
Zohran Mamdani, o novo prefeito de Nova York, marca a história como o primeiro muçulmano a assumir o cargo.
O democrata Zohran Mamdani, de 34 anos, foi eleito prefeito de Nova York nesta terça-feira (4), segundo projeções da imprensa americana. A vitória representa um marco na história da cidade — ele é o primeiro muçulmano e o prefeito mais jovem desde o século 19 a assumir o comando da maior metrópole dos Estados Unidos.
Com 90% das urnas apuradas, Mamdani obteve 50,4% dos votos, superando o ex-governador Andrew Cuomo, que ficou com 41,6%, e o republicano Curtis Sliwa, com 7,1%. Diante dessa diferença, a Associated Press confirmou a vitória do democrata.
Derrota para Trump e recado político
O resultado é também uma derrota para o presidente Donald Trump, que tentou interferir diretamente na eleição, conclamando o voto contra o candidato democrata e ameaçando cortar verbas federais caso Mamdani fosse eleito.
Em seu discurso da vitória, o novo prefeito enviou uma resposta direta ao republicano:
“Se tem alguém que pode mostrar para uma nação traída por Trump como o derrotar, esse alguém é a cidade que o criou: Nova York.”
Programa popular e foco social
Mamdani, que se declara socialista, conquistou eleitores com uma plataforma voltada à redução do custo de vida e à expansão dos serviços públicos gratuitos. Suas principais propostas incluem:
- Congelar o valor dos aluguéis para cerca de 1 milhão de pessoas — em uma cidade onde o preço médio do aluguel chega a R$ 20 mil mensais;
- Criar creches públicas e ampliar o acesso à educação infantil;
- Implantar supermercados financiados pelo governo, com preços mais baixos.
Segundo matéria publicada no site People´s World, assinada por Mark Gruenberg , John Wojcik e CJ Atkins:
“O grande destaque da vitória de Mamdani foi a forma como ele mobilizou os nova-iorquinos, especialmente os eleitores mais jovens. Cerca de 78% dos eleitores com menos de 30 anos votaram nele. No dia da eleição, ele contava com um exército de voluntários de mais de 100 mil pessoas, muitas delas membros do sindicato United Auto Workers, com fortes contingentes nos campi universitários da cidade. A campanha informou ter batido em mais de três milhões de portas”.
Sindicatos
Em seu discurso após a vitória, Mamdani mandou uma mensagem para os democratas que se esquivam das realidades da luta de classes e acabam cedendo aos argumentos da direita quando se trata da economia e da incapacidade dos trabalhadores de sobreviver.
“Muitos jovens não se reconhecem em nosso partido, e muitos trabalhadores se voltaram para a direita em busca de respostas para o motivo de terem sido deixados para trás”, explicou ele.
“Vamos acabar com a cultura da corrupção. Estaremos ao lado dos sindicatos porque os trabalhadores sabem que, quando os trabalhadores têm direitos, os patrões que tentam explorá-los se tornam insignificantes… E ao Presidente Trump, eu digo: ‘Para atingir qualquer um de nós, terá que passar por todos nós!’”, acrescentou.
Origens e trajetória
Nascido em Uganda, na África Oriental, filho de mãe indiana e pai ugandês, Mamdani mudou-se para os Estados Unidos ainda criança. Formado e politicamente ativo no estado de Nova York, foi eleito deputado estadual em 2021.
Sua trajetória combina ativismo social, defesa dos imigrantes e apoio à causa palestina. Ele ganhou projeção nacional ao criticar os ataques de Israel à Faixa de Gaza e ao denunciar o racismo estrutural nos Estados Unidos — embora tenha enfrentado polêmicas por declarações antigas sobre a polícia nova-iorquina, pelas quais se retratou durante a campanha.
Resistência no Partido Democrata
A campanha de Mamdani foi marcada por reviravoltas, com vitórias tanto em bairros nobres quanto em regiões de imigrantes e trabalhadores. Carismático e engajado nas redes sociais, especialmente no TikTok, o democrata mobilizou uma base jovem e progressista.
No entanto, enfrentou resistência dentro do próprio Partido Democrata. Setores mais tradicionais consideram seu discurso “muito à esquerda”. Mesmo assim, recebeu discretos sinais de apoio: o ex-presidente Barack Obama não declarou apoio público, mas telefonou para o candidato dias antes da eleição para elogiar sua campanha.
Ainda segundo o People´s World: “Durante as primárias, muitos dos principais democratas apoiaram ou o ex-governador Andrew Cuomo, envolvido em escândalos, ou o atual prefeito Eric Adams, que enfrenta acusações de corrupção e busca proximidade com Donald Trump“. Isso porque:
“Infelizmente, muitos dos principais democratas não conseguem aceitar um socialista assumido em suas fileiras. Para deixar claro: o Partido Democrata, em sua essência, continua sendo profundamente capitalista e imperialista, que representa os setores mais liberais da classe dominante”.
Um novo capítulo para Nova York
Mamdani assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2026, com o desafio de governar uma cidade de 8,4 milhões de habitantes, marcada pela desigualdade e pelo alto custo de vida.
Sua eleição simboliza uma mudança geracional e política em Nova York, que é governada pelo Partido Democrata desde 2014 — e sinaliza um movimento de renovação dentro da esquerda americana, em meio às tensões entre o progressismo emergente e o establishment partidário.
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