PUBLICADO EM 24 de dez de 2017
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Como Charles Dickens criou o espírito do Natal

THE MAN WHO INVENTED CHRISTMAS, Dan Stevens, como Charles Dickens, Christopher Plummer, como Ebenezer Scrooge, 2017. Kerry Brown /© Bleecker Street Media /Courtesy Everett Collection

Adaptado do livro homônimo de Les Standiford, o filme, ainda não lançado no Brasil, The Man Who Invented Christmas, conta como Charles Dickens resgatou sua carreira e criou o “espírito natalino” ao escrever o famoso Um Conto de Natal.

Antes de publicar o Conto, em 19 de dezembro de 1843, com seu próprio dinheiro, já que os editores recusaram, Dickens, que também é autor de Oliver Twist, vislumbrava o fim de sua carreira, uma vez que o autor vinha colecionando fracassos.

Naquela época, com o crescimento do Puritanismo na Inglaterra, havia uma repressão ao feriado e ao comportamento associado a ele. Apenas em áreas isoladas do interior – incluindo a área rural onde Dickens passava com sua família os dias 25 de dezembro com frio e neve, a celebração do Natal ainda encontrava algum eco. No entanto, a Páscoa era o principal feriado religioso, e o Dia do Encaixotamento o principal feriado de inverno na Grã-Bretanha.

O Natal era um feriado qualquer quando Dickens mostrou o Conto para seus editores e, por isso, eles não imaginavam por que alguém poderia se interessar por aquilo. Mas o autor viu no fato de o príncipe alemão Albert, recém-casado com a rainha Victória, ter trazido a árvore natalina para a Inglaterra, um sinal que aquela celebração poderia se infiltrar na consciência popular.

E, de fato, a publicação de Um Conto de Natal foi recebida com um entusiasmo tão grande que ultrapassou as fronteiras da Grã-Bretanha, chegando aos Estados Unidos.

Dickens chegou a realizar uma turnê na América, no início da década de 1840, que é mencionada em O Homem que Inventou o Natal. Segundo Standiford (o autor do livro que inspirou o filme) disse à revista Time “ele estava muito entusiasmado com esta turnê, pois sabia que tinha milhares de leitores americanos e o apetite pelos seus livros estava muito vívido”. No entanto a viagem foi um fracasso. O que não o impediu de voltar no final da década de 1860, conseguindo o almejado sucesso.

Embora o filme reflita com precisão o modo como o romance de Dickens ajudou a reviver a celebração do Natal, ele romanceia situações para dar dramaticidade à história. Por exemplo, Tara, a babá das crianças de Dickens, é uma personagem inteiramente ficcional, introduzida para “lembrar Dickens de suas responsabilidades no mundo”, conforme disse à Times a atriz e escritora canadense Susan Coyne, que adaptou o livro para a tela grande. Além disso, a relação conturbada com o aparentemente incorrigível pai, não está totalmente comprovada. “Eu acho que Dickens fez as pazes com seu pai”, disse Standiford.

O que é certo, e surpreendente, é que ele realmente via seus personagens como seres humanos totalmente formados – como é visto no filme com suas criações como Scrooge (representado por Christopher Plummer) e Tiny Tim. O escritor conversa com seus personagens, que aparecem para ele como fantasmas de Natal e os ajudam em seu bloqueio de escritor. “Através da minha pesquisa aprendi que ele costumava falar sobre seus personagens, que ele chamava ‘os filhos de sua fantasia’”, disse Coyne. “Mesmo quando ele não estava trabalhando, ele os sentia puxando suas mangas dizendo que era hora de voltar para o trabalho”.

Les Standiford disse à Time que “Dickens não tinha noção do que a festa se tornaria hoje, mas ele claramente previa algo”. Algo que o filme revela: como a publicação e o sucesso de Um Conto de Natal Dickens mudou o modo como o Natal é celebrado.

Folha de rosto da edição original de Um Conto de Natal

Sobre Um Conto de Natal

Com ilustrações de John Leech, Um Conto de Natal foi escrito em menos de um mês e tornou-se um dos maiores clássicos natalinos de todos os tempos e uma das mais célebres obras de Dickens.

Ele conta a história de Ebenezer Scrooge, um homem avarento que abomina o Natal. Scrooge trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, o seu pobre, mas feliz empregado, pai de quatro filhos.

Até que, na véspera de Natal Scrooge recebe a visita do seu ex-sócio Jacob Marley, morto há exatamente sete anos. Marley revela que o seu espírito não pode descansar em paz, já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma chance, e que três espíritos o visitarão.

O primeiro tem uma luz que emana da sua cabeça e um apagador de velas debaixo do braço à guisa de chapéu. É o Espírito dos Natais Passados, que transporta Scrooge de volta à adolescência e ao início da vida adulta, quando ainda amava o Natal. Triste com as lembranças, Scrooge enfia o chapéu na cabeça do espírito, ocultando a luz. O espírito desaparece deixando Scrooge de volta ao seu quarto.

O segundo, um gigante risonho com uma coroa de azevinho e uma tocha na mão mostra a Scrooge as celebrações do presente, incluindo a humilde comemoração natalícia dos Cratchit, onde vê que, apesar de pobre, a família do seu empregado é muito feliz e unida. No fim da visita o espírito revela sob o seu manto duas crianças de caras terríveis, a Ignorância e a Miséria, e pede que os homens tenham cuidado com elas. Depois disso vai-se embora.

O terceiro espírito, o dos Natais Futuros, apresenta-se como uma figura alta envolta num traje negro que oculta o seu rosto, deixando apenas uma mão aparente. O espírito não diz nada, mas aponta, e mostra a Scrooge a sua morte solitária, sem amigos.

Após a visita dos três espíritos, Scrooge amanhece como um outro homem. Passa a amar o espírito de Natal, e a ser generoso com os que precisam, e a ajudar o seu empregado Bob Cratchit.

Dirigido por Bharat Nalluri, lançamento: 22 de novembro de 2017 (EUA)

Fonte:  Time

Tradução: Luciana Cristina Ruy

Assista o trailer do filme:

 

 

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