PUBLICADO EM 04 de jul de 2020
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Para os sonhos não serem triturados, é necessário vencer o medo

Por Marcos Aurélio Ruy

Com o avanço avassalador da pandemia e os defensores do deus-mercado determinando a flexibilização da quarentena, nada mais oportuno do que ceder às merecidas homenagens aos médicos cubanos, indicados ao Prêmio Nobel da Paz 2021, pelo trabalho no combate ao coronavírus em diversos países com destemor e abnegação.

Coisas difíceis de entendimento para a maioria dos médicos brasileiros que fizeram intensas e rudes mobilizações contra o programa Mais Médicos, em 2013. Essencialmente hostis aos cubanos por causa do acordo em seus salários com o governo de seu país.

Ao responder à uma manifestação hostil de médicos cearenses, em Fortaleza, o cubano Juan Hernandez respondeu ter vindo ao Brasil por solidariedade e colaborar para “melhorar as condições de vida da população e melhorar os indicadores de saúde do povo brasileiro. Não por dinheiro. Coisa difícil de entender aqui e um modo bom de entender o sentimento dos médicos cubanos sobre a medicina.

Para render homenagens, a primeira canção desta seleção é da Buena Fe, banda existente desde 1999 e mescla gêneros de seu país com rock e pinceladas do pop. Se dizem herdeiros da Nova Trova Cubana, movimento dos anos 1960, quando  despontaram nomes como Carlos Puebla, Silvio Rodríguez, Pablo Milanés, Vicente Feliú, Leo Brouwer e Noel Nicola.

“Então será que eles não são meus filhos

Nós somos a mesma humanidade

Todos enfrentando o mesmo quebra-cabeça.

O que estou fazendo aqui

Amando este país como a mim mesmo”

 

Valientes (Os Valentes São Eles; 2020), de Israel Rojas Fiel

Djuena Tikuna

Nome importante na representatividade da canção feita por indígenas, Djuena Tikuna é uma cantora, compositora e jornalista engajada na luta pelos direitos dos povos indígenas.

Em sua página de Facebook ela diz que “Eu sou do Povo Magüta, também conhecido como Tikuna. Meu nome é Djuena, cuja grafia é Yue’ena, significa ‘a onça que pula no rio’”. Em uma entrevista Djuena afirmou a necessidade de “fazer frente a essas ameaças. Por que, quem poderá lutar por nós, se não formos nós mesmos?”

Em sua canção selecionada ela define seu canto como “Saudade da Aldeia que está sempre na cor da minha pele, no brilho dos meus olhos, na imensidão da minha alma”. Infelizmente não consegui tradução por ela cantar em seu dialeto, mas vale atentar para o som e a voz serena.

Saudade da Aldeia (2014), de Djuena Tikuna

Gaby Amarantos

Mais uma paraense vem se destacando na música popular brasileira com os gêneros típicos de seu estado como o carimbó, guitarrada e o tecnobrega, uma miscelânea de sons com releitura do que se denomina música brega, bem ao sabor da cultura popular.

“Tribo em festa invade a floresta

Cara pintada, com flecha e cocar

Todos a postos aguardam seu líder

Nave sonora vai nos comandar

Cacique dá grito de guerra a ecoar”

 

Faz o T (2012), de Gaby Amarantos

Paul Simon

Nos anos 1960 a dupla Simon e Garfunkel emplacou inúmeros sucessos de canções folk rock. Na trilha de Bob Dylan, único compositor a ganhar, em 2016, o Prêmio Nobel de Literatura até hoje. Quem já ouviu jamais esqueceu músicas como “The Sound of Silence”, “Mrs. Robinson” e “Bridge Over Troubled Water”.

Depois de 13 anos de carreira, a dupla se desfez em 1970. Paul Simon segui seu caminho e passou a pesquisar sons mundo afora. Foi à África do Sul e em 1990 veio ao Brasil, mais especificamente em Salvador conhecer e gravar com o grupo Olodum. A empatia foi de cara.

Existente desde 1979, o Olodum é um bloco-afro de Salvador, com inúmeros trabalhos de acolhimento e desenvolvimento de sabres culturais na periferia da capital baiana. Possui uma batida única no mundo.

“Nós tivemos muita diversão

Nós tivemos um monte de dinheiro

Tivemos um filho pequeno e nós pensamos que deveríamos chamá-lo de Sonny

Sonny se casa e se afasta

Sonny tem um bebê e contas a pagar”

 

The Obvious Child (O Óbvio, Criança; 1990), de Olodum e Paul Simon

 

Cartola

Para finalizar esta seleção, nada mais reconfortante do que lembrar de Angenor de Oliveira, o nosso Cartola (1908-1980), um dos mais importantes compositores da música popular brasileira de todos os tempos. Para se ter uma ideia de sua penetração, ninguém menos do que Cazuza o adorava.

Várias de suas canções permanecem no imaginário popular, entre elas O Mundo É um Moinho, pura poesia para descrever os sentimentos de um raro observador da vida.

“Ouça-me bem, amor

Preste atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos

Vai reduzir as ilusões a pó”

 

O Mundo É um Moinho;( 1976) de Cartola

https://youtu.be/dvpk1wL_zC8

 

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