PUBLICADO EM 17 de abr de 2019
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Inflação acelera e Argentina tenta conter câmbio e preços

A inflação subiu mais do que previsto na Argentina em março. Dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) mostram alta mensal de 4,7% em março.

Foto: Arquivo

Logo após a divulgação do dado, o Banco Central argentino anunciou mudanças na política monetária na tentativa de conter o câmbio, que foram respaldadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). As medidas saíram um dia antes da ampliação de tabelamento de preços, que deve ser anunciada hoje.

O dado de março ficou acima do previsto pelo Banco Central argentino (3,8%) e por economistas privados (4,5%). Trata-se da taxa mais alta desde outubro de 2018, quando a inflação chegou a 5,4%.

No primeiro trimestre do ano, a inflação acumula 11,8%. Nos últimos 12 meses, a alta é de 54,7%.

Uma das principais razões por trás da taxa acima do esperado, diz Martín Kalos, da EPyCA Consultores, é o aumento de preços por produtores que buscam se proteger do novo tabelamento de preços de produtos básicos. “As tarifas públicas e a desvalorização cambial estão incidindo sobre os custos, mas o que explica a inflação de março é, sobretudo, um comportamento de curto prazo no qual os produtores estão tentando se proteger, aumentando os preços”, diz. “Vamos ver quais produtos serão anunciados hoje, mas há empresas que já estão aumentos preços de produtos da cesta básica, como o leite”.

Na segunda-feira, o presidente Mauricio Macri admitiu que o governo está com dificuldades para controlar a inflação e afirmou que março seria o pico inflacionário. Mara Ruiz Malec, do Instituto de Trabalho e Economia, diz, contudo, que em abril e maio haverá reajuste de tarifas de gás e transporte, o que deve manter a inflação alta.

“Sem grandes desvalorizações do câmbio ou reajustes além dos anunciados, a inflação de abril pode ser menor, mas ainda alta”, diz. “A verdade é que tudo é possível na Argentina, que está entrando num cenário de inércia inflacionária ao qual não sabemos como os formadores de preços reagirão.”

A crise e a alta dos preços de março se refletiram no consumo. Dados da consultoria Scentia mostram que o consumo em mercados e supermercados caiu 8,7% em março, em relação ao mesmo mês de 2018. No primeiro trimestre de 2019, a queda é de 7,3%.

Em resposta à inflação maior do que o previsto, o presidente do Banco Central da Argentina, Guido Sandleris, anunciou ontem que o BC congelará a banda cambial entre o piso de 39,75 pesos argentinos por dólar e o teto de 51,45 pesos até o fim do ano, em vez manter reajustes diários da banda.

Caso o dólar ultrapasse o teto dessa zona de não intervenção, o Banco Central poderá vender até US$ 150 milhões por dia. O BC também pode intervir se a cotação cair para abaixo do piso, mas somente depois de junho, pois Sandleris decidiu não injetar pesos na base monetária até o fim do primeiro semestre. O objetivo é reduzir a volatilidade do câmbio.

O porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gerry Rice, afirmou ontem que as mudanças da política monetária são “apropriadas” e, com elas, espera um recuo da alta dos preços. “Juntamente com a recente decisão de prolongar o crescimento zero da base monetária até novembro, essas mudanças devem ajudar a ancorar as expectativas de inflação”, disse Rice, em comunicado. “Confiamos que os esforços contínuos nessa direção ajudarão a reduzir a inflação nos próximos meses.”

Fonte: Valor Econômico

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