O número de mortes pela covid-19 na periferia da capital paulista, em casos suspeitos ou confirmados, cresceu, em média, 94% em 15 dias, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde divulgados hoje (4). Em sete dos 20 distritos mais pobres, o crescimento foi superior a 100%, chegando a 180% no Jardim Helena, no extremo leste. A região havia registrado 15 mortes até 17 de abril, quando foi divulgado o primeiro boletim regionalizado. No dia 30, já eram 42 mortes. Já entre os bairros ricos, o crescimento médio dos óbitos foi de 69%.
A situação é semelhante nos distritos vizinhos do Jardim Helena. A Vila Curuçá subiu de 19 para 44 mortes no período (131,6%), o Itaim Paulista foi de 21 para 46 óbitos (119%) e a Vila Jacuí, de 19 para 40 (110,5%). No extremo norte, a pior situação foi em Perus, que subiu de 13 para 30 mortes (130,8%). Já na zona sul, as piores situações foram do Jardim Ângela, que saiu de 23 para 56 mortes (143,5%) e de Parelheiros, que foi de 12 para 24 óbitos (100%).
Líderes em mortes por covid-19 na periferia, os distritos da Brasilândia e Sapopemba superaram os 100 óbitos, com aumentos de 90,7% e 98%, respectivamente. Outros seis distritos tiveram aumento de mortes superior a 70%: Iguatemi, Cidade Tiradentes, Guaianases e Lajeado, na zona leste; Grajaú, Capão Redondo e Pedreira, na zona sul. No total, os 20 distritos mais pobres chegaram a 920 mortes em 30 de abril. Em toda a cidade, eram 3.472 mortes até o dia 30 – hoje, são 3.840.
Desproporcional
Entre os 20 distritos mais ricos, nenhum chegou a 50 mortes. O maior aumento percentual foi no Butantã (167%), que subiu de 3 para 8 óbitos. Em seguida vêm Tatuapé, que foi de 18 para 36 mortes (100%), e Vila Mariana, que subiu de 23 para 46 (100%). Nenhum outro distrito entre os mais ricos superou 85% de aumento. O distrito do Morumbi, onde o primeiro caso de coronavírus foi confirmado, aumento de 7 para 11 mortes em 15 dias. No total, os distritos mais ricos acumulam 527 mortes.
O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro já destacou que o aumento das mortes por covid-19 na periferia de São Paulo é extremamente preocupante. “É a efetiva ‘periferização’ das mortes de covid-19, revelando toda vulnerabilidade da nossa população e a gravidade do quadro. Na medida em que são pessoas que vivem com piores condições sanitárias, têm estrutura habitacional muito mais frágil para poder fazer o isolamento preventivo ou quando houver casos na própria família. Não têm condições, às vezes, de acesso a produtos de higiene, material de limpeza de roupas, poder separar talheres, roupas de cama, as vezes dormem na mesma cama e, portanto, potencializa o processo de disseminação da doença”.
A situação também evidencia a desigualdade na capital paulista e expõe a falta de assistência à saúde nos bairros pobres, na avaliação do médico infectologista e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo Gerson Salvador.
Sem leitos
“A gente está vendo o número de mortos crescendo desproporcionalmente nos bairros mais pobres. Isso reflete uma iniquidade de acesso à saúde. Nas regiões periféricas tem um contingente de pessoas que dependem unicamente do Sistema Único de Saúde. A gente sabe que outras doenças de transmissão respiratória, por exemplo a tuberculose, acometem de maneira desproporcional as pessoas que vivem na rua, em cortiços e em favelas. O risco de transmissão da covid-19 em pessoas que vivem nessas condições vai ser maior. A falta de assistência e as condições de vida acabam resultando num número desproporcional de mortes na população mais pobre”, disse.
Evolução das mortes causadas por covid-19 na capital paulista
A falta de leitos de UTI na periferia foi evidenciada por um levantamento da Rede Nossa São Paulo. Apenas três distritos – Sé, Vila Mariana e Pinheiros – concentram 60% dos leitos de UTI da cidade. Outros sete distritos – Parelheiros, Cidade Ademar e Campo Limpo, na zona sul; Anhanguera e Tremembé, na zona norte; Aricanduva, na zona leste; e Lapa, na zona oeste – não possuem nenhum leito de UTI, mesmo concentrando 20% da população da cidade (2,3 milhões de pessoas).
Outros 16 distritos têm de dois a oito leitos de UTI para cada 100 mil habitantes da região para enfrentar a pandemia de coronavírus. O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde é entre 10 e 30 leitos desse tipo, para cada 100 mil habitantes.
Fonte: Rede Brasil Atual