PUBLICADO EM 25 de set de 2024
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Colunista: Airton dos Santos

Porque o Brasil está crescendo; por Airton dos Santos

As previsões do mercado financeiro sobre a economia não têm dado certo, estão falhando. Subestimam o crescimento econômico e superestimam o aumento da inflação. Já falamos sobre isso, mas é sempre bom lembrar que, por de trás dessas previsões pessimistas há grandes interesses, que tem a ver com dinheiro.

Semana passada, alguns comentaristas econômicos, até de boa formação, mas muito dependentes do que dizem os profissionais dos grandes bancos, escreveram em seus jornais ou falaram em suas emissoras de TV ou rádio, que não sabiam o porquê do crescimento da economia. Referiam-se, mais exatamente a este ano.

Previam, para 2024, um crescimento de, no máximo, 2,5%. Alguns ainda eram mais pessimistas, e falavam em 2,1%. A realidade vem mostrando, no entanto, que o PIB deve elevar-se em 3,0% ou mais. Pois é, erraram novamente. A inflação não deve furar o teto da meta (4,5%), mais um engano.

A resposta à indagação de o porquê a economia está crescendo além das expectativas dos sabichões das finanças não é complicada. Cresce porque aumentou a renda dos pobres. As políticas públicas, especialmente na área social e implementadas nos últimos anos, têm provocado um aquecimento no mercado de alimentos e de produtos populares, que se espalha por toda a economia.

A volta da política de valorização do Salário Mínimo, que repercute nas aposentadorias e benefícios da Previdência Social, a extinção da ‘fila do INSS”, com a solução dos vários problemas que por lá se represavam, inclusive concessões de novas aposentadorias, benefícios, pagamentos do BPC etc., já deram um primeiro estímulo a economia. Essas pessoas tiveram suas rendas aumentadas e, agora com mais dinheiro nas mãos, aumentaram seu consumo.

Esse empurrão inicial repercutiu no mercado de trabalho, que se aqueceu, com o aumento do emprego, tanto o formal quanto o informal. A economia entrou no que se chama de ‘ciclo virtuoso’ de crescimento. Com o retorno da dinâmica econômica e aumento do emprego, os salários voltaram a crescer, levando o salário médio dos trabalhadores a valores superiores aos que vinham sendo praticados. Quanto aos lucros, sim, também aumentaram.

A exemplo dos salários, o aumento dos lucros é extremamente importante, uma vez que ele estimula as empresas a aumentarem a produção. Quanto maior o lucro, maior o estímulo e mesmo a necessidade de fazer crescer a produção e, para isso, no curto prazo, aumentam o emprego e, nos médio e longo prazos, precisam elevar o investimento, o que é uma garantia de maior emprego, renda e produção futuros. É dessa forma que a economia entra no caminho do crescimento econômico sustentado.

Essa lógica econômica vemos na prática, mas também está presente na teoria econômica. Na prática, é o que estamos assistindo e o que os trabalhadores sempre reivindicavam e argumentavam nas mesas de negociação com os patrões: salários maiores, maior consumo e maior lucro. Afinal, a economia é uma grande roda que deve girar incessantemente.

A teoria econômica, por seu lado, confirma e endossa essa concepção de ‘ciclo virtuoso’. Existem dois princípios básicos da teoria que sustentam esse ponto de vista. O primeiro é o ‘efeito multiplicador’, em que um estímulo inicial perpassa a economia e vai se multiplicando nos vários setores produtivos. O empurrão inicial pode ser dado, tanto pela iniciativa privada, através dos investimentos, quanto pelo governo, quando faz políticas públicas que aumentam a renda das pessoas.

O outro princípio tem a ver o aumento da renda dos estratos sociais mais carentes. O acréscimo de ganhos para essa população é injetado imediatamente no consumo, estimulando, em primeiro lugar o comércio e os serviços e, logo em seguida, a indústria e, mais tarde, o setor financeiro.

A repercussão para a economia do aumento de renda para os já abastados e aumento de renda para os mais carentes é muito diferente. Os mais abastados, como o nome diz, já estão abastecidos, o aumento do consumo em relação ao aumento de renda é muito pouco, uma vez que já estão bem providos. Enquanto isso, os pobres precisam de tudo, têm carência de muitas coisas, desde os bens necessários para sua sobrevivência e de seus familiares. Então, quando têm mais dinheiro em mãos, vão desejar, imediatamente, adquirir os vários produtos de que necessitam, gastando imediatamente a renda, e fazendo girar com mais rapidez a roda da economia.

É por isso que o Brasil está crescendo.

Airton dos Santos, Economista – Subseção do Dieese no Sindnapi

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