PUBLICADO EM 16 de fev de 2018
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Duprat em Construção, a conexão com a juventude dos 70

Na carreira de Chico Buarque de Hollanda não poderia faltar, em algum momento, uma parceria com o maestro Rogério Duprat. Mais conhecido pelo seu trabalho com os Mutantes e os tropicalistas – Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa -, Duprat também flertou com a MPB. Não com a MPB que fez passeata contra as guitarras, mas aquela parte um pouco mais moderna, embora nem tanto, e aberta ao mundo.

por Fernando Rosa

Duprat em 1968, 1975 e no início dos anos 2000

A parceria foi curta, e principalmente rápida, mas não poderia ser mais importante e decisiva para a carreira de Chico Buarque. Foi Duprat quem, em 1972, arranjou duas das composições mais emblemáticas de Chico, Construção e Deus lhe Pague, músicas que ampliaram sua conexão com a juventude da época. Os dois temas, com seus arranjos ousados e modernos, mais um disco em parceria com Caetano Veloso, introduziram Chico no universo pós-hippie da época.

“Eu estava no Rio e ele estava fazendo um show no Canecão. Eu estava no Rio fazendo outra coisa, gravando outro disco, não sei o que era. Eu já tinha ouvido a música Construção, não sei se em show. Interessante, pensei, é uma brincadeira com proparoxítonas. Então, eu fui direto lá, fui ouvir, estavam ensaiando no Canecão. Eu ouvi e pedi: então “me arrumem uma fita, eu vou trabalhar”, disse Duprat em entrevista publicada pela revistas Bizz e Senhor F, antes de morrer.

“Tinham pressa, já estavam começando a gravação. Aí, eu fui para a casa do meu irmão que morava no Rio e escrevi a coisa, porque eu não podia ficar no Rio, tinha que voltar para São Paulo, e deixei na mão do Barembein, ou de alguém lá”, disse ainda Duprat. O arranjo foi feito de um dia para o outro, segundo o maestro. “A parte dele estava pronta, com o MPB4. Mas também foi a única coisa que eu fiz com o Chico. Depois, ele viajou também … Foi pra Itália. Perdi o contato”.

Apesar disso, a relação de Duprat com Chico, bem como com outros músicos da MPB não eram tão cordiais, pelo menos até aquele ano. “Foi a mesma coisa, o que aconteceu com o pessoal da música erudita em relação à música atonal em geral. Foi a mesma coisa que aconteceu também com os caras da MPB, que jamais nos perdoaram. Eu não tenho nada contra esses caras, mas o fato é que o próprio Chico queria distância, não se comprometia, não queria nada com a gente”.

Ouça aqui o álbum Construção

Fernando Rosa é jornalista, produtor cultura, editor do portal Senhor F. e colaborador do site Rádio Peão Brasil.

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