O partido Congresso Nacional Africano (ANC) da África do Sul não considerará quaisquer exigências de possíveis parceiros de coalizão para que o presidente Cyril Ramaphosa renuncie, disse um alto funcionário no dia 02 de junho, após a eleição. Isso ocorreu após o ANC perder sua maioria de 30 anos, após um resultado contundente nas eleições de 29/05.
A África do Sul agora está mergulhada em uma série de negociações para formar um governo de coalizão nacional e manter a estabilidade. O secretário-geral do ANC, Fikile Mbalula, afirmou que o presidente Ramaphosa permanecerá como líder do partido e qualquer demanda de outros para que ele renuncie para que as conversas avancem é uma “área proibida”.
“O presidente Ramaphosa é o presidente do ANC”, disse Mbalula nos primeiros comentários públicos da liderança desde os resultados históricos das eleições. Ele afirmou: “E se você vier até nós com a exigência de que Ramaphosa vai renunciar como presidente, isso não vai acontecer.”
Mbalula insistiu que o ANC estava aberto a conversas com todos os outros partidos políticos, em um esforço para formar um governo, mas “nenhum partido político ditará termos para nós, o ANC. Eles não ditarão. Se você vier até nós com essa exigência, esqueça.”
ANC ainda é o maior partido no parlamento
O ANC recebeu pouco mais de 40% dos votos, ficando bem aquém da maioria que manteve durante toda a jovem democracia da África do Sul. No entanto, o ANC ainda será de longe o maior partido no parlamento. Está em uma aliança tripartite com o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU) e o Partido Comunista Sul-Africano (SACP).
Mbalula reconheceu que “os resultados enviam uma mensagem clara ao ANC.” Ele disse: “Queremos enviar uma mensagem ao povo da África do Sul: ‘Nós os ouvimos’.” Ele afirmou que o ANC estava comprometido em formar um governo estável, mas reconheceu os problemas econômicos que a população enfrenta.
O desemprego está em níveis recordes, pairando perto de 32%, com a juventude enfrentando taxas de desemprego superiores a 50%. A taxa de pobreza é de 62%, de acordo com o Banco Mundial, enquanto a inflação para a faixa inferior da população está em 9,3%. Falta de energia e água são características regulares da vida de muitos.
Esses são os problemas que os partidos de oposição procuraram explorar. A Aliança Democrática ficou em segundo lugar na votação, com 21% dos votos. Ela atrai seu apoio predominantemente de pessoas que falam Afrikaans, de língua inglesa e de proprietários de empresas brancos.
Jacob Zuma
O novo Partido MK, do ex-presidente Jacob Zuma, ficou em terceiro lugar com 14%. Zuma foi forçado a renunciar em 2018, devido a uma série de escândalos de corrupção. Zuma disse que Ramaphosa deve deixar a liderança do ANC e do país antes que o partido esteja disposto a entrar em negociações de coalizão com o ANC.
Os Lutadores pela Liberdade Econômica (EEF), um partido de extrema-esquerda, ficaram em quarto lugar, com pouco menos de 10%.
Antes da eleição, o secretário-geral do SACP, Solly Mapaila, alertou sobre o perigo se DA e EEF conseguissem chegar ao poder. Ele disse que o DA “representa o neocolonialismo de um tipo especial e está a serviço de regimes imperialistas,” particularmente os EUA, e alinharia as políticas internas e externas da África do Sul com os desejos de Washington.
Estado Mínimo
O SACP trabalhou arduamente para lembrar aos eleitores que o DA também deixou claro que reverteria os programas de emprego público em nome da redução do tamanho do estado, cortaria os gastos com seguridade social e aboliria iniciativas populares do ANC, como um programa de financiamento estudantil e o Black Economic Empowerment.
Mapaila destacou “certas seções do capital” como os principais motores por trás do esforço para “desbancar o ANC e, por extensão, obliterar quaisquer perspectivas de uma Revolução Nacional Democrática bem-sucedida.”
Ele argumentou que o governo do ANC deve continuar, mas que deve haver uma reafirmação da “transformação nacional-revolucionária” e um fim às políticas econômicas neoliberais, a fim de construir sobre os progressos feitos desde a queda do apartheid em 1994.
O comunista reconheceu o que chamou de “as flagrantes fraquezas” de algumas das gestões econômicas do ANC, mas o membro do Comitê Central do SACP, Buti Manamela, disse que ainda era “a única força política valiosa que promove as necessidades, interesses e aspirações da classe trabalhadora e dos pobres.”
Com informações de People´s World.
Tradução: Luciana Cristina Ruy
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