PUBLICADO EM 10 de set de 2020
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Cuidar dos invisíveis para fazer brotar o amor na poesia que pode curar

Belchior, cantor e compositor. Foto: PAULO SALOMAO

Por Marcos Aurélio Ruy

O momento é duro. Exige muita perseverança. Mas a música popular brasileira jamais perde a esperança. Nesta seleção a força poética e melódica da paulista Ana Cañas ao cearense Belchior (1946-2017). Mais uma vez o Nordeste presente com o pernambucano Targino Gondim e o grupo BaianaSystem e uma aparição da música brega com um de seus grandes representantes, o goiano Odair José e o trabalho do Movimento Artigo Quinto, de São Paulo.

Ana Cañas

A cantora e compositora Ana Cañas é destaque certo no desfile das boas músicas populares do Brasil. Tanto nas melodias com mistura de rock, MPB, rap com nas poesias políticas. É preciso prestar atenção a seu canto sempre vislumbrando possibilidades de um futuro melhor.

“Acredito no amor

Na lâmina da vida

Na beleza dos rolê

Na luz

Na luz, na poesia

No bem sem ver a quem

Na vereda louca da esquina

E ainda que nem sempre

Dos homens

Na justiça

Na beleza das cores

Na liberdade das crenças

A alma desconhece

As diferenças”

 

Todax (2018), de Ana Cañas e Sombra

Targino Gondim

Para quem ainda não sabia, a canção “Esperando na Janela”, sucesso na voz de Gilberto Gil, é de autoria do pernambucano Targino Gondim em parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeon.

Gondim é um cantor, compositor e instrumentista com bastante sucesso no Nordeste, mas pouco conhecido no Sul e Sudeste. Seu repertório é feito de canções juninas, forró, baião e outros gêneros do Nordeste.

“Ela viu quem nunca foi visto

Cuidou de quem não foi cuidado

Toda a sua vida entregou

Por amor a Deus e aos irmãos

Tudo o que ela viveu

Tantos pobres que ela ergueu

No meio da noite, na rua

É o Evangelho da vida”

 

Santa Dulce dos Pobres (2019), de Roberto Malvezzi e Targino Gondim

Odair José

O goiano Odair José, cantor e compositor de música brega teve mito sucesso nos anos 1970/80. Em “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” ele canta o amor por uma prostituta – dita como a profissão mais antiga do mundo. Dedicou esta música a Luiz Inácio Lula da Silva, quando o ex-presidente se encontrava preso pela operação Lava Jato.

Eu Vou Tirar Você Desse Lugar (1972), de Odair José

Belchior

O cearense Belchior (1946-2017) é um dos grandes talentos da música popular brasileira. Muito influenciado pelos Beatles e sons regionais. Belchior encarnou como poucos a alma de um povo.

“Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve

Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve

Sons, palavras, são navalhas

E eu não posso cantar como convém

Sem querer ferir ninguém”

 

Apenas um Rapaz Latino-americano (1976), de Belchior

Movimento Artigo Quinto

“O Movimento Artigo Quinto foi criado por um grupo de artistas brasileiros em defesa da liberdade de expressão e contra qualquer ameaça de volta à censura no Brasil. É um movimento coletivo espontâneo e suprapartidário do qual participam cineastas, atores, grupos artísticos, diretores, escritores, profissionais da moda, gestores culturais, jornalistas e advogados de todo o país que trabalham voluntariamente pelo respeito à Constituição Brasileira”, afirmam os organizadores.

O “Samba do Artigo Quinto” é praticamente um hino à liberdade nestes tempos sombrios, de constantes ameaças à liberdade e à vida.

“Fui dormir cantando prosa

Acordei sem minha língua

Não se cala o que é certo

Não se esconde o que é belo

 

Seu eu não calo a tua voz,

por que tu calas a minha?

Seu eu não calo a tua voz,

por que tu calas a minha?

 

Minha palavra não quer censura

pois toda poesia cura”

 

Samba do Artigo Quinto (2020), de Fernando Maia e Newton Moreno

BaianaSystem

Encerrando a seleção musical com o grupo BaianaSystem, que desde 2009 apresenta um trabalho voltado à busca de inovação com o som da chamada “guitarra baiana”, responsável pela criação do trio elétrico nos anos 1940. Misturam sons regionais com o ritmo jamaicano reggae, MPB, rap e rock.

“Cada palavra que tu guarda na boca vira baba

Filosofia eu adquiro lendo Gandhi e Sai-Babba

Ragga eu ouço Shabba, no sertão, Luiz Gonzaga

Peleja tá dobrada

aqui se faz, aqui se paga

 

Você já passou por mim

E nem olhou pra mim

Você já passou por mim

E nem olhou pra mim”

 

Invisível (2017), de Filipe Cartaxo, Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass

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