Em seu artigo “Organizar as lutas”, desta sexta, 7, na Folha de São Paulo, o professor de filosofia, Vladimir Saflate, fala que vivemos “um esgotamento profundo dos modos de organização das lutas e das mobilizações”.
Segundo ele, partidos, sindicatos e associações diversas “mostraram não estar à altura das formas de emergência que a sociedade contemporânea conheceu nos últimos tempos”. Cita a Primavera Árabe e o Junho de 2013, no Brasil, como exemplos do novo tipo de organização que, segundo ele são “explosões de descontentamento econômico, social e político sem organização definida, que começam como uma centelha e rapidamente se propagam”. Ele diz ainda que “a grande maioria das intervenções da esquerda foi reativa, dirigista e sem capacidade de criação de implicações genéricas”, que “a esquerda se deixou configurar como força reativa, incapaz de pôr pautas”.
Saflate é um ótimo articulista. Seus artigos, em geral, me abrem novas visões sobre o difícil convívio humano, construído historicamente e organizado no que chamamos de sociedade. Não compactuo, entretanto, com sua visão catastrofista sobre a esquerda e os movimentos sociais. Talvez ele esteja ainda muito assustado com a vitória de Jair Bolsonaro. Mas, lembremos que antes do golpe militar de 1964 o Brasil vivia também um período de grande efervescência progressista. E que, naquela época, os reacionários também se levantaram empunhando pautas esdrúxulas, em eventos esdrúxulos como a Marcha da Família com Deus Pela Liberdade. A esquerda, apesar dos vinte e um anos de massacre que viveu a partir de então, sobreviveu, aprendeu, resistiu, se organizou e se reergueu. Assim como na ditadura do Estado Novo, de 1937 a 1945, e como no governo de Eurico Gaspar Dutra, entre 1946 e 1950.
Penso que Saflate erra em achar que a história é uma linha reta de progressão evolutiva. E erra em tratar a esquerda como uma entidade fora da realidade. Não é verdade que a esquerda se deixou configurar como força reativa, incapaz de pôr pautas. A Agenda Prioritária_Classe Trabalhadora_2018, por exemplo, é um conjunto de propostas elaboradas pelo movimento sindical. Além disso, não devemos temer as “explosões de descontentamento”, mas sim usar a experiencia em organização e dialogo para lidar com elas. Grandes manifestações facilitadas pelas redes sociais, são também um exercício democrático. São o despertar de uma população que se habituou a ser marginalizada pela grande política. Mas sem nenhum canal de diálogo, sem proposições claras, elas não passam de meros exercícios, quando não descambam para meras gritarias coletivas transformando-se facilmente em massa de manobra para a velha política.
Ao que tudo indica viveremos um período de grandes embates sociais. Sindicalistas, estudantes, políticos e ativistas em geral terão um grande papel e deverão lançar mão de suas experiencias em organizar, reagir e também em propor ações.
Carolina Maria Ruy, jornalista, coordenadora do Centro de Memória Sindical
Moacir José Effting
Parabéns Carolina uma linha de raciocínio muito boa, os movimentos sociais são e foram o equilíbrio na sociedade mas diante ao avanço das mídias digitais os debates se tornaram mais acessível a grande Sociedade.
Com certeza os Dirigentes Sindicais vamos dar um novo rumo a classe trabalhadora deste País.