PUBLICADO EM 18 de nov de 2020
COMPARTILHAR COM:

Lutar por igualdade racial, de gênero e por uma sociedade igualitária

Entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre deste ano, o desemprego da população negra cresceu em 7,4 milhões de pessoas. Já entre a população não negra o aumento foi de 2,7 milhões de pessoas.

Foto pxhere

por Marcos Aurélio Ruy

Com a proximidade do Dia Nacional da Consciência Negra – 20 de novembro –, “é fundamental salientar os avanços trazidos pelas eleições municipais deste ano no âmbito das questões raciais e de gênero”, afirma Mônica Custódio, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Ela considera pequeno o avanço, mas destaca a importância “das discussões sobre o antirracismo e sobre as questões de gênero avançarem numa sociedade onde prevalecem o racismo e o machismo com formas de se manter intacto o capitalismo”.

Segundo Mônica, “o abismo social existente no país é a base estrutural do sistema”. Para ela, o estudo Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado terça-feira (10), comprova o abismo “entre negros e brancos e entre os sexos na sociedade”. Embora, “o resultado das eleições municipais deste ano trouxe avanços importantes para a luta por igualdade”.

Veja estudo do Dieese completo.

Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Dieese aponta o racismo e o machismo estruturais no país e seus reflexos no mercado de trabalho. Entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre deste ano, o desemprego da população negra cresceu em 7,4 milhões de pessoas. Já entre a população não negra o aumento foi de 2,7 milhões de pessoas.

Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, 71% do total de pessoas que perderam o emprego eram negras. Para os homens negros, a taxa de desocupação passou de 11,8% para 14%. Enquanto para os não negros, foi de 8,5% para 9,5%. As mulheres negras continuam sofrendo mais. O desemprego passou de 17,3% para 18,2% no mesmo período.

Além desses dados, a desigualdade salarial se aprofunda. No segundo trimestre de 2020, a remuneração média do homem não negro ficou em R$ 3.484, enquanto a mulher negra teve renda média de R$ 1.573, ou 54,85% menor do que os homens não negros. O homem negro recebeu em média um salário de R$ 1.950, 44,02% a menos do que os não negros e a mulher não negra ganhou em média R$ 2.660, 23,65% a menos do que os homens não negros, 26,69% a mais do que os homens negros e 40,86% a mais do que as mulheres negras.

“Essa disparidade se mantém, mesmo com a população negra e as mulheres aumentando o grau de escolaridade e de especialização profissional”, argumenta Mônica. Porque “o racismo e o machismo estão na base estrutural da sociedade brasileira”. E, por isso, ela diz ser “essencial mobilizar a classe trabalhadora contra o racismo e a cultura do estupro para elevar o patamar do debate sobre qual tipo de sociedade queremos”.

A juventude é muito mais do que “a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”, como cantam os Engenheiros do Hawaii na canção Terra de Gigantes, de Humberto Gessinger. “Queremos mostrar a nossa cara e a nossa vontade de mudar o país para melhor”, garante Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB.

Como mostra a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), do IBGE, com 22,1% das pessoas entra 15 e 29 anos fora da escola e do mercado de trabalho em 2019. Onde 32% das jovens negras não estudam nem trabalham, índice três vezes superior aos 13,6% entre os jovens brancos.

“A pandemia tomou proporções maiores deixando a juventude ainda mais sem perspectivas de melhorias”, destaca Luiza. Para ela, “o racismo, o machismo e a LGBTfobia prejudicam profundamente a juventude” e, por isso, “para além das eleições, é preciso formular políticas públicas que atuem tanto na qualificação profissional quanto no desenvolvimento de políticas que fomentem a economia, gerem empregos e não permitam a discriminação”.

De acordo com ela, “uma das formas de fazer isso, em especial em meio à pandemia, é estimular os pequenos negócios das comunidades, tornando essa população cada vez mais ativa e participativa dos rumos da cidade”.

Além disso, “o resultado das eleições deixa claro a disposição de barrar o avanço do projeto neoliberal e a vontade de alavancar um projeto desenvolvimentista com valorização do trabalho, do mercado interno e da igualdade de oportunidades, com a recuperação da economia das cidades para conter a pandemia do coronavírus com mais investimentos no SUS (Sistema Único de Saúde) e defesa da vida”.

A SIS comprova também que a pobreza já vinha crescendo antes da pandemia. Em 2019, 11,8% das famílias viviam com ¼ do salário mínimo per capita mensal e quase 30% com ½ salário mínimo per capita. “A pandemia agravou ainda mais a situação porque as medidas tomadas privilegiaram o grande capital em detrimento dos mais pobres es, das pequenas e médias empresas e da agricultura familiar”, acentua Mônica.

Ela reforça que o país tem mais de 48 milhões de pessoas na pobreza e na extrema pobreza. Mais de 14% da população economicamente ativa está sem trabalho. As mulheres negras, pelo levantamento do IBGE, representavam, em 2019, 28,7% da população, sendo 39,8% dos extremamente pobres e 38,1% dos pobres.

“É inegável que os números apontam uma realidade onde a população negra e as mulheres precisam aumentar e qualificar a sua participação nas instâncias de decisão dos rumos do país”, argumenta Mônica.

Para isso, ela defende a ampliação do debate sobre a igualdade racial e de gênero para “horizontalizar mais esse papo” e, com isso, “elevar o nível de consciência sobre a centralidade da luta antirracista e por igualdade de gênero para a superação das desigualdades sociais num país com uma elite antinacional, racista e machista”.

Como ela afirma, “o povo brasileiro é a maior população negra da diáspora africana e segue em risco de morte”. Então “precisamos de unidade para estarmos vivos e continuarmos lutando por uma sociedade onde não haja tão poucos com tanto e muitos sem nada”.

Live cultural da CTB

Para refletir sobre a consciência negra, a CTB promove a live cultural Canto ao Almirante, em homenagem a João Cândido, conhecido como Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, em 1910, contra as chibatadas aplicadas em marinheiros negros por oficias brancos. João Cândido Felisberto nasceu em 24 de junho de 1880 e morreu em 6 de dezembro de 1969. Tornou-se um grande símbolo da luta antirracista no país. A live traz shows de Vanessa Borges e Robherval.

Fonte: CTB

Leia também:

Longo caminho para a igualdade

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS