PUBLICADO EM 16 de mar de 2025
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Gleisi e Lula sob o falso moralismo

Não é possível considerar seriamente, diante do currículo de Gleisi e dos compromissos assumidos por esse governo, que ela tenha sido nomeada ministra com base em sua aparência física. Há aqui uma evidente distorção.

Gleisi assume ministério ao lado de Lula e com ministros

Gleisi assume Ministério ao lado de Lula, ministros e presidentes da Câmara e do Senado

“Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita”. Com poucas palavras Chico Buarque demonstra que, para além de um padrão estético ou do apelo sexual, a beleza representa um conjunto de valores atribuídos a quem aprendemos a admirar. Isso não está só na música. Está na linguagem popular. Uma pessoa muito bonita, um belo companheiro. Muito mais do que um capital, a beleza aqui é uma inspiração humanitária e até demonstração de força. Afinal, “é preciso ter graça, É preciso ter sonho sempre”.

Mas da fala do presidente Luís Inacio Lula da Silva, que disse, em meio a um discurso, que a ministra Gleisi Hoffmann é uma “mulher bonita”, a imprensa só conseguiu ver o valor de uso e o sentido perverso da beleza física, abrindo caminho para o esgoto bolsonarista proferir imundices contra a Ministra. Aí sim, fez-se o machismo.

Digo e repito: não foi com conotação sexista que o presidente se dirigiu à Gleisi. Basta ver o vídeo, ouvir seu tom, contextualizar o discurso. Está na cara que Lula não falou que a beleza da Gleisi vai ganhar a confiança dos parlamentares. E a imprensa, que sabe que está errada, distorce só para queimar o governo.

Me admira ver jornalistas que apoiaram a perseguição e o golpe contra a Dilma Rousseff, e que apoiaram e bateram palmas para os abusos da lava jato, fazendo o teatro de “indignação feminista” com o fato de o Luta ter afirmado que a Gleisi é uma bela companheira.

Senti falta de movimentos e organizações de mulheres saírem em defesa da Ministra e refutarem as matérias levianas da imprensa que atribuem um falso machismo na fala de Lula. Seria (ainda pode ser) educativo para a sociedade movimentos de mulheres, sejam eles ligados à partidos, sindicatos, ou independentes, definirem posição e se pronunciarem já que o caso está se estendendo por obra de jornalistas e dos bolsonaristas.

Neste sentido, destaco a importante iniciativa da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), que emitiu nota assinada pela Secretária da Mulher e pelo Presidente da entidade, Antonieta Dorledo de Faria e Antônio Neto, repudiando a violência machista manifestada pelo deputado Gustavo Gayer contra Gleisi. “Para piorar, o comentário foi feito em pleno Mês da Mulher, em que figuras públicas deveriam ter a responsabilidade de promover o respeito às mulheres, que ainda hoje sofrem violência física e verbal, ganham salários menores e têm sua competência profissional questionada muitas vezes apenas por serem mulheres. Em vez disso, o deputado alimenta uma cultura que gera o ciclo de desrespeito e desigualdade o qual ele teria o dever de combater”, diz a nota.

Destaco também a manifestação da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, que também divulgou nota, assinada pela Deputada e Coordenadora-Geral da Bancada Feminina, Benedita da Silva, em solidariedade à Ministra e repúdio às de Gayer , afirmando que “O caráter misógino da violência moral publicada pelo deputado na plataforma “X” precisa ser devidamente apurado e punido, tanto política como criminalmente”.

E, por fim, destaco a análise do jornalista Reinaldo Azevedo que contradisse os absurdos dos jornalões afirmando, entre outras coisas, que: “A frase não é machista quando se olha o conjunto das coisas” e “O Lula a indicou para presidir o partido em 2017 e ela ficou lá quase oito anos (…) e agora ao cargo político mais importante do governo”.

Não é possível considerar seriamente, diante do currículo de Gleisi e dos compromissos assumidos por esse governo, que ela tenha sido nomeada ministra com base em sua aparência física. Há aqui uma evidente distorção.

Uma distorção que atende a um interesse muito claro: desgastar a imagem do presidente a acuar o governo para que ele seja cada vez mais submisso ao projeto elitista, sustentado à base de manipulações e de muito falso moralismo.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

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