PUBLICADO EM 28 de jun de 2022
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Otimista com Lula, García Linera diz que América Latina precisa da liderança brasileira

Intelectual boliviano defende criação de sistema produtivo que assegure as conquistas populares

Em visita ao Brasil, Linera participou do Salão do Livro Político, da Editora Boitempo – Belén Grosso

O que falta é um Brasil que seja vanguarda. Um Brasil que não dê as costas para a América Latina

A vitória de Gustavo Petro e Francía Marquez para a presidência da Colômbia foi comemorada em todo o continente. Não só pelo ineditismo de uma gestão progressista no país, tradicionalmente dominado por conservadores e liberais, mas também por sugerir uma nova guinada à esquerda na América Latina.

A primeira foi entre 2003 e 2014, começou com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Brasil, e terminou com a saída de Cristina Kirchner da presidência da Argentina, em 2015. Agora, já são oito os países de orientação progressista na região e, uma vitória de Lula – em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto – pode consolidar este novo período.

Para o ex-vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, apesar de uma nova onda de esquerda se avizinhar, falta ao continente uma liderança, que pode ser do Brasil.

“O que falta é um Brasil que seja vanguarda na América Latina. Um Brasil que não dê as costas para a América Latina. O país é grande, mas não o suficiente. Tem uma economia forte, mas não o suficiente para estar entre as grandes ligas com igualdade de forças”, afirma Linera.

“Por isso acredito que, hoje mais do que nunca, mais do que anos atrás, uma guinada no posicionamento do Brasil, uma atitude progressista do Brasil, pode ser relevante em escala planetária, porque pode liderar um novo destino para o continente”, completa o boliviano.

Convidado desta semana no BDF Entrevista, Álvaro García Linera é um dos mais importantes teóricos marxistas do mundo. No continente, seus estudos sobre o marxismo fundado sob as bases indigenistas e camponesas são verdadeiros tratados sobre a América Latina.

Vítima de um golpe de estado perpetrado pelos militares bolivianos, em conluio com a oposição do país, Linera teve que deixar a Bolívia, assim como o presidente Evo Morales.

Ambos foram para o México, a convite do presidente Manuel López Obrador e posteriormente para a Argentina, onde viveram até a restauração da democracia no país e a vitória de Luis Arce, também do MAS, partido governista de Linera e Morales.

Segundo Linera, uma das lições deixadas pelo golpe militar na Bolívia, foi a necessidade de se enfrentar o conservadorismo instalado nas instituições militares em todo o nosso continente. Para o ex-vice-presidente, ‘o progressismo deve pensar em mecanismos de reforma, educacional e curricular da formação policial e militar”.

“É preciso enfrentar reformas assim para que essas instituições, necessárias a qualquer Estado contemporâneo, policiais e militares possam ser defensores da democracia e não um perigo para ela”, afirma o teórico marxista.

Na conversa, Linera ainda fala sobre a necessidade de se restaurar organizações como a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), a conflituosa relação entre Estado e movimentos populares nos governos de esquerda e a contribuição da produção teórica da América Latina para o mundo.

“O que falta em nossos intelectuais é audácia, que alguns têm, para produzir teoria local. O que a Europa e os EUA podem nos ensinar sobre as transformações? Nada! Ali predomina um conservadorismo geral e só agora eles estão acordando, a América Latina pode ensinar ao mundo”.

Confira a entrevista na íntegra:

Fonte: Brasil de Fato

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