PUBLICADO EM 11 de jan de 2018
COMPARTILHAR COM:

Plágio: a prática de faturar com a criatividade alheia vai de Anitta a Bob Dylan

Nos últimos dias, duas músicas tiveram sua originalidade discutida nas redes sociais e nas publicações especializadas em música no país e no mundo. Uma deles, “Creep”, da banda inglesa Radiohead, presente no disco Pablo Honey, dos anos noventa; a outra “Vai Malandra”, com a brasileira Anita, lançada recentemente. As duas foram alvo de questionamentos que apontaram semelhanças com trechos ou mesmo canções inteiras já existentes.

Bob Dylan e Anitta

Por Fernando Rosa

No caso de “Creep”, a acusação é de plágio pela cantora Lana Del Rey na música “Get Free”, do disco “Lust for Life”, lançado em meados do ano passado. Ironicamente, o Radiohead já havia sido condenado, anos atrás, por ter plagiado “Creep” dos também ingleses The Hollies, na canção “The Air That I Breath”, dos anos setenta. Já com a Anita, internautas identificaram no riff da música “Vai Malandra” semelhança um trecho da canção “Quarto Centenário”, do sanfoneiro Mário Zan.

A atividade do plágio, ou, digamos, da adaptação ou, ainda, da versão disfarçada, na história da música e, especialmente, do rock and roll não se limita aos pequenos deslizes de artistas menores e desprovidos de talento. Como se vê, grandes mestres do gênero também não escaparam de dar o seu “golpezinho” na praça e faturar com a criatividade alheia. Entre eles, destacam-se dois Beatles – John Lennon e George Harrison –, Led Zeppelin e Bob Dylan, para falar dos principais.

O mestre Bob Dylan foi um dos primeiros a passar a mão na produção alheia sem a menor cerimônia. No início da carreira, em sua primeira passagem por Londres, por volta de 1963, ele ouviu “The Patriot Game”, com os irlandeses The Dubliners. Mr. Zimmerman gostou tanto da canção que adaptou-a para o seu terceiro álbum, The Times They Are A-Changin’, de 1964. A música ganhou o nome de “With God On Our Side”, outra letra e, claro, a sua assinatura.

Anos depois, foi a vez de Jimmy Page vingar o feito de Bob Dylan, apropriando-se de uma obscura canção do folk americano. Também de passagem por Nova York, em 1968, com seu The New Yardbirds, ele dividiu o palco com o cantor folk-psicodélico Jake Holmes. No show, Page ficou conhecendo a canção “Dazed and Confused” que, com algumas pequenas mudanças, foi gravada no primeiro álbum do Led Zeppelin, com a assinatura dele e de Robert Plant. De Page & Plant ainda tem “Stairway to Heaven”, inspirada em “Taurus”, dos californianos Spirit.

Outro famoso que bebeu na folk music foi John Lennon, mais conhecido pelo plágio de “You Can’t Catch Me”, de Chuck Berry, que virou “Come Together”, com os Beatles, e lhe custou uma condenação, que incluiu regravar a música (que ele gravou como se fosse Come Together). No início dos anos setenta, ele lançou a clássica e até hoje tocada em todos os finais de ano, a natalina “Happy Xmas”, que nada mais é do que um cover de “Stewball”. Originalmente lançada pelo trio Peter, Paul & Mary, em meados dos anos sessenta, “Stewball” é um dos hits do moderno folk americano.

Já o parceiro George Harrison também não escapou da tentação de reaproveitar belas melodias, no caso, um original das americanas The Chiffons. Talvez uma das mais descaradas versões não assumidas, a música ganhou nova letra, um pouco de incenso, e o novo nome de “My Sweet Lord”. Lançada em 1970, no álbum triplo All Things Must Pass, e também em single, a música foi uma das tocadas pelas rádios do mundo naquele momento. Também clássica é a “versão” de Rod Stewart para “Taj Mahal” que virou “Do Ya Think I’m Sexy”.

Outro plágio esperto, para terminar, mas que também acabou sendo flagrado pela história, foi patrocinado pelo grupo Deep Purple. Em um dos singles mais importantes do hard rock, o grupo incluiu a música “Black Night” junto de “Speed King”, que abria o disco Deep Purple in Rock, lançado em 1970. “Black Night”, na verdade, era uma releitura para “We Ain’t Got Nothin’ Yet”, um pequeno hit da banda americana Blues Magoos, presente no álbum Psychedelic Lollipop, seu álbum de estréia, de 1966.

Ouça no Spotify a músicas citadas: Cola Musical

Fernando Rosa é jornalista, produtor cultura, editor do portal Senhor F. e colaborador do site Rádio Peão Brasil.

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS