PUBLICADO EM 18 de nov de 2021
COMPARTILHAR COM:

Estudo americano levanta perfil eleitoral da classe trabalhadora dos EUA

Estudo feitos nos EUA mostra que eleitores da classe trabalhadora preferem candidatos da classe trabalhadora. A raça ou gênero de um candidato não é um risco entre os eleitores Democratas. Contudo, a origem de classe alta de um candidato é um grande risco. Origem de classe importa.

Foto: Pixabay

Por Jacobin

Um estudo experimental, o primeiro desse tipo, de Jacobin, YouGov e Centro para a Política da Classe Trabalhadora oferece uma nova e poderosa perspectiva nas visões políticas da classe trabalhadora.

Mais cedo esse ano, o Jacobin colaborou com o YouGov para pesquisar o comportamento de voto da classe trabalhadora nos Estados Unidos. O trabalho foi feito em conjunto com o recentemente formado Centro para a Política da Classe Trabalhadora.

Nos últimos cinco anos, uma esquerda progressista rejuvenescida se estabeleceu como uma força potente na política americana. Inspirada pela corrida presidencial do Senador Bernie Sanders, desafiadores progressistas Democratas mobilizaram doadores e voluntários em torno de uma plataforma econômica corajosamente igualitária, ganhando uma impressionante variedade de corridas locais, estaduais e congressionais. O relativo sucesso eleitoral dessa nova esquerda é uma das maiores histórias políticas do nosso momento.

E ainda, pela maior parte, esses triunfos progressistas se concentraram em distritos bem educados, relativamente de alta renda e fortemente Democratas. Mesmo quando os progressistas ganharam as primárias em áreas da classe trabalhadora, eles geralmente o fizeram sem aumentar a participação total ou conquistar novos eleitores da classe trabalhadora. E em corridas fora do terreno amigável das metrópoles de Estado azul (Democratas), os mesmos candidatos progressistas tiveram que lutar muito. No geral, os progressistas ainda não cumpriram uma promessa importante: transformar e expandir o próprio eleitorado.

Isso coloca um grande desafio a qualquer esperança por um realinhamento político nacional em termos progressistas. Eventos recentes sugerem que candidatos de esquerda podem continuar a substituir Democratas moderados em distritos urbanos demograficamente favoráveis, que podem levar a políticas mais progressistas no nível municipal ou estadual. Mas o quadro nacional é menos promissor. Simplesmente não há distritos desse tipo suficientes para ganhar o controle da Câmara dos Representantes Americana, muito menos do Senado. Para o tipo de maioria necessária para passar o “Medicare for All”, ou qualquer tipo de outros itens caros na agenda social democrata, os candidatos progressistas vão precisar ganhar em uma variedade muito maior de lugares. Até eles o fizerem, sua influência política vai continuar fortemente limitada nos níveis locais, estaduais e nacionais.

Porque os progressistas precisam da classe trabalhadora

É nosso pressuposto básico que os progressistas só podem expandir sua atração – e conquistar seus objetivos políticos – ganhando uma parcela maior de apoio dos eleitores da classe trabalhadora. Duas realidades chave sustentam esse ponto de vista.

Primeiro, a classe trabalhadora é de longe a maior parcela do eleitorado americano. Em 2020, 63% dos eleitores não tinham nível universitário e 74% dos eleitores vinham de famílias que faziam menos de $100.000 por ano. No despertar do New Deal, esses eleitores relativamente menos educados e de renda mais baixa se tornaram Democratas leais. Mas, desde a década de 1970, e mais rapidamente na última década, a classe trabalhadora se afastou do Partido Democrata. Olhando para o futuro, é difícil imaginar uma coalisão progressista vitoriosa que não reverta essa tendência e, em última análise, incorpore uma parcela muito mais ampla de eleitores da classe trabalhadora.

Segundo, a classe trabalhadora tem uma relação especial com a política progressista: é a que mais se beneficia das reformas igualitárias e redistributivas que ancoram as políticas de esquerda. Historicamente, os maiores triunfos dos progressistas americanos no Século XX – do New Deal ao Movimento dos Direitos Civis e a Grande Sociedade – foram alcançados apenas com uma base robusta de apoio da classe trabalhadora. Uma política progressista que não expanda sua força com os eleitores da classe trabalhadora hoje corre o risco de se soltar da força central que tem impulsionado reformas igualitárias através do mundo. Isso não é um problema simples com uma solução clara; de fato, as tendências correram na direção oposta por quase meio século. É um problema que demanda um estudo focado.

