestação de Morales e alegaram que tiveram dificuldades técnicas para consolidar uma amostra confiável.

Logo depois de saber da grande diferença a seu favor, Luis Arce proferiu um discurso notavelmente calmo: “Recuperamos a democracia e recuperamos a esperança. Nosso compromisso é trabalhar, levar nosso programa adiante. Vamos construir um Governo de unidade nacional, vamos construir a unidade deste país”. Num momento de autocrítica ―algo que Morales foi muitas vezes criticado por não fazer ―o virtual presidente eleito prometeu também “reconduzir o ‘processo de mudança’, aprendendo e superando erros”. Morales, fez postagens nas redes sociais e comemorou os números. Ele repetiu que os bolivianos “recuperaram a pátria” e festejou: “Lucho [apelido de Luis] presidente!”.

A campanha de Carlos Mesa não quis se pronunciar sobre os resultados preliminares e pediu que se espere o fim da apuração oficial.

Uma eleição em paz
As eleições na Bolívia transcorreram sem incidentes graves, com elevada participação do eleitorado e grande presença de militares e policiais nas ruas. Houve longas filas nas seções eleitorais, porque as medidas de segurança sanitária por causa da epidemia de covid-19 tornaram mais lento o procedimento de votação. Ao contrário do que se temia, os cidadãos que tinham sido convocados para trabalhar no pleito compareceram e permaneceram ao lado das urnas durante as nove horas em que estiveram abertas.

Espera-se que a apuração oficial termine ainda nesta segunda-feira, mas pode ser que se prolongue até terça ou depois. “Queremos destacar a tranquilidade da população. Os cidadãos tiveram paciência, porque a jornada teve características singulares pela necessidade que tivemos de nos adaptar aos desafios do coronavírus. A votação foi mais lenta, mas fluiu. Nosso balanço é satisfatório” resumiu Salvador Romero, presidente do Tribunal Supremo Eleitoral.

Apesar da divisão dos horários de votação para evitar aglomerações, as escolas que receberam as urnas ficaram lotadas. O voto é obrigatório na Bolívia, e o índice de abstenção é tradicionalmente muito baixo (entre 10 e 15%). Supunha-se que desta vez, por causa da pandemia, haveria menos participação das classes médias do que das classes baixas, o que poderia favorecer Arce. Na última semana, as autoridades do Governo interino e os candidatos contrários ao MAS pediram intensamente que as pessoas não deixassem de votar.

Pouco depois de finalizada a votação, Áñez apareceu na televisão junto aos ministros de Defesa e Governo (Casa Civil) e dos comandantes da Polícia e das Forças Armadas. Agradeceu à população pela tranquilidade na jornada eleitoral e recordou que os resultados oficiais ainda levarão algum tempo. Por isso pediu três coisas específicas: paciência, respeito à lei e “recordar que, antes de mais nada, somos bolivianos, acima das nossas diferenças”.

Na noite de sábado, grandes contingentes de policiais, soldados e veículos militares patrulharam as ruas das principais cidades da Bolívia. As escolas onde houve votação também estiveram fortemente custodiadas. O vice-ministro de Segurança, Wilson Santa María, publicou nas redes sociais fotos de soldados com a frase “Estamos cuidando de vocês”. A quantidade exata de agentes mobilizados foi tratada como “segredo de Estado”.

“Não tomamos o poder pela via armada. Tomamos o poder pela via democrática, entendemos que é a forma de fazê-lo”, disse o candidato Arce após votar. “Quero pedir a vocês que não caiamos em nenhum tipo de provocação. A grande lição que nunca devemos esquecer é que a violência só gera violência, e que com ela todos perdemos”, apontou Morales por sua vez. O ex-presidente também se referiu aos rumores sobre seu iminente retorno à Bolívia, que seus adversários fizeram circular nos últimos dias com o objetivo de atemorizar os eleitores urbanos que rejeitam sua figura. “Diante de tantos rumores sobre o que farei, quero lhes dizer que a prioridade é exclusivamente a recuperação da democracia”, afirmou.

O principal problema desta eleição foi a suspensão do sistema de transmissão rápida de resultados preliminares, que devia permitir que o vitorioso fosse conhecido em poucas horas. O Tribunal Eleitoral decidiu suspender essa atividade no sábado, por causa de falhas em um teste de segurança. Tratava-se de um sistema novo, pois o anterior tinha sido questionado como um dos mecanismos de fraude nas eleições que foram anuladas, por esta razão, um ano atrás. Na época, o Governo de Morales insistiu em que o mecanismo de apuração rápido não era legalmente vinculante e, portanto, suas deficiências não podiam ser consideradas como provas de uma fraude. Agora, os porta-vozes do MAS afirmam que a anulação deste mecanismo nas novas eleições lhes dava a razão: a única apuração com valor legal é a das cédulas físicas, que em 2019 foi menos questionada que a digital, embora também tenha sido considerada suspeita.

Fonte: El País Brasil

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