PUBLICADO EM 22 de ago de 2021
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“O banheiro do Papa” mostra a pobreza e a criatividade do povo de Melo; filme

Neste ambiente apartado da institucionalidade socioeconômica, as pessoas criam suas próprias regras,


O Banheiro do Papa retrata o impacto da notícia sobre a visita do papa João Paulo II em Melo, cidade uruguaia próxima à fronteira com o Brasil, onde muitos habitantes vivem de pequenos serviços, como contrabandear produtos de Aceguá, no Rio Grande do Sul.

O ano é 1988. O lugar é Melo, na zona rural, Uruguai. A força e as cores da natureza sul-americana são lindamente captadas no filme O Banheiro do Papa.

Vacas, porcos e galinhas cruzam a tela. E a poeira avermelhada levanta da terra com o caminhar da população católica e muito pobre. Levanta com o pedalar das bicicletas que viajam duas, três vezes ao dia, ao largo da fiscalização, carregadas com mantimentos trazidos do Brasil para serem comercializados nas vendas locais. Frágeis negociações onde impera a informalidade.

Neste ambiente apartado da institucionalidade socioeconômica, as pessoas criam suas próprias regras, como em um faroeste tardio no que sobrou de uma América já feita.
Mas eis que Melo vira notícia. A cidade está inserida no roteiro da viagem do papa à América. E eles, já acostumados ao esquecimento, veem-se diante de ter de lidar com alguma atenção.

O alarde da imprensa, que anuncia a vinda do pontífice, vende a ideia de que milhares de turistas estarão no evento. E, no intuito de agarrar a oportunidade, o povo prepara-se para o megaevento projetando para a cidade uma grande feira de bugigangas e pratos regionais.

A visita do papa mexe com as aspirações do excluído povo de Melo. E este povo, do alto de sua ingenuidade, de seu alheamento e de sua boa-fé, joga toda sua esperança naquele evento.

Obra feita com parcos recursos, o filme O Banheiro do Papa, em sua simplicidade, retrata a exclusão social como um problema crônico. Situação que é acentuada por tratar-se de uma região, e não de uma pessoa ou uma família.

Retrata também o descompromisso da grande imprensa, que nunca mede as consequências de seus excessos ou de suas omissões. Mas o melhor do filme é a alegria de quem, a despeito do papa, traz na pele a marca de possuir a estranha mania de ter fé na vida. (Carolina Maria Ruy)

O Banheiro do Papa (El baño del Papa)

Brasil, Uruguai, França, 2007
Direção: César Charlone e Enrique Fernández
Elenco: César Troncoso, Virginia Méndez, Virginia Ruiz, Mario Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical

Confira trailer:

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