PUBLICADO EM 13 de dez de 2022
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Luta dos ferroviários nos EUA mostra que interferir no direito de greve nunca é bom

Joe Shearer. Foto: People´s World

Por Carl Wood  (People´s World)

Sim, uma greve de trabalhadores ferroviários pode parar a economia nacional, incluindo parar o fluxo de milhões de dólares por dia em lucros das empresas ferroviárias. Mas, vamos ter em mente que são os grandes negócios – não os trabalhadores – que fizeram cair a economia da nação pelo menos três vezes na memória recente. Houve a bolha pontocom, dirigida por capitalistas de risco, em 2002. Na Grande Recessão de 2008, foi o setor de empréstimos subprime. E, esse ano, a manipulação de preços de monopólio – especialmente na indústria do petróleo – está infligindo a dor da inflação na nação. Em nenhum desses casos o Congresso agiu contra os culpados.

Nunca ficou mais claro quem a classe dominante desse país [EUA] é do que quando o Congresso e o Presidente respeitam os direitos das grandes empresas, mas são rápidos em sacrificar os dos trabalhadores.

O fato de que uma greve de sindicatos de ferroviários – ação coletiva de mais de 100.000 trabalhadores – vai impactar a economia, incluindo os lucros dos patrões, é exatamente seu poder. Não é isso sobre o que uma greve é? Ser negado o direito de greve é como ser colocado em um ringue de box e o árbitro dizer que você tem que manter suas mãos dos seus lados e não é permitido a você dar socos, mas seu oponente não tem restrições.

Essa não é a primeira vez que a indústria ferroviária usou o poder do governo contra os trabalhadores. Ferrovias são o monopólio mais velho dos EUA, voltando a mais de um século e meio, e elas ainda são cruciais para a economia. Há uma longa história de tentativas dos trabalhadores de se organizarem e de intervenções do governo.

Antes da legislação nos anos de 1920 e 1930, as formas usuais de intervenção do governo eram injunções e repressão armada por milícias estaduais, a Guarda Nacional, tropas federais, e capangas privados protegidos por todos acima. Muito disso é recontado no livro “Labor’s Untold Story”, que detalha as greves ferroviárias violentamente encerradas de 1877 e 1894.

Em 1946, e novamente em 1950, o Presidente Harry Truman editou medidas provisórias e assinou legislação de emergência derrogando o direito garantido a negociação (depois de um longo período de resfriamento) contido na Lei Trabalhista Ferroviária.

A maioria das greves ferroviárias importantes na história desse país ocorreram durante desacelerações econômicas, quando o trabalho estava em desvantagem de qualquer modo. O que é diferente sobre 2022 é que há um mercado de trabalho apertado, por uma vez criando um ambiente de negociação favorável aos trabalhadores. Isso faz a “imparcial” intervenção do governo toda mais perniciosa e intrinsecamente anti-trabalho. Não admira que as empresas ferroviárias imediatamente abraçaram o apelo de Biden por legislação antigreve, enquanto a maioria dos líderes sindicais, não.

Perigo fascista

Não obstante, é difícil descontar preocupações sobre as ramificações políticas da ruptura econômica que seriam resultado de uma greve ferroviária no cenário político de hoje, onde o fascismo é uma ameaça real.

O fascismo está agora incorporado no Partido Republicano, que representa os elementos mais extremos e perigosos do capital financeiro, alimentados por racismo, misoginia, transfobia, homofobia e antissemitismo. As forças capitalistas nessa matriz incluem petróleo e carvão, armas e indústrias prisionais, e os maiores monopólios transnacionais. Através de suas redes financeiras de bancos, capitalistas de risco, fundos de hedge, e monopólios tecnológicos, eles controlam e lucram de grandes segmentos da economia – incluindo a indústria ferroviária, a indústria mais lucrativa da nação, com uma margem de lucro de 50%.

O perigo fascista está sempre na agenda com respeito a questões eleitorais: é difícil contemplar qualquer coisa que iria fortalecer as forças do “Fazer a América Grande de Novo” no campo político. Mas, para forças na coalisão anti- “Fazer a América Grande de Novo” ficarem ao lado com as grandes corporações em questões importantes como os direitos dos trabalhadores em si, vai criar divisões nas forças antifascistas.

O problema é que a posição de Biden de negar os direitos de greve dos trabalhadores na verdade faz o perigo do fascismo maior. Porquê? Porque ela aumenta o desencanto e o cinismo da classe trabalhadora, particularmente – mas não apenas – entre os jovens.

Legisladores progressistas pró-trabalhadores, que constituem uma influência forte e crescente – mas longe de maioria – estão em uma posição difícil nisso.

Sem substituto para um contrato negociado

A proposta do Senador Bernie Sanders de adicionar sete dias de licença médica ao contrato imposto foi uma iniciativa útil, que os apoiadores dos direitos dos trabalhadores poderiam se reunir em torno. Mas ela não é substituta para um contrato negociado ratificado pelos trabalhadores afetados. A proposta de Sanders passou na Casa como uma lei separada, mas ela falhou no Senado, enquanto a legislação antigreve passou.

Há uma necessidade para parceria lúcida e inequívoca. Afinal, as alianças políticas são baseadas em questões, e nessa a classe trabalhadora tem uma questão fundamental com cancelar o direito de greve.

Nós temos que defender a classe trabalhadora. Contudo, defender a classe é mais que atacar Democratas corporativos: nós temos que continuadamente levantar a questão de construir o movimento. Se tivesse havido mais pressão na base, Biden e Pelosi nunca teriam ousado impor esse acordo, como visto por Pelosi encarar, depois que Sanders e outros pressionaram.

Ainda está na mesa o princípio fundamental que interferir com o direito de greve – seja pelas tropas, cortes, ou legislação – nunca pode ser uma opção.

Como em todos os artigos de opinião publicados pelo People’s World, esse artigo reflete a opinião de seu autor.

Carl Wood é um líder sindical aposentado e membro da Comissão de Trabalho do Partido Comunista.

Fonte: People´s World

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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