Especificamente, nosso trabalho pergunta três questões básicas:

  • Como os progressistas podem vencer na classe trabalhadora da América?
  • Como os progressistas podem engajar mais efetivamente eleitores da classe trabalhadora de baixa propensão em todas as linhas de raça e geografia, especialmente fora das cidades grandes?
  • Quais são as vantagens e desvantagens eleitorais dos vários tipos de plataformas e mensagens progressistas? Diferentes mensagens progressistas podem trabalhar em áreas diferentes?

Sumário executivo

Nosso estudo experimental, o primeiro do tipo, oferece uma nova e poderosa perspectiva sobre as visões políticas da classe trabalhadora. Em colaboração com a empresa de opinião pública YouGov, desenvolvemos uma pesquisa para testar como os eleitores da classe trabalhadora respondem a confrontos eleitorais frente a frente. Perguntando aos eleitores para escolher diretamente entre milhares de candidatos hipotéticos – ao invés de políticas ou slogans isolados – nós podemos desenvolver um retrato mais rico e mais realista das atitudes dos eleitores do que as pesquisas convencionais podem fornecer. E apresentando essa pesquisa para um grupo representativo de dois mil eleitores da classe trabalhadora em cinco estados decisivos – uma amostra muito maior deste grupo demográfico do que aparece na maioria das pesquisas – nós somos capazes de focar nesses eleitores em muito maior profundidade.

Os pontos principais de nossa pesquisa, listados brevemente abaixo e discutidos em maiores detalhes no relatório completo, podem informar futuras campanhas progressistas.

Alguns pontos principais

Os eleitores da classe trabalhadora preferem candidatos progressistas que focam principalmente em questões econômicas básicas, e que enquadram essas questões em termos universais. Isso é especialmente verdade fora de partes do País profundamente azuis (Democratas). Candidatos que priorizaram questões básicas (empregos, saúde, a economia) e as apresentaram em uma retórica sincera e universalista, atuaram significativamente melhor do que aqueles que tiveram outras prioridades ou usaram outra linguagem. Esse padrão geral foi até mais dramático em áreas rurais e de cidades pequenas, onde os Democratas têm lutado nos últimos anos. As mensagens de campanha progressistas populistas e baseadas em classe atraem os eleitores da classe trabalhadora, pelo menos tão bem quanto as mensagens Democratas convencionais. Candidatos que nomearam as elites como a principal causa dos problemas da América, invocaram raiva contra o status quo e celebraram a classe trabalhadora foram bem recebidos entre os eleitores desta – mesmo quando testados contra correntes mais moderadas da retórica Democrata.

Os progressistas não precisam abandonar questões de justiça social para ganhar os eleitores da classe trabalhadora, mas certa retórica focada nas pautas identitárias é um risco. Eleitores da classe trabalhadora potencialmente Democratas não se esquivam de candidatos progressistas ou candidatos que se opõe fortemente ao racismo. Mas, candidatos que enquadram essa oposição em linguagem altamente especializada e focada na identidade se saíram significativamente pior do que candidatos que abraçaram a linguagem populista ou dominante.

Os eleitores da classe trabalhadora preferem candidatos da classe trabalhadora. A raça ou gênero de um candidato não é um risco entre os eleitores Democratas. Contudo, a origem de classe alta de um candidato é um grande risco. Origem de classe importa.

Os não-eleitores da classe trabalhadora não são progressistas automaticamente. Nós encontramos poucas evidências que eleitores de baixa propensão falham em votar porque eles não veem visões suficientemente progressistas refletidas nas plataformas políticas dos candidatos convencionais.

Operários são especialmente sensíveis às mensagens dos candidatos – e respondem ainda mais agudamente às diferenças entre linguagem populista e “desperta”. Principalmente operários manuais, em comparação com principalmente trabalhadores de colarinho branco, são ainda mais atraídos por candidatos que enfatizaram as questões básicas e que evitaram retórica ativista.

Fonte: Jacobin

Tradução: Luciana Cristina Ruy

Acesse aqui o estudo original (em inglês).

Leia também:

Um novo consenso econômico global

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS