PUBLICADO EM 04 de fev de 2018
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Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça repudia o Bloco “Porão do Dops”

Nos últimos anos a cidade de São Paulo vem se consagrando como uma das mais animadas do carnaval, com blocos de rua que movem verdadeiras multidões. Neste ano, entretanto, em meio a esta festa democrática e popular, que geralmente aborda temas culturais e/ou humanitários, surgiu um movimento que destoa totalmente do cenário alegre dos foliões, o bloco “Porão do Dops”.

Pintura de Elifas Andreato

O bloco, criado pelo grupo “Direita São Paulo” e que tem estreia marcada para o próximo dia 10 de fevereiro, celebra a prática de tortura do período militar, enaltecendo e homenageando gente como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o policial Sergio Paranhos Fleury, assassinos e torturadores que fizeram centenas de vítimas durante a Ditadura Militar.

Os promotores de Justiça Beatriz Fonseca e Eduardo Valério tentaram impedir sua realização, uma vez que o evento enaltece o crime de tortura. Eles entraram com ação civil pública contra os responsáveis pelo bloco, na segunda-feira, 29, mas a juíza Daniela Pazzeto Meneghine Conceição, da 39ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, liberou a propaganda, divulgação e o desfile do Bloco de Carnaval.

Para a magistrada, o nome do bloco “por si só não configura exaltação à época de exceção ou das pessoas lá indicadas que, sequer, foram reconhecidas judicialmente como autores de crimes perpetrados durante o regime ditatorial, em razão da posterior promulgação da Lei da Anistia”.

Em nota o Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, que reúne ex-presos políticos e ativistas de direitos humanos, repudiou a decisão da juíza alegando que o evento desrespeita “a memória das vítimas que tombaram dentro das masmorras da ditadura e os ex-presos que sobreviveram às sevícias de torturadores, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o delegado Sérgio Paranhos Fleury, ídolos desse grupelho fascista, ainda contribui para a agressão ao estado democrático de direito, possibilitando a disseminação de ódio nas ruas da capital paulista”.

A nota diz também que “Em tempos de condenação sem provas e indulgência a criminosos, o Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça reitera sua luta pela punição dos torturadores e sua posição de nenhuma concessão a apologistas da tortura e dos agentes de Estado que perpetraram violações aos direitos humanos” e finaliza afirmando que “nos somamos a todos aqueles que estão unidos para impedir esse desfile macabro, numa festa popular, que nasceu como resistência aos do andar de cima”.

Leia a nota na íntegra:

O Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, que reúne ex-presos políticos e ativistas de direitos humanos, repudia veementemente a decisão da juíza Daniela Pazzeto Meneghine Conceição, que permite o desfile neste Carnaval de um grupo fascista, auto denominado Porão do Dops, que faz apologia à tortura e enaltece reconhecidos torturadores, que atuaram na ditadura militar.

Consideramos que a decisão da juíza Daniela, além de desrespeitar a memória das vítimas que tombaram dentro das masmorras da ditadura e os ex-presos que sobreviveram às sevícias de torturadores, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o delegado Sérgio Paranhos Fleury, ídolos desse grupelho fascista, ainda contribui para a agressão ao estado democrático de direito, possibilitando a disseminação de ódio nas ruas da capital paulista.

Não bastasse tudo isso, a juíza em seu veredito ao negar a liminar que impede o desfile, ainda demonstrou ignorância ou má-fé. Diz ela que as pessoas enaltecidas pelo bloco Porão do Dops “sequer foram reconhecidas judicialmente como autores de crimes perpetrados durante o regime ditatorial”.

Como pode a juíza Daniela desconhecer a decisão da Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que confirmou, por unanimidade, a sentença de primeira instância, que reconheceu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como notório torturador?

Com sua decisão, a magistrada revela, também, que se manteve alheia ao relatório da Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes da ditadura e apontou tanto Ustra quanto Fleury, como reconhecidos torturadores de ativistas que lutaram contra a ditadura militar.

Em tempos de condenação sem provas e indulgência a criminosos, o Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça reitera sua luta pela punição dos torturadores e sua posição de nenhuma concessão a apologistas da tortura e dos agentes de Estado que perpetraram violações aos direitos humanos.

Por tudo isso, nos somamos a todos aqueles que estão unidos para impedir esse desfile macabro, numa festa popular, que nasceu como resistência aos do andar de cima.

Fora Porão do Dops!

Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça

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  • Márcio Lima

    A anarquia que a esquerda está fazendo não agride os direitos humanos?
    Desviando verbas para seu bel prazer enquanto muitos morrem nas portas de hospitais, morrem de fome, desempregados.
    Tudo isso pode?
    É bem dizia um amigo meu do DEIC pra banndido é CACETE E BALA!!!

  • Hector Benoit (Professor Livre-Docente da Unicamp, Deptº de Filosofia)

    Todo repúdio à juíza Daniela que apoiou tal evento, deveria responder judicialmente por tal ato, e repúdio absoluto aos membros do referido Bloco.

    Hector Benoit

  • IZABEL ALVES COSTA

    Triste saber que existem seres humanos capazes de brincar com esta época tão negra da nossa história.

  • Arley R.Moreno

    Caso haja algum abaixo-assinado contra essa corja, eu assinarei em seguida!

  • rita de cassia vianna gava

    Isso é oposto do carnaval que no fim é uma brincadeira, mas maldade existe em todos os lugares até dentro das igrejas

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