Trabalho decente, Gil e Caetano, calor extremo, fim de tarde, ruas poluídas, bermuda e chinelo, juventude. A cena à porta de um estabelecimento do McDonald’s traduzia em quase trágica perfeição aquilo que a versão mais feroz e selvagem do ‘capetalismo’ contemporâneo legou ao povo, especialmente aos jovens que lutam pela sobrevivência longe do encanto enganoso e fatídico do crime (sim, pesquisas já mostram que o crime organizado se tornou um dos maiores empregadores entre a juventude de periferia nas metrópoles brasileiras).
A imagem imediatamente me lembrou da dura canção de Gilberto Gil e Caetano Veloso. “Quase todos pretos” não é sina, nem desmeritocracia, é colonialismo – escravização, monopólio, concentração – em roupagens urbano-tropicais. O racismo estrutural torna ainda mais perversa “a face do destruidor”. Condenados aos grilhões da miséria salarial, brutalidades por jornadas infinitas, sequer um assento para o descanso (“somente morto eu descanso”?), nenhuma proteção física, quiçá laboral ou trabalhistas. E “quase todos pretos”, homens-meninos em sua maioria. Todos muito pobres.
No mundo encantado dos coaches da fé pútrida de Mercado, mercancia-se a vida-trabalho a baixo soldo e vil metal. São milhares, são milhões, a necessidade é a mãe e o pai dessa subordinação forçosa e violenta. Trabalho Decente? Esse conceito virava prática, se “comunizava” nos melhores momentos e conjunturas do Governo Democrático e Popular em sua primeira experiência. Pleno emprego, plenos direitos, plenos salários, tudo apontava para uma nova realidade de verdadeira transformação social. Mas havia pedra no meio do caminho, a bem dos fatos, haviam muitas pedras nessa “trilha estreita em meio à selva triste”.
A desestabilização, o Golpe, as contrarreformas, a perseguição política, a incitação ao ódio, mentiras e violência, enfim, o esmagamento das liberdades é da própria democracia, foram o caldo onde engrossou esse angu indigesto. Formidável: “voltamos a viver como há dez anos atrás”, na verdade, muitos e muitos anos, talvez séculos. O trabalho assalariado – vulgar e vulnerável – faz hoje o operário custar menos que a mão de obra escravizada. E, tal como a fotografia mental que me fixou na retina, é triste e revoltante (“mas eu não sou as coisas e me revolto”) ver o que se vê e o que não se quer ver. Aqueles jovens, tal qual condenação perpétua do sistema, todos muito pobres, quase todos pretos…
Pelo fim da escala 6×1
Jornada 5×2 com redução das horas trabalhadas
Trabalho Decente: Carteira Assinada, Direitos Sociais e Valorização do Trabalho
Vamos às lutas!!!
Alex Saratt é o 1° vice-presidente do Cpers, Secretário Adjunto da CNTE e Diretor de Comunicação da CTB RS